segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Duas Irmãs, Um Rei - Philippa Gregory



Iniciado em 1521, este “Duas Irmãs, Um Rei” é o 2º volume da série Tudor, série essa que, obviamente, se pode ler de um modo separado mas que, quanto a mim, tem um sabor mais intenso quando lido respeitando a ordem de volumes que é também a ordem temporal dos acontecimentos narrados por Gragory.

Em “Catarina de Aragão” vimos como Catarina, infanta espanhola, filha dos célebres reis Católicos Fernando e Isabel, se torna Rainha de Inglaterra ao casar com Henrique VIII. Seguimos então a senda de Catarina rumo ao trono.

Em “Duas Irmãs, Um Rei” a acção temporal inicia-se em 1521, 12 anos após o casamento entre Catarina e Henrique.

O Rei continua apaixonado pela sua rainha, mas durante 12 anos Catarina não teve qualquer filho homem, a única criança que sobreviveu às inúmeras gravidezes foi Maria (1516) a enfezada menina que poucos davam alguns anos de vida.

Cientes da importância de um filho varão, a corte enche-se de intrigas e maledicências. A encabeçar essas intrigas está uma família poderosa: Os Bolena/Howard. E é neste círculo de tramas que toda a história deste livro avança.

Ana e Maria Bolena são duas aias da Rainha Catarina. Conforme costume em qualquer corte europeia da época, essas aias são responsáveis por entreter a rainha, jogando-se também em namoricos e mexericos com vários nobres que frequentavam a corte. Entre esses homens, o Rei que, em faustosos banquetes, ele próprio namoriscava com várias aias da rainha diante da beneplacência da mesma.

A descrição destas andanças é extraordinária. Philippa Gregory consegue-nos situar na corte, consegue-nos transmitir as imagens fazendo-nos crer que estamos presentes.

É desta forma que a família Bolena, através do seu seu influente tio, Thomas Howard, imagina uma forma de Maria Bolena ser notada pelo rei e, dessa forma, ir parar à cama do rei. Benefícios: Ganho de influência e poderio da família Bolena/Howard, assim como ganho de propriedades e títulos. Uma rede de influências e interesses nasce assim, originando um trama horrível de enganos, prostituição, sexo e assassínios.

Pessoalmente gostei mais do livro “Catarina de Aragão”, porém achei fenomenal como Gregory constrói e conduz todo o trama, como vai colocando as várias personagens, colando-as aos acontecimentos Históricos.

Ao nível Histórico, o livro é irrepreensível. Brilhante a ordem temporal, até os pequenos pormenores estão explorados. De notar a forma clara, que muito me ensinou, como a autora explica o percurso de simpático rei a tirano de Henrique VIII. É “engraçado” como constatamos que Ana Bolena foi a grande responsável pela mudança de religião, pela forma como Henrique se rebelou contra o Vaticano para, depois, ela própria ser uma das vítimas dessa tirania que, repito, ela construiu.

Um breve olhar sobre Henrique VIII.

Conforme tinha sido descrito em “Catarina de Aragão”, Henrique não passava de um vaidoso, arrogante e mimado menino grande que, vendo-se com todo o poder nas mãos, se transforma num horrível e sanguinário tirano. Nestas obras não se olha muito para o Rei Henrique enquanto político, mas sim enquanto homem e a perspectiva que temos não o favorece muito. Mas o que sobressai é que ele foi aquilo que quiseram que ele fosse, ou seja, foi apenas um produto de pessoas ambiciosas e sem pejo em afastar quem se opusesse aos seus interesses.

Em suma, mais um excelente e aconselhável obra de Philippa Gregory.

Classificação: 5

8 comentários:

slayra disse...

Hmm... comecei pela obra "A Espia da Rainha" (The Queen's Fool"), que conta a história do reinado de Mary Tudor e até gostei, apesar de achar que tanto Mary como a sua meia-irmã, Elizabeth (ou Isabel I) eram representadas de um modo desfavorável, como mulheres inseguras e algo burras... ora, é bem conhecido o facto de Isabel I ter sido uma boa rainha, apesar do seu carácter algo indecisivo... por isso não gostei da forma como a autora retrata as personagens, mais precisamente as mulheres. Parece que as estamos a ver do mesmo modo que os homens do século XVI as viam: como criaturas incompetentes e de intelecto inferior.

Tudo isto para dizer que este livro que li da Philippa Gregory me fez desconfiar de todos os outros e foi por isso que ainda não peguei em mais nenhum. Comecei a ler "O Amante da Rainha" (The Virgin's Lover), mas a Rainha Elizabeth era, mais uma vez, uma mulher demasiado insegura e parvinha para a idade. Achei estranho... se ela fosse assim tão incompetente não teria certamente reinado tanto tempo. O__o

Por isso pergunto-lhe: nos livros que leu da autora, não achou que as mulheres eram muito manipuladas e retratadas como tolas?

Tricia disse...

Ando louca por ver esse filme mas com os comentários que já ouvi (uns bons outros maus) tenho ainda alguns receios em me aventurar. No entanto, uma colega minha de casa tem esse livro e disse que estava muito bom. Gosto de romances históricos e Henrique VIII sempre foi uma figura que me fascinou imenso... Talvez dê uma vistinha de olhos nesse livro. Obrigado pela opinião. :)

Já agora, se não te importares, vou deixar-te aqui o endereço do meu blog (que comecei há coisa de dois dias, por isso ainda é muito pequenino) para que me possas adicionar (se quiseres, claro) e eu a ti. :)

livrosdecabeceira.webnode.com

Beijinhos e boas leituras!!

Iceman disse...

Olá slayra!

Curioso o que dizes, pois eu nos dois romances que li constatei precisamente o contrário.

Em "Catarina de Aragão", a principal personagem, Catarina, é descrita como uma mulher forte, com um grande carácter e que sabe exactamente o que quer e que tem noção para o que foi preparada desde criança. Em simultâneo, a personagem da mãe de Catarina, Isabel de Castea, está sempre omnipresente tal a sua força. Jamais são inseguras, aliás, se ali há insegurança esse pertence ao Rei.

Em "Duas Irmãs, Um Rei", as principais personagens são Ana e Maria Bolena. E aí a descrição delas é a real. Ana Bolena era uma mulher forte, de um carácter e de uma ambição enorme, enquanto Maria Bolena, era ingénua, doce e, de facto, pouco inteligente. Isso é descrito, mas em nenhuma parte qualquer uma delas é representada como "burra" ou "insegura".

Os livros que referes ainda não li, mas tenho a certeza que os irei ler, pois adoro a escrita de Gregory.

NLivros disse...

Olá Tricia.

Eu vi o filme após ler o livro.

A história é quase toda ela fiel ao livro, porém, e como é normal, faltam muito pormenores, ou seja, o livro é superior e com eles temos uma noção mais real dos verdadeiros acontecimentos.

Fica registado o teu blog, eu vou dar uma espreitadela.

Bjs

Teresa Santos disse...

Ainda não o li mas não quero perder. Fiquei com muita curiosidade após ler a tua sintese e apreciação.

Abraço.

Pedro disse...

Como te odeio por isto!!!

Eu sempre tive imensa curiosidade nesta autora... No entanto, nunca, juro, nunca pensei que fosses gostar! Imagina a minha surpresa quando vejo que não só gostaste como já a eleges como uma das melhores autores de ficção histórica!

Não se faz!

NLivros disse...

Eh Eh.

Não te irrites amigo Pedro!

Porque achas que eu nunca iria gostar? Por, conforme já mo disseram, a autora ter uma visão feminina da História?

Pois olha, de facto é a visão feminina que aqui nos é narrada, mas há duas coisas que me fascinam: A escrita simples de Gregory e a sua minuciosidade e rigor Histórico, algo que eu muito valorizo.

Pedro disse...

Talvez pela perspectiva mais feminina, mas acho que o que esperava era que não encontrasses a minuciosidade histórica que, afinal, existe! Acho que não estava à espera (e como sei que admiras muitíssimo romances históricos) que estivéssemos perante um livro tão bem detalhado.