quinta-feira, 4 de março de 2010

Entre os Assassinatos – Aravind Adiga


Booker Prize em 2008 com o excepcional “Tigre Branco”, Aravind Adiga tem com este novo título o seu segundo livro que, uma vez mais se revela uma obra digna de figurar, certamente, nos melhores livros de 2010.

“Entre os Assassinatos” não é um romance, mas sim um conjunto de contos onde o elo, o fio condutor é a cidade imaginária de Kittur, situada na costa sudoeste da Índia, algures entre Goa e Calecute.

Para quem leu o “Tigre Branco” vai aqui achar os problemas e as questões que Aravind aponta na sua obra de estreia.

É-nos mostrada uma Índia profundamente desigual, dividida por um sem número de castas que tornam a sua sociedade altamente xenófoba e extremamente desigual. Ou seja, é uma Índia atolada em problemas sociais e religiosos que a enleiam numa teia complexa, ainda por mais atolada num sistema altamente corrupto.

Aravind é, uma vez mais, corrosivo e irónico na forma como nos vais mostrando a realidade sob ficção. O quanto estúpido e insano é o sistema há muito enraizado que apenas protege os mais ricos, os de melhor casta, tornando todos os outros nuns escravos, em lixo.

A questão das castas é simplesmente ridícula, carecendo de uma explicação que nem os indianos são capazes de dar. Obviamente que Adiga é mordaz e emprega essa mordacidade ao criar situações verdadeiramente hilariantes que nos mostram a estupidez dessa tradição. Imagine-se um sistema de castas de A a Z onde A é a casta mais alta e Z a casta mais baixa. As pessoas da casta A são arrogantes e não querem misturas com as pessoas da casta B. é tudo tão ridículo que, às tantas, deparamo-nos com um indivíduo da casta Y (apenas uma casta acima da casta Z) que é rebaixado, humilhado por todas as outras pessoas das castas mais altas. Queixa-se, amaldiçoa, etc. no entanto, logo a seguir, ele próprio humilha um individuo ou tem com ele atitudes de superioridade só porque este é da casta Z. Ridículo, mas pelos vistos representa a realidade da sociedade indiana.

Não tem o condão de surpreender nem criar o impacto do “Tigre Branco”, mas é um relato que nos mostra a verdadeira Índia, um país ancestral, que por detrás do potencial económico, é uma nação cheia de tradições estranhas, com um sistema e mentalidade altamente corrupta e onde, essas mesmas tradições, incentivam crimes contra a humanidade, mas que não vê nisso nada de anormal, sendo que a anormalidade é precisamente essa.

6 comentários:

Unknown disse...

Iceman, tenho esse livro na fila de espera... Na primeira vez que peguei nele fiquei com a certeza que é um livro "com história".
A escrita agradável do autor deve ser suficiente para lhe pegar um dia destes.
No entanto, depois de ter lido e gostado muito de "O Tigre Branco", e depois de ler o teu comentário, fico com a vaga sensação do "mais do mesmo"... será?

NLivros disse...

Olá Manuel.

Sim, podemos afirmar que este livros, em comparação com o "Tigre Branco" é um pouco mais do mesmo.

Aqui a grande diferença é que existem várias personagens com que Adiga brinca com as castas e outras situações.

Era por isso que, na opinião, eu afirmo que este livro não tem a capacidade de surpreender como surpreendeu o "Tigre Branco".

Mas note-se, "Entre os Assassinatos" é um livro de grande qualidade.

Filipe de Arede Nunes disse...

Gostei imenso de O Tigre Branco.

Numa das últimas vezes que passei pela FNAC vi lá esta nova obra de Adiga. Estou curioso, sobretudo porque os problemas da India são, cada vez mais, problemas de todos.

Cumprimentos,
Filipe de Arede Nunes

NLivros disse...

Viva Filipe.

O Tigre Branco é dos melhores livros que alguma vez li. Este "Entre os Assassinatos" é na mesma linha e os problemas abordados são os mesmos embora, na minha opinião, Aravind os aprofunde mais.

Maria Vitamina disse...

Ainda que seja mais do mesmo é bom, pelo menos eu gostei bastante d"O Tigre Branco" e da escrita de Aravind Adiga.

SEVE disse...

Gostei tanto d"O TIGRE BRANCO" que, sinceramente, dificilmente "Entre os Assassinatos" me surpreenderia. Gostei? o q.b., mas muito inferior ao "TIGRE BRANCO".