terça-feira, 25 de maio de 2010

Flashman – A Odisseia de um Cobarde – George MacDonald Fraser


Um livro delicioso!

Há muito tempo que um livro não me fazia rir tanto como este. As situações são tão hilariantes que é impossível não soltarmos grandes gargalhadas face ao que nos é narrado.

George MacDonald Fraser (1925-2008) foi ele próprio um militar que cumpriu serviço na Índia. Em 1969 deu ao prelo este “Flashman” que viria a ser o primeiro de uma longa série (12 volumes) onde a personagem principal teria sido alguém de carne e osso que teria vivido uma carreira militar fulgurante na segunda metade do séc. XIX, estando assim presente na maioria dos conflitos em que o Império Britânico se viu envolvido. Supostamente esse militar, já numa idade avançada, sensivelmente no início do séc. XX, propôs-se a narrar todas as suas aventuras de uma forma como elas de facto sucederam. Os documentos daí nascidos teriam ficado guardados durante 50 anos até serem descobertos acidentalmente. Fraser foi então convidado a organizar os documentos encontrados nascendo daí toda uma narrativa acerca de como um cobarde bajulador chegou a herói.

A premissa é excelente e mais excelente é o que daí nasce.

Flashman é obviamente uma personagem de ficção, mas não são de ficção os acontecimentos históricos e a maioria dos personagens o que, por si só, fazem desta obra um excelente manancial de informação acerca da vida militar, das acções, política e usos e costumes das províncias ultramarinas britânicas (o maior império na altura), neste caso centrando-se na Índia e sobretudo no Afeganistão.

No entanto, para além desses acontecimentos, o que se ressalva é a boa disposição do narrador presente.

Sempre fruto do acaso e tendo uma sorte espantosa, Flashman, que apenas quer ter uma boa vida e dar o maior número de cambalhotas, vê-se destacado como tenente para o Afeganistão. Colónia britânica à altura onde a paz está por um fio, ele consegue aprender rapidamente o idioma nativo o que lhe permite, sem ele fazer qualquer esforço e até querendo o contrário, tomar parte da vida militar ao mais alto nível, servindo de mensageiro entre o alto comando britânico e os chefes afegãos. Depressa se sê envolvido em diversas confusões onde a sorte o acompanha em situações caricatas e hilariantes.

E há de tudo.

Desde rixas a duelos, ajustes de contas por causa de saias, revoltas espontâneas, ataques furiosos de bestas peludas (os afegãos), chega a ficar refém lutando pela vida com um anão defeituoso, enfim, é agredido vezes sem conta, chora baba e ranho e vê-se continuadamente frente a frente com a morte mas acaba por se ir safando à pala da sua imensa cobardia.

O autor é excelente na forma como constrói o enredo. Há momentos de narração de batalhas sangrentas e reais (batalha de Gandamack, imagem acima) que passa de muito sério, com cenas de chacina, a momentos de ir às lágrimas de tanto rir.

No seu jeito gingão, não tendo problemas em admitir a sua cobardia (na altura em que narra os acontecimentos, não na altura dos mesmos), Flashman acaba por ser tornar num herói à força para seu gáudio, galhofando com tudo o que lhe aconteceu e não escusando de gozar a quem enganou, todos.

Foi um livro tão divertido que me trouxe à memória várias cenas da minha banda desenhada preferida. Embora o continente e o povo seja outro, a acção temporal e as confusões retractadas são as mesmas.

Fico ansiosamente a aguardar os restantes volumes desta serie.

4 comentários:

WhiteLady3 disse...

Desde que saiu que tenho andado de olho neste livro que pela crítica parece ser divertido. :D E com chacinas!

Sabendo que também és fã de Cornwell, recomendas? :P

Alice disse...

Normalmente quandolemos os mesmos livros as nossas opiniões não divergem muito. Fico contente que tenhas lido este volume...já ando a namorá-lo desde que foi editado (também não é assim tanto tempo) mas não tinha lido nenhuma crítica nem conhecia ninguém que o tivesse lido.
Depois da tua opinião, vai direitinho para a wishlist!!

NLivros disse...

Olá White!

Repara, o estilo não é semelhante ao de Cornwell.

Aqui o autor, dentro do rigor histórico que emprega, constroi um trama e principalmente um personagem tão caricato que nos dá uma visão hilariante dos acontecimentos. Digamos que quando estava a ler o livro, para além dos "Túnicas Azuis" recordava-me muito o "Asterix". Tipo quando os romanos atacam e são recebidos à porrada, aquilo é só chapada e fugas cobardes, etc. "Flashman" é um pouco isso.

Recomendo pois!

Quem quiser passar bons momentos e conhecer um dos personagens mais hilariantes e de certo o mais cobarde, então tem de conhecer Flashman.

Tenho é pena do 2º volume só estar previsto para Outubro.

NLivros disse...

Olá Alice.

Sim, este 1º volume tem cerca de um mês.

Eu repito, é um livro maravilhoso, há muito tempo que um livro não me fazia ir às lágrimas de tanto rir.

Recordo-me especialmente de uma cena onde o forte é atacado. Bem, o homem "borra-se" todo de medo e depois daquilo acabar, tendo ele uma sorte espantosa, ainda é tido como um herói. As descrições são tão cómicas que por vezes tinha de parar. Voltava a trás e voltava a parar, isso por tanto rir.

Acreditem, é delicioso!