sábado, 30 de agosto de 2008

Fábula de La Fontaine - Jean de La Fontaine


Jean de La Fontaine nasceu em Château-Thierry, França, em 1621. Estudante de Teologia e Direito, depressa se apercebe que a sua vocação não estava direccionada para nenhum daqueles cursos, pelo que e após ter andado pelos negócios paterno, acabou por se dedicar às artes literárias, estreando-se como autor dramaturgo em 1654 com a comédia “L’Eunuque”.

Amigo pessoal de grande vultos da cultura francesa como Moliére e Racine, La Fontaine acaba por conseguir a protecção de Fouquet, poderoso ministro de Luís XIV (Rei Sol). No entanto, e desconhecem-se as razões, acaba por cair em desgraça alguns anos depois, sendo mesmo preso pelos mosqueteiros que tinham a capitaneá-los um tal de D’Artagnan, pelo menos é o que consta na História.

Mas tirando a sua vida pessoal que muito ainda tem para referir, La Fontaine ganhou notoriedade no seu tempo e fama para a posteridade devido às fábulas que escreveu.

Os primeiro livros de fábulas surgem em 1668 inspiradas nos textos de Esopo e Fedro, pois as fábulas remontam à antiguidade grega e até indiana, e é um tipo de narrativa alegórica em verso – ou quase sempre – que põe em evidência certas características humanas, tais como a vaidade, a arrogância, a ganância, a violência, o egoísmo, hipocrisia, etc. assim, as fábulas “pegando” nessas tais características, dão-nos uma lição moral muito simples mas cheia de significado.

E La Fontaine teve a inteligência e o bom senso de as introduzir na literatura ocidental, adaptando alguns contos populares franceses e situações correntes, ele adaptou de uma forma crítica, não raras vezes irónica mas sempre de uma forma inteligente e irreverente, irreverência essa que, curiosamente, lhe valeu o apreço de todas as classes sociais e que ainda hoje são dignas desses apreço. E é curioso analisar-se o porquê desse apreço.

Independentemente de existirem muitas outras informações, entre as quais, e é importante referir, as primeiras fábulas são escritas propositadamente para o Delfim e para as restantes crianças da côrte, La Fontaine serviu-se sempre dos animais para mostrar aos Homens a imagem da virtude, da tolice e outros “vícios” ridículos, assim como vários aspectos da própria sociedade francesa da altura, pois é facilmente perceptível algumas denúncias às misérias e abissais injustiças que pululavam na época.

Mas La Fontaine escreveu muitas fábulas. Algumas delas são bem conhecidas e ainda hoje ocupam um lugar muito especial no imaginário Humano, não apenas pela mensagem moral, como também porque facilmente as podemos empregar no nosso dia-a-dia.: ”O lobo e a raposa”; “A galinha dos ovos de ouro”; “A cigarra e a formiga”; “O leão e o rato”; “A água e a coruja”; “A rã invejosa”; “A vendedora de leite”, entre tantas outras.

Verdadeiro manancial educativo, as Fábulas de La Fontaine, que inclusivamente chegaram a ser traduzidas por Bocage, representam uma forma de sabedoria e conhecimento principalmente para os mais novos que, através de um universo aparentemente idílico, começam a conhecer o mundo e a pérfida natureza humana.

Em todas as suas fábulas podemos tirar conclusões e descobrir o que cada animal representa e o que significa cada acção e cada lógica.

É uma obra que recomendo a todos, principalmente que tiver filhos(as), sobrinhos(as), irmãos, irmãs, netos ou netas, pois assim e de uma forma simples e fácil, as crianças poderão ganhar consciência do mundo e da civilização.”

CITAÇÕES DE LA FONTAINE

”a avareza perde tudo ao pretender tudo ganhar”. “Arriscamo-nos a perder tudo quando queremos ganhar demais”.

“Quem julga caçar é caçado”.

“É um prazer dobrado enganar quem engana”.

“Paciência e tempo dão mais resultado do que força e raiva”.

“Correr não adianta. É preciso partir a tempo”.

“Todo o adulador vive à custa de quem o escuta”.

“Não julguem ninguém apenas pelas aparências”.

