terça-feira, 21 de julho de 2009

Drácula - Bram Stoker


Publicado em 1897 por Bram Stoker, que tem nesta obra a sua mais importante criação, Drácula depressa se tornou um sucesso literário, verdadeiro embrião de um género que, desde essa altura, teve dezenas de seguidores e milhões de adeptos.

Gostei da estrutura do livro. Em forma de diários escrito por diversos intervenientes, cartas e noticias de jornais. Dessa forma percebemos a percepção, a viva voz, de todos os participantes, excepto da figura principal: Drácula.

Baseado numa figura real, Vlad Tepes, consta-se que Bram Stoker estudou a fundo a História e o folclore da região da Valáquia de modo a criar o seu monstro. Porém nasce aqui a minha decepção, pois e tirando as primeiras páginas, a figura de Drácula é uma figura ténue, quase invisível, pese embora subentenda-se a sua presença ao longo de toda a história. Para além dessa fraca figura, Stoker não consegue, de todo, mostrar ao leitor quem foi ou de onde nasce Drácula, o tal Vlad Tepes. Aqui e ali, já perto do fim, avança com uns lá-mi-rés, no entanto tudo muito insonso, sem grande interessa e nunca lhe dando o carisma que, digo eu, era obrigatório ter dado.

A história até que começa bem, com ritmo, mistério, suspense e algum terror.

O leitor fica com água na boca tal o ritmo que Stoker emprega.

Até à viagem de Drácula, considero que o livro é excelente, porém a partir do momento que Drácula viaja para Inglaterra, parece que deixa ficar na Transilvânia todo o horror que era suposto ter.

A partir daí a história arrasta-se num misto de incoerências, algumas absurdas, factos omitidos, mal explicados ou nem sequer explicados. Reconheço que isso me irritou especialmente, sobretudo pela forma ingénua como me apercebi que Stoker quis levar a história denotando, e isso sou eu a pensar na época em que foi escrito, que a partir de certa altura passou a escrever para um público feminino tipicamente vitoriano.

As personagens também nunca foram capazes de me convencer. De início gostei muito de Jonathan Harker e do próprio Drácula, porém depressa se esvaziaram, se perderam na história. Drácula, conforme já o referi, desaparece, o mesmo acontecendo com Jonathan. Os personagens que depois tomam conta da história jamais conseguem ter o carisma destes dois. E Van Helsing? Faço a pergunta que me fiz desde que ele surge. Quem é Van Helsing? Não sabemos! Á semelhança de tantos outros factos, Bram Stoker não se digna a dar-nos uma explicação. Aliás, Stoker não nos dá nenhuma explicação acerca de nenhum personagem, nunca aprofunda nenhum personagem e há aqueles que surgem, que parecem ter um grande papel na história e depois... nada!
Classificação: 3

domingo, 5 de julho de 2009

Cinzas de Ângela (As) - Frank McCourt



Tal como escrevi há tempos sobre um determinado livro, há títulos que me chegam às mãos não só por mero acaso, como também como uma espécie de dádiva que qualquer ser celestial resolve oferecer-me.

Este “As Cinzas de Ângela”, de Frank McCourt é um desses títulos.

Um livro que, curiosamente, cada vez que ia à Biblioteca me parecia gritar: “Leva-me!”. No entanto a pequena descrição no verso do livro nunca me despertou especial atenção e, não sei dizer porquê, um dia senti-me como que seduzido e resolvi requisitá-lo.

Que obra extraordinária!

As Cinzas de Ângela” narra a infância miserável e decadente de Frank McCourt, ele próprio, o autor do livro que, diga-se, venceu o Prêmio Pulitzer e o National Book Award com este livro.

Por voz própria, McCourt vai-nos descrevendo a sua deplorável infância na sua Irlanda. Uma vida em condições sub-humanas na companhia dos pais e irmãos. Vamos assim conhecendo uma cidade de Limerick dos anos quarenta que ainda vive sob os espectros da guerra civil e das atrocidades centenárias dos ingleses. Atrocidades que cimentam velhos rancores e profundos complexos nos irlandeses.

Numa época em que a Europa e parte do Mundo estão mergulhados na guerra, McCourt, sempre em tom irónico e sem qualquer tipo de medos, descreve a sua comunidade. Uma comunidade profundamente egoísta, marcada por superstições ancestrais, assente numa mentalidade submissa mas, ao mesmo tempo, guerreira, enérgica e muito, muito religiosa.

Uma história de vida trágica, mas onde a dignidade, a coragem e a força de vontade vão vencendo as duras vicissitudes de uma vida negra, dando a cada uma dessas vidas, não um significado (ali poucas vidas têm algum sentido e significado), mas um contributo para um conjunto de memórias que tornam este livro num hino à vida, à coragem e ao próprio povo irlandês.

Classificação: 5