segunda-feira, 19 de maio de 2008

Memória das Minhas Putas Tristes - Gabiel Garcia Marquez


Não sei qual foi a intenção de Garcia Marquez ao escrever este conto, no entanto e longe de ter ido investigar se houve alguma intenção do escritor, não deixarei de tecer algumas considerações sobre este pequeno livro que é algo polémico.

Era uma vez um velho jornalista que, por ocasião dos seus 90 anos, pretende comemorar essa efeméride indo para a cama com uma virgem.

Homem vivido, tendo e até aos 40 anos tantas mulheres que lhe perdeu a conta na 5ª centena, mulheres a que sempre pagou para ter sexo, este homem pretende provar a si mesmo que, mesmo com esta idade, ainda aí está para as curvas, embora o seu aspecto não engane a idade que tem.

Contactando uma velha amiga dona de um bordel que ele muito frequentou, ele solicita uma virgem para essa noite de modo a satisfazer-lhe esse capricho. Curiosa a resposta dela: ”ai, meu sábio triste, desapareces vinte anos e só voltas para pedir impossíveis.”, a veia irónica de Marquez.

No entanto essa velha amiga lá lhe consegue arranjar uma jovem de 14 anos, combinando a hora e por onde ele deveria entrar sem ser visto no bordel.

Aí chegado, muito nervoso, depara-se com uma criança nua a dormir. Deita-se, também nu, junto da rapariga e acaba por adormecer.

A partir dessa noite uma estranha relação se inicia entre o personagem narrador e essa menina a quem ele chama de Delgadina, pois os encontros sucedem-se, mas nunca acontece nada. Ela está sempre a dormir e ele limita-se a acariciá-la e a adormecer ao pé dela. No entanto este estranho cenário tem o condão de fazer crescer nele afecto. Afecto que ele nunca sentiu por nenhuma mulher, limitava-se sempre a encontros sexuais. Neste caso, e com 90 anos, acaba por descobrir o amor.

Penso que Garcia Marquez tenta abordar duas questões:

A sensibilidade e sexualidade na velhice e, e isso foi o que me pareceu, uma outra perspectiva sobre a sexualidade na infância, ou se quisermos, uma perspectiva sobre o amadurecimento humano, até aonde vai a criança e onde começa o adulto. Atenção, pareceu-me. Penso mesmo que Marquez aflora a temática pedofília, no entanto e como eles nunca têm relações sexuais, não poderei afirmar que essa tenha sido a intenção dele. Assim, que sentido faz os dois principais personagens terem 90 anos e 14? Saliento que para além nunca haver nada entre eles, Delgadina encontra-se sempre em estado adormecido, ele apenas afaga, no entanto e perto do fim, é claro que o amor é reciproco.

Depois a sexualidade na velhice. O homem tem 90 anos, mas sente-se jovem por dentro. Aparentemente, e ele nunca é claro nesse sentido, o instrumento ainda funciona e mais, acaba de descobrir o amor.

Sei que o livro foi e será polémico e propício a várias interpretações. No entanto Marquez descreve algo que é muito normal em todo o mundo: desde sempre que os homens vão às “putas”, simplesmente para ter sexo, há então homens que a única forma de terem sexo é recorrer a essas mulheres.

Agora a relação com a menina de 14 é que me deixou pensativo sobre a intenção de Marquez, qual o objectivo dele?

É um conto bonito sobre o amor e a alegria de viver.

O narrador, sábio pela experiência de vida, desfila recordações da sua vida em diversas idades, tudo servindo para abarcar a possível evolução da sociedade corroída por preconceitos e vícios antigos. No entanto e é precisamente através dessas lembranças que o narrador se apercebe, embora conheça muito do mundo e das mulheres, que jamais conheceu o amor.

Sobre a escrita, enfim, Garcia Marquez não é dos meus escritores predilectos, mas tenho que admitir, ele escreve muito bem, há partes no texto que parecem poesia.

domingo, 11 de maio de 2008

Jack, o Estripador - Patricia Cornwell


O dia 6 de Agosto de 1888 era feriado oficial em Londres. A cidade entregava-se a festejos em que as pessoas podiam fazer coisas extraordinárias por pouco dinheiro, se pudessem, é evidente, dispor de algum”.

É assim que começa este ensaio de Patricia Cornewll. Situa-nos logo na época do seu estudo, num dia de festa onde o assassino mais famoso de todos os tempos se preparava para iniciar a sua longa carreira, pelo menos na opinião de Cornwell.

Quem foi esse assassino que matava de uma forma animalesca e ainda se dava ao luxo de enviar cartas à polícia a gozar com o facto de não ser apanhado?