Umas das grandes obras literárias de sempre.

sábado, 23 de agosto de 2008

Planícies de Passagem - Jean M. Auel


Em "Planícies de Passagem" chega ao fim toda a saga de Ayla, a menina Cro-Magnon que em o "Clã do Urso das Cavernas" se viu aos 5 anos sem família e só num mundo inóspito e cruel, sendo então adoptada e carinhosamente criada por um clã Neanderthal, seres muito diferentes dos seus.

Neste 4º volume, Ayla já é uma mulher responsável mas que busca o seu espaço no mundo e sobretudo junto daqueles da sua espécie.

Acompanhada de um homem que escolheu para parceiro, partem os dois em busca de uma terra a que possam chamar de lar e aí constituir família.

É extremamente complicado abordar a história deste livro porque fazê-lo significa desvendar obrigatoriamente vários factos que põem em causa outros factos que se descobrem no primeiro, segundo ou terceiro volume. A vida de Ayla é uma autêntica aventura no período Paleolítico, logo, um período em que muito há a descobrir, sobretudo ao nível da antropologia e geologia. Uma aventura que coloca em evidência a relação do Homem primitivo com o mundo que o rodeia e a percepção que o mesmo tem desse mundo e do lugar que ele começa a ocupar.

Ao nível geológico e antropológico, todos esses volumes são um manancial Histórico surpreendente e assaz rico. Desde o modo de vivência e relacionamento entre os membros das próprias tribos, até ao relacionamento entre os mesmos e interacção desses com o ambiente. Toda a viagem de Ayla dá-nos a conhecer vastos locais que hoje são perfeitamente identificáveis e, sabe-se, que Jean Auel foi bastante minuciosa e atenta às descrições que efectua, assim como bastante rigorosa na descrição do clima e das condições de vida daqueles primitivos povos.

Fazendo uma retrospectiva deste 4 volumes - "Clã do Urso das Cavernas", "Vale dos Cavalos", "Caçador de Mamutes" e "Planícies de Passagem" -, vendo todos estes livros apenas como sendo uma obra com o título "Saga dos Filhos da Terra", posso garantir-vos que se trata de um conjunto de livros muito interessantes, que se lêem com gosto e de uma forma compulsiva, tal a forma e o ritmo agradável e ávido que Auel utiliza na sua escrita. No entanto e enquanto eu aconselho principalmente os dois primeiros livros, já deixo algumas reservas no terceiro e já não recomendo o quatro.

Sobretudo porque o quarto título (também ele divido em dois volume), deveria ser um título que finalmente desvendasse algumas das muitas questões que Auel vai levantando nos seus antecessores. Questões essas que nos deixam na ânsia de ler para saber, porém é imensamente frustante muitas dessas questões ficarem sem resposta.

Por outro lado é nítida a saturação da escritora. A aventura parece não ter fim, é aborrecida. As zangas e as pazes entre Ayla e Jondalar são quase sempre iguais, as cenas de sexo repetem-se numa clara tentativa, frustada, de dar algum erotismo ao livro, no entanto e embora Auel use uma linguagem muito explicita, geralmente essas cenas não nos comovem rigorosamente nada.

Porém e embora me tenha desagradado bastante este livro, pois admito que também eu já estivesse saturado da obra - 6 volume são 2463 págs. -, sei que este título não fechou a saga, pois e posteriormente Auel ainda editou um outro livro com o nome "The Shelters of Stone" (2003) que nunca foi editado em Portugal e em muitos países, visto que o flop foi tão grande com os últimos títulos que, acharam as editoras, um novo título não seria vendável.

Tenho pena, pois e provavelmente teríamos a resposta a várias questões que ficaram no ar, logo, parte da minha crítica que me leva a classificar este volume como um mau livro, poderia sofrer uma grande atenuante, pois parece-me ser este "Planícies de Passagem" mais um volume intermediário e não um volume final.

terça-feira, 19 de agosto de 2008

Alice no País das Maravilhas - Lewis Carroll


Considerado como uma obra prima da literatura universal, esta obra, escrita por Lweis Carroll, pseudónimo do diácono da igreja angelicana, Charles Lutwidge Dodgson, é um aglomerado imenso de jogos de palavras e linguagem inventiva que recriam um mundo fantasioso e absurdo, situações e aspectos da época vitoriana difíceis hoje em dia de entender e analisar em toda a sua plenitude, pois os significados, as metáforas e analogias são aparentemente tantas que tornam esta obra complicada de ser analisada.

