segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Rebecca - Daphne du Maurier


Após tantas entusiasmantes opiniões sobre este clássico, confesso que para mim desconhecido, e após perceber tratar-se de uma obra que foi motivo de grande entusiasmo na altura em que foi publicada sendo, inclusive e alguns anos depois, transposto para o cinema pelo mestre Hitchcock, empreendi a leitura desta obra, podendo dizer que não me arrependi.

Contudo e embora tenha de facto apreciado o livro, não posso afirmar ser esta obra uma das que vai passar à galeria pessoal dos melhores. Gostei bastante, mas não a considero nenhuma obra-prima, muito menos a sua autora, pois considero ser esta obra muito semelhante, em diversos aspectos, a algumas obras escritas décadas antes.

Mas vamos por partes.

O viúvo aristocrático Maximillian de Winter está de passagem por Monte Carlo onde conhece uma jovem dama de companhia de uma abastada e irascível senhora que por ali passa uns dias de descanso. Entre Maximillian e a jovem nasce uma amizade cúmplice que acaba por um pedido de casamento logo aceite pela jovem.

Após uma lua-de-mel na França, vão morar na antiga e imensa propriedade familiar dos De Winter, Manderley, uma mansão vitoriana cheia de divisões, lugares obscuros e envolta num clima misterioso, algo sobrenatural.

A partir daí, a jovem, agora Mrs. De Winter, começa-se a sentir uma intrusa na mansão, outrora dominada pela primeira Mrs. De Winter, Rebecca. Todos os pormenores fazem sentir a presença de Rebecca. Essa sensação torna-se, gradualmente, uma obsessão doentia que vai colocando em causa não só o seu casamento, como o amor de Maxim e o propósito do casamento de ambos.

A observá-la, Mrs. Danvers, governante de Manderley e ex-criada pessoal de Rebecca…

A história em si não me fascinou por aí além. Fascinou-me sim a capacidade de Maurier em criar um clima de tensão, uma áurea de sobrenatural, de mistério de inicio ao fim. Achei surpreendente como é que estamos sempre com a convicção da presença de Rebecca, ela vai-se tornando a personagem principal do livro e isso é fenomenal, pois é alguém que já faleceu mas que continua a exercer uma imensa influência em tudo e todos.

Adorei o trabalho de criação das personagens.

A ingénua e assustada dama de companhia transformada em Mrs. De Winter. Maximillian, o rico e poderoso Mr. De Winter sempre tão misterioso, como se escondesse um mistério. Mrs. Danvers, soberba. Das melhores personagens que já alguma vez tive o prazer de ler, ficou sendo a minha preferida. E Rebecca. Tão distante e tão presente, sobrenatural, um espectro invisível e silencioso, mas que grita a sua presença nos mais pequenos pormenores.

Adorei a escrita de Maurier. Clara, concisa, sem grandes descrições, diria mesmo cinematográfica. As descrições, sempre curtas, são belíssimas, deliciosamente poéticas. A forma como a autora vai criando os dilemas, as desconfianças, os receios, os pensamentos obsessivos paranóicos de Mrs. De Winter, é excepcional.

Porém há factos, particularidades que não posso fingir não existir e que me levam a considerar este romance um bom livro mas não uma obra-prima.

Já não vou referir a polémica que surgiu na altura da sua publicação, onde Daphne du Maurier foi acusada de plágio pela escritora Carolina Nabuco que a acusou de ter plagiado o seu romance “A Sucessora” e que, pelo que constatei numa breve pesquisa, há de facto indícios que apontam para uma forte inspiração de Maurier no romance de Nabuco, porém é inegável a semelhança de vários outros aspectos da obra com outras obras.

Manderley, no seu ambiente misterioso, tétrico é deveras semelhante, ou se quiserem, faz lembrar a propriedade dos “Monte dos Vendavais” (Herdade da Cruz dos Tordos). Maximillian de Winter é demasiado semelhante ao sr. Rochester de “Jane Eyre” e até a heroína de “Rebecca” tem fortes laivos da própria Jane Eyre. Jack Favell, o desconfiado e sarcástico primo de Rebecca faz lembrar Heathcliff do “Monte dos Vendavais” e, finalmente, a personagem de Rebecca, a misteriosa e enigmática Rebecca é quase uma cópia da também enigmática louca que vive no sótão da mansão em “Jane Eyre” e, note-se, até o parentesco é igual. Não no aspecto físico, mas sobretudo no impacto das personagens.

Ou seja, quanto a mim, Du Marurier não se baseou, não se limitou a inspirar nestas personagens destas obras. Criou de facto um romance muito bom, mas facilitado pelo trabalho de autores precedentes a ela e isso, a meu ver, tira-lhe a genialidade que este romance poderia de facto ter.

Classificação: 4

9 comentários:

Célia disse...

Bem, como ainda não li nenhum dos outros romances que referes, não consegui fazer essa ponte, pelo que achei o livro verdadeiramente genial. E gostei mesmo muito da história, mas o que mais me apaixonou foi mesmo a escrita.

Fico contente por teres gostado, independentemente de tudo o resto :)

Paula disse...

Está na minha estante por ler :(
Também tenho lido muitos comentários bons acerca deste livro, não sabia da polémica em causa, contudo e como referes continua a ser um bom livro. E deve ser, deste nota 5 :)

Tenho de o ler...

Abraços.

Jacqueline' disse...

Quando o li, fiquei muito impressionada com a escrita, não tanto com a história, pois para mim esse é o ponto realmente forte do livro. Não sabia que tinha havido tanta polémica na altura, mas apesar de não ter relacionado enquanto o lia, este livro tem de facto parecenças com "O Monte dos Vendavais".

NLivros disse...

Viva Canochinha.

Como referi, a história em sim não a achei nada de excepcional. Gostei sim da escrita e do trabalho de criação das personagens.

Mas, e é um facto, independentemente do que referi, a verdade é que gostei do livro.

NLivros disse...

Olá Paula!

Sim, polémicas à parte, a verdade é que o livro tem muita qualidade.

Estive indeciso entre o 4 e o 5. Para ser sincero, era um livro para um 4,5, no entanto como prometi a mim mesmo não enveredar por dar meias notas, resolvi-me pelo 5, pois o livro é de facto muito bom.

NLivros disse...

Olá Jacqueline.

Concordo. A escrita de Maurier é excelente.

Sim, há muitos factores que fazem lembrar esse livro e outros, mas enfim, não deixa de ser uma boa obra.

Claudia Oliveira disse...

Estou anisosa por saber a tua opinião em relação ao livro A Noite no Tamarindo.

Rebecca será o próximo tmb.

Pedro disse...

Referiste dois dos livros que neste momento mais quero ler:

Jane Eyre
O Monte dos Vendavais

Mais do que Rebecca. O último tenho em inglês.
Já li tantas, mas tantas opiniões positivas, que é quase impossível não querer comprar o livro. Já o vi na biblioteca da escola, mas preferia comprá-lo *assobio*. Já tenho a certeza que vou gostar dele!

(aparte: tive de ler a tua crítica na diagonal, porque... Simplesmente não quero ler nenhuma sinopse ou pormenor da história! Digo-te, não faço a mínima ideia do que a história trata! Irei de cabeça limpa para esta leitura.)

NLivros disse...

Viva Pedro!

Fazes bem em ir de "cabeça limpa", só assim poderás avaliar e sentir o prazer do livro.

É pena não teres lido as obras que refiro.

Em todo o caso faz o inverso, um dia que as leres, julga por ti próprio.