Patricia Cornwell começa por traçar, de acordo com a ciência actual, o retrato psicológico de “Jack, o Estripador”, acabando por apontar explicitamente um nome, fazendo então uma exaustiva análise à sua vida, dando-nos, e isso para mim foi a mais valia do livro, uma visão clara do modo de vida, de agir, pensamento e costumes daquele tempos, sobretudo efectua uma descrição pura e dura da pobreza daquele local de Londres e não se cansa de focar o pouco profissionalismo dos detectives que investigaram os crimes, no entanto, não se pense que os detectives não descobriram o assassino porque eram incompetentes, o caso é que, para além da ciência forense estar pouco ou nada desenvolvida, houve provas que não foram tidas como tal (por exemplo as roupas das vítimas eram mandadas fora ou dadas a outros pobres; os corpos eram lavados antes de serem vistos, etc), que fizeram com que “Jack” nunca fosse apanhado.

Mas Patricia Cornwell desde o início afirma, sem ter dúvidas, que “Jack, o Estripador” foi pintor Walter Richard Sickert, nascido em 1860 e falecido em 1942.

E desde o início do livro ela começa a expor a sua teoria, teoria essa sobretudo assente em variadíssimos factos que muitos podem considerar coincidências.

Pegando nas provas que resistiram até aos nossos dias, e Cornwell foca por variadas vezes a enormidade de provas que desapareceram, ela começa a construir uma teia envolvendo o personagem Sickert, analisando a sua vida, onde ele estava nos dias dos crimes, os seus hábitos, as cartas que ele escrevia, os seus relacionamentos, enfim, ela “descasca” completamente a vida de Walter Sickert, fazendo-nos realmente crer que foi ele o psicopata que aterrorizou o East End em finais da década de 80 do séc. XIX.

Passe isso, o que não é pouco, que de facto achei muito interessante mas que, quanto a mim nada consegue provar pois ela apenas joga com suposições intercaladas com opiniões pessoais e situações imaginadas. Este livro deu-me uma outra perspectiva desse assassino. Primeiro desconhecia que tivesse havido mais, muito mais crimes que os que oficialmente consta. Ou seja, até à data sempre li que a primeira vítima havia sido Mary Anne Nichols e a última, num total de seis, Mary Kelly, dois meses depois.

No entanto e tal como eu sempre havia desconfiado, Cornwell aborda outros crimes que, devido às cartas e ao modus-operandus, tudo aponta para que tivessem sido cometidos por Jack.

Será?

Certamente nunca o saberemos, mas o facto é que a autora apresenta dados concretos e muito curiosos que nos leva a crer que um psicopata nunca pára só com meia dúzia de crimes no curriculum, ainda mais um que tinha um imenso sangue frio e mostrava ser mais esperto que a polícia.

Enfim, o livro vale pelas descrições dos assassinatos vs. modo actual de investigar, sendo curioso que mesmo com poucos conhecimentos das circunstância reais, a autora tenta recriar os crimes.

Vale também pela descrição do infeliz modo de vida daquela gente e pelo modo largo como Cornwell conduz a investigação.

Uma investigação rigorosa e honesta sobre Walter Sickert, que nos leva ao assassino mais famoso de todos os tempos. Porém e por muito que a gente queira acreditar no que Cornwell escreve, ela nunca apresenta provas palpáveis, e de facto era difícil dada a distância dos crimes, mas fica a coragem da escritora e, no final a dúvida mantém-se: Quem foi “Jack, o Estripador”?

Por último quero referir o modo pormenorizado e ao mesmo tempo grotesco como Patricia Cornwell descreve o estado das vítimas… houve altura em que me senti agoniado, e eu conheço as fotos que ela descreve.

quarta-feira, 7 de maio de 2008

Messias (O) - Boris Starling

Londres, Maio de 1998, enquanto a cidade sufoca numa onda de calor como há muito não se sentia, um misterioso e sui-géneris assassino inicia o seu périplo de crimes diante de uma assombrada polícia que não consegue descobrir qualquer pista nem nenhuma relação entre esses crimes.

Pouco mais de cem anos após Jack, o Estripador atemorizar a sociedade londrina, eis que a cidade se vê agora diante de um assassino furtivo que mata sem piedade e de uma forma extremamente violenta e com uma particularidade que aponta para um mesmo assassino, deixa sempre uma colher de prata na boca dos cadáveres.

A comandar a investigação está o superintendente Red Metcalfe , investigador de conhecidos e apreciados méritos que tem neste caso o seu maior desafio que o vai levar também de volta ao seu passado, passado esse cheio de segredos...

Embora não seja apreciador de policiais, este livro é, sem quaisquer dúvidas, não só uma obra-prima do género, como também um livro capaz de nos proporcionar momentos de suspense e terror.

Penso até que “Messias” não é um mero policial, mas sim um verdadeiro thriller empolgante, violento, audaz, assombroso e entusiasmante.

Entre várias particularidades, o escritor vai-nos narrando o desenrolar da investigação na primeira e segunda pessoa... a primeira pessoa passa do superintendente Red para o próprio assassino... sem falar das descrições das cenas dos assassinatos, algo verdadeiramente horroroso de ler.

A escrita é fluida. Starling, sem dúvida por ter sido jornalista, usa um estilo directo, sem rodeios e floreados. Cada capítulo, sempre curto, acaba sempre em suspense, fazendo-nos continuar na ânsia de saber o que vem a seguir.

Leitura de um só fôlego, num trama bem urdido e com um ritmo elevado onde no final todo o puzzle se encaixa. Interessante também o motivo construído em volta dos homicídios. Embora simples (quando o descobrimos), está bem construído, tem coerência e serve na perfeição a intenção do autor, sobretudo porque, repito, tudo se encaixa e acontece o que já antes havia acontecido...

Um livro indispensável não só para os amantes do género (a esses é obrigatório), como também para quem gosta de alternar leituras.






domingo, 4 de maio de 2008

Conde de Monte Cristo (O) - Alexandre Dumas



Alexandre Dumas nasceu em Villers-Cotterêts em 1802, filho de um general napoleónico que descendia de uma escrava haitiana, Marie-Céssette Dumas, Dumas era assim mulato, algo que o iria perseguir durante toda a vida. Perdendo o pai com apenas 4 anos, Alexandre Dumas é então criado apenas pela mãe e, aos 15 anos, enquanto dava os primeiro passos como aprendiz de notário, influenciado pelos livros de Walter Scott, sente despertar nele uma vocação literária que, em 1823, o leva a Paris em busca do sonho e de fortuna.

A partir daí a carreira de Dumas tem uma ascensão vertiginosa.

A sua chegada fica marcada pela felicidade de ter como patrão o Duque de Orleães que, em 1830, iria ascender ao trono de França com o nome de Luís Filipe, o Rei Cidadão. Dumas ocupa os seus tempos livres no estudo das literaturas estrangeiras, tendo a intenção de beber as técnicas e o estilo desses escritores, começava aí a sua preparação para a profissão de escritor.

Apenas 6 anos depois da sua chegada a Paris, Dumas produz a sua primeira peça "Henrique III e a sua corte", e desde logo o sucesso é arrebatador.

No ano seguinte e embalado pelas críticas positivas à peça do ano anterior, apresenta nova peça: "Christine", e o sucesso foi tão grande que, de repente, Dumas viu-se nas bocas do mundo e cheio de dinheiro. E foi assim que pôde concretizar o seu sonho: ser escritor a tempo inteiro.

Com dinheiro e o tempo por sua conta, Dumas começa a desenvolver um estilo de vida extravagante que se pode caracterizar como gastando mais do que aquilo que ganhava, levando-o aos poucos a somar dividas que ia pagando à medida que ganhava dinheiro com as suas novelas.

Esta vida, não a da opulência que se iria manter até ao final da sua vida, mas sim as constantes dívidas, fizeram com que Dumas sentisse a necessidade de compor mais novelas. Assim acaba por ter uma ideia que se revelaria como uma autêntica mina: Em 1838 cria um estúdio de produção de novelas, contendo alguns colaboradores/escritores, todas as histórias que saíam desse estúdio eram assinadas por Dumas e, sabe-se, efectivamente todas as histórias estavam sujeitas à sua aprovação.

Pode-se afirmar que Dumas deu origem a um modo totalmente profissional de editar novelas, no entanto e todo este processo veio suscitar uma série de desconfianças que ainda hoje se mantêm: até que ponto foi Alexandre Dumas o único responsável pelas novelas assinadas por si? Não terão sido outros a criar essas novelas?

Mas passe esta questão, o facto é que Dumas, a meio do século XIX, era o escritor com mais sucesso em França e apenas rivalizando com Charles Dickens no resto da Europa.

Assim e já com a sua produtora a lançar novelas em série, Dumas dá à estampa obras que ficarão como marcas da literatura universal: Em 1844 , "Os três Mosqueteiros"; e "O Quebra Nozes", que Tchaikovsky adaptaria posteriormente para ballet; em 1845, "Vinte Anos Depois" e "A Rainha Margot" e em 1846, o famoso "Conde de Monte Cristo", entre outras.

Alexandre Dumas era astuto e compreendeu o enorme alcance dos seus livros. Multimilionário, apreciador do luxo, festas e mulheres, Dumas acabou por levar uma vida que teve alguns imponderáveis, levando-o ao exílio para a Rússia, acabando contudo, por regressar a Paris em 1864.

Até à sua morte, em 1870, Alexandre Dumas frequentou a alta sociedade e era tido como um monárquico convicto, mas senhor de uma grande sensibilidade para as questões políticas e sociais. Sepultado no cemitério de Villers-Cotterêts, Alexandre Dumas ficou para sempre na galeria dos imortais, um escritor do qual Robert Louis Stevenson disse um dia: "Não acredito que alguém escreva um livro onde se possa respirar a mesma atmosfera respirada em "O Conde de Monte Cristo".

E é precisamente sobre "O Conde de Monte Cristo" que me proponho a emitir esta singela opinião.

Escrito entre 1845 e 1846 e tido por muitos como um romance de aventuras e ou de literatura infantil, posso apenas afirmar que essas considerações são erróneas e ofensivas à memória de Alexandre Dumas.

A acção temporal situa-se entre 1814 e 1838. Dumas coloca assim a história em pilares bem sólidos ao nível Histórico e dá-nos a perspectiva desse tempo. Em 1814 Napoleão estava exilado na Ilha de Elba e preparava o seu regresso a França. Reinava Luís XVIII e as lutas entre monárquicos e republicanos estavam no auge. Todos aqueles que fossem considerados bonapartistas eram tidos como traidores do reino, sendo então presos e muitos deles assassinados.

É portanto neste cenário que se inicia o livro.

Edmond Dantés, imediato do navio de mercadorias Pharaon, regressa de uma longe viagem ao serviço do seu patrão, o sr. Morrel.

Nessa longa viagem, um infeliz incidente leva Dantés a assumir o comando do navio, o capitão sucumbe a uma febre, falecendo alguns dias antes do regresso a Marselha.

Feliz por ter o navio de volta, o sr. Morrel, que muito apreciava a honestidade e valentia de Dantés, oferece o posto de comandante do Pharaon a Dantés, facto que o deixa felecíssimo, pois com o ordenado e as comissões, poderia tomar como esposa a bela catalã Mercedes e proporcionar ao seu pai uma vida mais confortável.

É neste cenário idílico que o trama tem início e, pouco depois, é comovente o encontro entre Dantés e o seu pai, assim como comovente o encontro entre ele e Mercedes.

Tudo se vai desenrolando num ritmo alegre. Dantés tem apenas 20 anos, está de bem com a vida e tem um futuro promissor. Assim, feliz, Dantés pede Mercedes em casamento e, como esta aceita, resolvem festejar esse noivado num banquete para o qual convida todos os seus amigos. Porém, quando todos estavam sentados à mesa, eis que irrompem pela festa quatro soldados e um cabo com ordem de prisão a Edmond Dantés.

O assombro dos convidados é total.

Dantés havia chegado há poucos dias, eram demasiado jovem para ter cometido algum crime, não se lhe conheciam inimigos, que tipo de crime seria acusado?

Despreocupado e julgando-se tratar de um engano, Dantés acompanha os soldados à presença do Procurador Régio que, e por uma vicissitude anómala, acabou por ser representado por mr. Villeford, homem de ambição desmedida que via naquela detenção a sua oportunidade de reconhecimento.

É então que nesse interrogatório, Dantés sabe que é acusado de conspirar contra o reino de França, devido à circunstância de ser possuidor de uma carta do próprio Napoleão, que se destinava a uma outra pessoa em Paris, carta essa que havia sido levantada numa curta paragem na Ilha de Elba, aquando do regresso do Pharaon. Dantés não desmente tal carta, no entanto afirma não ser conhecedor do teor da mesma e ter apenas cumprido o último desejo do seu moribundo comandante.

Tal desculpa, proferida de uma forma sincera, convence Villeford que lê então a carta e o nome do seu destinatário, nome esse apenas conhecido por Dantés. E é então que a face de Villeford fica rubra, o destinatário dava pelo nome de Noitier, simplesmente o pai de Villeford.

Agora imaginem.

Um homem ambicioso, monárquico convicto, que de repente vê o seu pai metido numa conspiração que lhe poderá arruinar o futuro. Como agir?

Simples.

Queima a carta e joga Dantés numa prisão de alta segurança, com o rótulo de perigoso preso político.

E é assim que o infeliz Dantés se vê numa cela, sem ver a luz do dia e sem saber que mal fez ao mundo para ser preso sem qualquer julgamento. E tudo, sabemos nós, por causa de uma falsa denúncia de dois homens que o invejavam. Um invejava o amor de Mercedes e o outro o seu lugar de comandante. A juntar a isso, a ambição de mr. Villefort. Uma mistura fatal para o jovem Dantés.

Condenado à solidão numa escura e húmida masmorra situada na prisão do Castelo de If, Dantés amaldiçoa a sua sorte, sentido-se perto da loucura. No entanto um feixe de esperança vem iluminar a sua miserável vida, quando e através de um túnel secreto, conhece um outro preso: o abade Faria.

Inicia-se aí uma longa e sólida amizade que irá proporcionar a Dantés toda uma transformação intelectual e mental, pois Faria revela-se um autêntico sábio e nesses anos de convívio, ensina História, Ciência e Política a Dantés, conhecimentos esses que servirão no futuro e que transformarão Dantés num outro homem.

E os anos passam. Dantés, através da ajuda de Faria, acaba por se aperceber do ignóbil trama que foi sujeito, vendo então desenvolver nele um sentimento de vingança contra aqueles que o colocaram na prisão.

Até que certa altura, e vendo que a sua vida estaria perto do seu término, o abade Faria conta um segredo a Dantés que remontava ao tempo dos Bórgia. Faria era dono de um imenso tesouro escondido numa caverna na Ilha de Monte Cristo, obrigando-o a memorizar um mapa do local, o abade Faria oferece esse tesouro a Dantés. Um dia quando saísse em liberdade, Dantés seria um homem muito rico. No entanto ambos sabiam que essa hipótese era remota.

Mas um acontecimento irá dar origem à fuga de Dantés e ao seu regresso à civilização. Então, possuidor de uma imensa fortuna, Dantés sob a capa de Conde de Monte Cristo, irá encetar um minucioso plano de vingança contra aqueles que o traíram, vingança essa acima da imaginação humana e acima do poder de Deus. Uma vingança diabólica.

Esta obra, que tem cerca de 1200 páginas, pode-se considerar um romance histórico assente numa intrincada estratégia que o desvia também para um romance de aventuras.

Para além da situação política da França, Dumas aborda toda a mentalidade e sobretudo a forma como ela se vai alterando à medida que se vai alterando o cenário político.

Depois e a forma como Dumas descreve o luxo e a opulência da classe alta, parece-me que Dumas acaba por tecer também um cenário biográfico da sua paixão pelas coisas boas.

O fio condutor da história não tem qualquer falha. Todo ele é coerente. O intrincado jogo de vingança, embora pareça não fazer sentido ou não ter ligações entre as várias personagens, vai-se interligando sob a forma de um puzzle, acabando por encaixar todas as peças.

A vingança é mesmo terrível. Chegamos a sentir pena das vítimas, no entanto Dumas faz questão de mostrar que mesmo num coração duro, morto pelo sofrimento, há ainda esperança e sentimento fraternal.

"O Conde de Monte Cristo" foi durante muito tempo o livro da minha vida.

Actualmente já não entro nesse género de considerações porque já li grandes livros, no entanto este é um dos mais belos romances que li até à data , já o tendo relido pelo menos três vezes.

É uma obra que tem de tudo: amor, ódio, traição, jogos políticos, História e vingança.

A história está muito bem contada. Dumas não precipita os acontecimentos. Tudo tem um sentido. A sua forma narrativa é cativante, todos os capítulos acabam, em suspense, deixando o leitor ansioso para saber o que vai acontecer. Imaginem na altura em que ele o publicou por capítulos em folhetins, imagino o suspense que deve ter criado.

Como curiosidade, após o retumbante êxito da obra em praticamente toda a Europa, Alexandre Dumas adquiriu uma magnífica residência nos arredores de Paris a qual baptizou como Castelo de Monte Cristo, residência essa que se encontra actualmente aberta ao público como casa-museu do escritor.

Em 2002, Alexandre Dumas teve o reconhecimento que lhe era devido pele França. Cerca de 130 anos depois da sua morte, os restos mortais de Dumas foram exumados e transportados para o Panteão Nacional.

O seu caixão, transportado por quatro homens vestidos como os mosqueteiros Athos, Porthos, Aramos e D'Artagnan, colocaram a sua urna ao lado de distintos personagens franceses como Rosseau, Voltaire e Victor Hugo.

Este "Conde de Monte Cristo" é a obra maior de Alexandre Dumas e um dos melhores livros de toda a literatura.