Sabe-se que Carroll quando escreveu “Alice no País das Maravilhas”, o fez com a intenção de ser uma obra de facto dirigida às crianças e em homenagem a Alice Liddell, filha de um amigo. Curioso constatar ser Carroll um muito provável pedófilo, pois sabe-se que adorava fotografar crianças, além de as desenhar nuas cm o consentimento dos pais. É um comportamento bizarro, assim como bizarro é o mundo criado por ele em homenagens a Alice Liddell.

Alice vê passar por si um coelho branco a falar. Segue-o, acabando por entrar numa toca onde cai no vazio, surgindo então numa sala. Começa aí a aventura de Alice no País das Maravilhas onde, para além de várias situações absurdas, conhece personagens bizarras e estranhas.

É claro que Lewis pretendeu criar uma gigantesca metáfora ao mundo dos adultos. Ao mesmo tempo são várias as analogias à infância e sobretudo à fase da adolescência. Por outro lado é claro também a similaridade que existe em algumas personagens com figuras públicas da época vitoriana.

É uma obra com uma forte simbologia. Grande parte dessa simbologia escapou-me claramente, pois é perceptível que o absurdo das situações e das personagens tem algum significado mas, honestamente, desconheço.

Era uma obra que tinha curiosidade em ler, mas que admito, não gostei dada a pouca coerência e irracionalidade que a invadem. Não lhe retiro minimamente o mérito e a importância que teve e tem na literatura, mas enfim, não retirei prazer na leitura nem me ensinou nada de especial.

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Mistério de Colombo Revelado (O) - Manuel da Silva Rosa e Eric J. Steele



A História tradicional, aquela que nos ensinam na escola, refere que em 1492 um genovês chamado Cristóvão Colombo, ao serviço dos reis católicos de Castela, descobriu o continente da América, colocando assim o seu nome na diminuta galeria de personagens históricas conhecidas a nível mundial.

Mas será que a história que os livros ensinam é a real?

Quem foi Cristóvão Colombo? Como se iniciou o processo da descoberta da América? Numa época onde a maior potência da navegação, aquela que possuía os grandes segredos era Portugal, é exequível pensar que um genovês, ainda por cima tecelão, teve a capacidade de capitanear toda uma expedição aos serviços dos reis de Castela, convencendo-os de algo que, aos olhos do mundo, ainda não estava provado?

É comummente aceite que a História está em constante redescoberta à medida que novos vestígios são descobertos e à medida que o avanço científico vai dando lugar a novas teorias e mesmo certezas.

Repara-se que só nesta década se descobriu que grande parte dos dinossáurios tinha a pele revestida por penas e que, grande parte deles, são antepassados das aves e não dos répteis como sempre se disse.

Assim é natural que investigações profundas sobre qualquer matéria dêem lugar a novas e sensacionais descobertas que, para além de juntarem novas peças ao que se sabe tem por vezes a capacidade de reescrever a própria realidade histórica.

E foi precisamente isso que se fez em meados do séc. XX: alguém começou a investigar Cristóvão Colombo, dando então conta de várias incongruências da história aceite como verdadeira.

Ou seja, a questão sobre quem foi Cristóvão Colombo não nasceu com este livro. Antes dele outros historiadores já debateram esse mistério e há inclusivamente vários livros acerca da questão onde sobressai a obra de Mascarenhas Barreto. No entanto poucos foram aqueles que investigaram sobre ele. Quem foi, onde nasceu, como viveu e como se desenrolou a aproximação aos reis de Castela e com que motivação.

Este livro, fruto de 15 anos de exaustivas pesquisas, tenta levantar o véu de mistério que persiste sobre a personagem, ao mesmo tempo que desmente, com provas documentais, o imenso embuste que foi criado e que, até à data, é História oficial.

Ninguém sabe quem foi Cristóvão Colombo, onde nasceu e quais os seus antepassados, mas há factos que desmentem muito do que se escreveu acerca dele.

O que se sabe é fruto de documentos do seu filho, dos reis de Castela e Portugal e de alguns apontamentos e cartas escritas pelo próprio. Esses dados suportam suposições lógicas. Uma vida que é uma espécie de teia onde se consegue desenlear algumas pontas.

A História oficial ensina-nos que Cristóvão Colombo ou Cristoforo Colombo, nasce em Génova sensivelmente em 1449. Filho de tecelões de lã e ele próprio tecelão, Colombo era analfabeto e, sem se saber porquê, resolve, já com 26 anos (+/-), ser marinheiro sendo que e após nadar oito milhas a partir de um embarcação naufragada, dá à costa portuguesa em 1476. Mesmo sendo um pobre marinheiro analfabeto, dois anos depois (pelos vistos não regressou a Génova antes tendo ficado inexplicavelmente por Portugal), surpreendentemente, casa com D. Filipa Moniz Perestrelo, membro da Ordem de Santiago e filha primogénita de uma das famílias nobres do reino. Ou seja, um pobre plebeu analfabeto e estrangeiro desposa a primogénita de uma família da nobreza e ainda por cima com a autorização do rei de Portugal D. João II, pois o rei como Grão Mestre da Ordem de Santiago teria de dar autorização para que um membro da ordem se casasse.

Para além de todo este absurdo, outras questões se levantam como se poderá constatar no livro.

No entanto a História conta-nos que este tecelão marinheiro depressa chega à presença do rei D. João II onde lhe apresenta o projecto de navegar até à Índia por Oeste, projecto esse que o rei rejeita peremptoriamente. Zangado, Colombo fixa-se em Espanha com a ideia de “vender” o mesmo projecto aos reis católicos e, mesmo vendo a mesma ser rejeitada durante 7 anos (curioso que agora já não se zanga), lá acaba por convencer os reis do empreendimento.

Obviamente que até aqui há imensas questões que colocam em causa toda esta história. Naquela época era impossível acontecer muitos dos factos até aqui referidos, mas e mesmo assim há factos que levantam outras pertinentes questões:

Em apenas 9 anos (1476-1485), o Cristóvão Colombo da História, plebeu, naufraga em Portugal e, mesmo analfabeto e não percebendo nada de navegação, consegue casar com uma dama nobre, aprender latim, português, castelhano, cosmografia, geografia, álgebra, navegação, a bíblia quase toda de cor, algum hebraico e grego, assim como um alfabeto secreto que ainda hoje é desconhecido, para além de se ter esquecido do seu genovês.

É obra!!!

Mas alguém acredita nisso?

É possível alguém acreditar que o homem que chegou efectivamente à América em 1492 nasceu em Génova e que era tecelão?

Mas estes factos são apenas aqueles que provam que Colon (nunca foi Colombo) não foi de certeza genovês. Não era nenhum mentecapto, sendo sim um homem instruído, nascido no seio de uma família da nobreza, de relações particulares com a casa real portuguesa, movimentando-se com total à vontade na corte castelhana.

Este livro surpreendeu-me pelas provas documentais apresentadas.

De uma forma honesta e muito rigorosa, estes investigadores trazem a lume documentos até hoje desconhecidos e esquecidos. Não descuram pormenores e são precisamente esses pormenores que levantam o véu deste imenso mistério que está profundamente interligado com a situação geopolítica da Ibéria dos sécs. XIV e XV.

Um livro que nos dá uma perspectiva completamente diferente daquilo que nos é contado nas escolas. Cheio de provas e pistas, ficamos com algumas certezas mas muitas dúvidas. A investigação é profunda e abarca praticamente toda a vida de Cólon, no entanto cabe a cada leitor analisar os documentos mostrados e daí tirar conclusões.

Pessoalmente não me interessa saber se Cólon era português ou não. O que me interessa é saber a verdade e o que esteve por detrás da descoberta da América. É aí que a investigação mais dificuldades encontra e é esse, para mim, o grande mistério.

O que sobressai também é os factos absurdos que levaram a ter Colon como genovês. Não entendo como é que os historiadores aceitaram a história e como é que continuam a aceitar. Uma coisa é afirmarmos desconhecer se Colon foi português ou não, outra, completamente distinta, é afirmar que Colon nasceu em génova e que era tecelão e analfabeto.

Conforme refere o Livros dos Conselhos: "Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara."