sábado, 31 de dezembro de 2011

Balanço Pessoal de 2011

À semelhança do efectuado nos dois últimos anos, esta é a altura de todos os balanços e, como este é um blog dedicado à literatura, vou fazê-lo em relação aos livros que li em 2011.

Este ano li menos do que o ano passado. Confesso que não dediquei tanto tempo à leitura como o fiz no passado, mas enfim, sempre fui lendo e acabei por ler livros interessantes e outros menos, alguns, que nem os considero como leitura, desisti a meio ou pouco depois de os começar. De observar que este foi um ano algo pobre em livros que me empolgassem, daqueles que deixam saudades, que planeamos reler algum tempo depois. Um pouco por culpa própria, pois insisti muito em obras novas em prejuízo de alguns clássicos que continuam na pilha, algo que penso modificar em 2012.



Livros Lidos: 52
Páginas lidas: 17406
Média diária (páginas): 48
Média Livros mês: 4
Média Página/Livro: 334



Meu Top:


1 - A Selva










O Mais Prazeroso:

A SelvaFerreira de Castro: 2011 foi o ano que descobri Ferreira de Castro, autor que foi durante muitos anos o autor português mais traduzido e aquele que esteve muito perto do Nobel, ou pelo menos falava-se sempre nele como possível vencedor. Esta obra é excepcional, é um grito de revolta sobre a vida escrava dos seringueiros, mas é simultaneamente um documento sobre o Ser Humano e uma autobiografia do autor. Uma obra de leitura obrigatória para quem se considera um leitor.


Mais Divertido:

Opereta dos VadiosFrancisco Moita Flores: Entre a seca e a diversão, foi um livro que me aborreceu mas que, de entre os 52 lidos, o que mais me fez rir. Uma obra que diria actual, mas vale a pena ironizar com a javardice governamental quando já nem o povo lhe acha piada?


Trabalho a Ler:

A insustentável Leveza do Ser – Milan Kundera: Um livro denso, profundo, onde demorei bastante tempo a entrar na escrita e no universo do escritor. Muito bem escrito, mas que me decepcionou face à imensa fama que tem, mas que não me despertou grande interesse. Nem me apeteceu escrever a opinião.



Decepção:

As cruzadas vistas pelos Árabes - Amin Maalouf: Outro livro muito afamado de um autor que é sempre mencionado para o Nobel da literatura, mas que se trata unicamente de um amontoado de informação histórica pinçalgado por ficção. Não gostei. Para além disso encontrei várias inverdades Históricas no livro, o que, por si só, é grave. Outro livro que nem me dei ao trabalho de pensar e escrever uma opinião.


Não consegui acabar:

Não vou referir nenhum, porque não me recordo de nenhum título em especial.


O Pior:

Por ti ResistireiJúlio Magalhães: Uma fraude, sem interesse, sem ritmo, sem nada. Uma nulidade, um autor construído pela sua imagem pública que não consegue cativar e que demonstra não saber pesquisar. O assunto deste livro dava “pano para mangas”, mas deparamo-nos com uma história de amor simplista, mal escrita, cheio de clichés. O ano passado considerei o livro “Longe do Meu Coração” como a decepção. Este ano considero a pior leitura de 2011.


A Revelação:

João Paulo Oliveira e Costa e Cristina Torrão: A literatura portuguesa tem óptimos autores e este ano constatei estes dois nomes que me empolgaram. São dois estilos diferentes, mas semelhantes na forma excelente como construem os romances Históricos e como nos situam no contexto e na época.


Em relação ao blog, quero agradecer as visitas diárias e as mensagens de apoio e trocas de ideias sobre livros. É para isso que eu iniciei esta aventura na blogosfera, e, embora possa por vezes parecer que estou ausente ou desinteressado, a realidade é que todos os dias dou uma espreitadela e sempre que posso, escrevo opiniões e outros artigos. Um bem haja a todos.

Como devem também ter notado, acabei com os passatempos e com as promoções a novos livros. Sem me dar conta, estava a transformar o meu blog num espaço quase gratuito para as editoras promoverem os seus livros. Para além do trabalho que tinha em estruturar essas promoções, ainda tinha de aturar certas exigências, sobretudo no que respeita aos passatempos. Para além disso, e respeitando quem o faça, não aprecio tantos passatempos que inundam a blogosfera e, constatei também, que surgiram muitos blogs apenas com o intuito de sacar livros às editoras. O meu blog é um espaço pessoal, onde escrevo, filosofo e divago sobre as obras que leio, um espaço de trocas de opiniões e, decidi, que não pode ser tomado por alguém que tem como intenção o lucro comercial, esquecendo muitas vezes os leitores.

Para todos os ilustres amigos e amigas que ajudam a crescer o NLivros, um forte abraço e:



segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Marquesa de Alorna – Maria João Lopo de Carvalho


Antes de mais, é sempre um enorme prazer ler bons romances históricos, o meu género preferido. Num bom romance histórico, para além de nos ser dado a conhecer a época abordada, o autor consegue-nos situar e quase que interagir com os personagens, uma espécie de relacionamento à distância, como se de facto conhecêssemos as pessoas, fossem nossas amigas e só a distância física nos impede de estarmos e falarmos com eles.

Pois bem, Maria João Lopo de Carvalho, consegue, com este seu primeiro romance histórico, precisamente isso, conseguindo mais, empolga-nos na forma como descreve, não só a vida fascinante de Leonor de Almeida Portugal de Lorena e Lencastre, como consegue também, através de pormenores e imensas curiosidades, trazer os séculos XVIII e XIX para o nosso seio, tornando-os vivos.

Ou seja, resumindo tudo o que vou adiante escrever, estamos na presença de um romance histórico fabuloso, um dos melhores que li nos últimos anos.

Leonor de Almeida Portugal, 4ª Marquesa de Alorna, 8ª Condessa de Assumar, foi uma mulher fascinante assim como fascinante foi a sua vida.

Nasce em 1750, neta de dos Marqueses de Távora que em 1758 iriam ser alvos de um processo que levou à ruína da família, tem no terramoto de Lisboa de 1 de Novembro de 1755, a sua primeira recordação que irá marcar a sua vida. Não só pelo acontecimento em si, como também porque, quase no seguimento, vê os seus avós Távoras encarcerados e mortos no cadafalso. No seguimento desse célebre processo movido pelo Marquês de Pombal, um dos ódios de estimação da Marquesa, que ordena a prisão de toda a sua família. As mulheres no convento de Chelas e seu pai, na Torre de Belém e posteriormente no forte da Junqueira.

É lá que Leonor irá passar 18 anos. Imaginem o que quase duas décadas de prisão, por um crime que nem sequer existiu, fizeram na mente daquela família.

No entanto, é no cárcere que Leonor constrói a sua personalidade. Começa desde muito nova a escrever ao seu pai e, como ele gostava de poesia, Leonor entretém-se a escrever poemas que os envia ao pai. Curiosa e muito inteligente, entrega-se ao estudo das obras de Rousseau, Voltaire, Diderot, Bayle, entre outros. É o início de uma actividade que lhe irá trazer fama no futuro e o cognome de Alcipe.

Tudo isto e a restante da sua vida fascinante, Maria João Lopo de Carvalho narra brilhantemente. A liberdade e reencontro da família, a luta por limpar o nome dos Távoras, o seu casamento, o nascimento dos filhos, a estadia na corte de Viena onde conheceu Mozart, Salieri, o arquiduque da Áustria José II, entre tantos episódios e acontecimentos que fizeram de Leonor uma mulher do seu tempo mas com uma mentalidade muito além do seu tempo.

Um livro volumoso, mas que se lê num sopro, face à qualidade da escrita, simples e objectiva, e à forma estruturada como a autora coloca os acontecimentos. Sem qualquer pressa, sem pular épocas, tudo está devidamente organizado e facilmente seguimos o percurso da marquesa desde a sua infância até à sua morte em 1839.

Um livro altamente aconselhável, que me deu imenso gozo a ler e que me permitiu ter um conhecimento algo diferente desses dois séculos, sobretudo a segunda metade do século XVIII. Uma época marcada pela Revolução francesa que teve um impacto decisivo no rumo das sociedades.

sábado, 17 de dezembro de 2011

Solitude, Pequenas Histórias de Grandes Viagens – Sérgio Brota


Confesso que quando iniciei este livro de Viagens, pretendia efectuar uma pequena análise etapa a etapa das viagens descrita. Assim o fiz nos primeiros capítulos, nomeadamente em “Japão – O Estranho Império” e “Transberiano – A Estação do Frio”. Depois, acabei por deixar um pouco de lado o livro e, quando dei por mim, havia-o terminado sem que tivesse voltado a escrever.

Desta forma, vou optar por efectuar uma pequena análise ao conjunto da obra.

Conforme referi nas duas análises anteriores, gostei do estilo de Sérgio Brota. É objectivo e narra, não só o que vai observando, como tem a capacidade de efectuar considerações que nos dão uma imagem pessoal do observado. Ou seja, o autor à medida que se vai deslocando, visitando locais, vai-nos dizendo o que vê, no entanto dá-nos também a sua opinião pessoal em simultâneo que nos enquadra, não só nem termos de espaço-tempo, como também em relação à História do local e do país em questão. Importante realçar a interacção com os locais e a vontade e curiosidade nos costumes e na alimentação.

Diria, no sentido de perceberem o que quero dizer, que Sérgio Brota utiliza uma linguagem cinematográfica. A descrição é efectuada dessa forma, pingada aqui e ali com as tais considerações pessoais que, a meu ver, enriquecem muito a obra porque nos dão uma imagem mais realista do local visitado. E por falar em imagens, nota para as várias fotografias, do autor, a preto e branco que nos ajudam a situar e a visualizar aquilo que o autor observa.

Nota final para a edição da chancela da Papiro Editora. Passe o paleio da editora no seu site, a qualidade desta edição, que deduzo seja daquelas que o autor suporta a maioria das despesas, e refiro-me à encadernação, é talvez o pior que vi até hoje. Folhas individuais, cortadas e coladas a quente. Quando iniciei a leitura, umas 20 páginas depois, já todas estavam soltas. Imaginem como ficou no final. Uma salganhada incrível de folhas soltas. Tive de utilizar cola de encadernador para que o livro ficasse digno de figurar na estante, no entanto e numa análise mais detalhada, este é um exemplar que dificilmente poderá ser lido sem que a mesma cena se repita. Publiquem barato, mas não abusem, pois há aí tanta bosta a ser publicada com encadernações de luxo, que obras de facto com o valor que Solitude tem, merecia uma melhor atenção.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Amigas para Sempre – Fátima Lopes


Quatro amigas encontram-se num restaurante para festejar os anos de uma delas.

À medida que o jantar vai avançando, começam as revelações pessoais de cada uma e onde são revelados segredos guardados nos seus íntimos que muito surpreenderão as restantes.

Cada uma delas acaba por ser um pouco o espelho da nossa sociedade, no aspecto em que revelam o medo da vergonha, o medo de ser julgada ou criticada, de mostrar que o que temos não é bem aquilo que mostramos, ou seja, as falsas aparências.

São mulheres com habilitações superiores, bem sucedidas profissionalmente mas que, porém, no aspecto pessoal, têm uma vida vazia, vivem das aparências, vivem para a sociedade.

As revelações são surpreendentes e, através do desabafo que vão tendo, onde exprimem as suas dificuldades, complexos e problemas, assistimos a um transformar da vida de cada uma delas, demonstrando que a verdadeira amizade pode transformar vidas.

De uma escrita muito simples e directa, o livro é curto e face ao tamanho das letras diria que, bem exprimido, faria um livro de umas 100 páginas, Fátima Lopes escreve uma história banal e sem qualquer necessidade de pesquisa, ou seja, para escrever uma história destas, bastou sentar-se e narrar um casual encontro de amigas onde mencionados os dramas de cada uma, tipo numa conversa enquanto é servido um chazinho com bolinhos.

Nada de especial, é agradável, lê-se bem e num ápice (qualquer coisa como umas 4 horas e com intervalos), e faz-nos ver que por muito que as coisas estejam, podem sempre melhorar, basta a gente querer. No entanto é por livros destes que muitos leitores recusam ler livros escritos por jornalistas num aparente aproveitamento da sua figura pública. Há autores e autores. Fátima Lopes é banal na forma como escreve. Nada nos ensina, apenas nos entretém e de notar que esta história de interesse tem pouco, mas enfim, comparar este livro mo qualquer livro de José Rodrigues dos Santos ou Miguel Sousa Tavares, é a mesma coisa em comparar Lagosta com berbigão. Nada a ver!

Um livro que pode até ser de leitura importante para quem esteja por baixo e com pouca esperança na sua vida pessoal.

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Vidas Surpreendentes, Mortes Insólitas da História de Portugal – Ricardo Raimundo


Geralmente a História refere a vida e feitos individuais e colectivos que deram origem a acontecimentos que, obviamente, tiveram influência no percurso das sociedades e civilizações, sem que, de uma forma geral, se aborde a morte ou o fim desses indivíduos ou dessas civilizações. Geralmente são tratados de uma forma isolada e não como parte integrante da História, parecendo que a morte não faz parte integrante da vida e da evolução dessas sociedades e civilizações.

A obra presente sintetiza, de uma forma brilhante, a vida de alguns personagens que, de uma forma ou de outra, tiveram grande importância na História de Portugal. Mas o autor vai mais longe. Conforme o título deixa antever, depois de sintetizar a vida, narra a forma como esse personagem faleceu e em que condições, e é aqui que, quanto a mim, reside o fascínio desta obra.

É importante referir que o livro está dividido em três fases: Época Medieval (séculos VI-XV), Época Moderna (séculos XV-XIX) e Época Contemporânea (séculos XIX-XX), e nestas três época é interessante verificar a evolução das mentalidades das épocas em questão.

E em todas estas épocas surgem personagens fascinantes sendo, algumas delas para mim, totalmente desconhecidos. No entanto e independentemente da sua maior ou menor importância na História de Portugal, o que se assinala é que no tempo delas, foram tidas e consideradas e que a sua morte trouxe consternação e até mistérios à forma como pereceram.

Depois é muito curioso constatar a morte horrível e surreal de maior parte dos personagens referidos. Há de tudo, de mortos por ataques de leão, a morto e comido pelos canibais, homicídios ainda por explicar, suicídios encenados, envenenados, acreditem, de tudo e, geralmente, impressiona que depois de vidas tão ricas e algumas igualmente curtas, acabem de forma tão surreal e estranha.

Em suma, um livro extraordinário que me encantou. Para além de me dar a conhecer vários personagens que desconhecia, fascinou-me a forma sintética, no entanto clara e esclarecedora, como o autor narrou a vida e morte.

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Deuses Enfurecidos – Renato Fontinha


Confesso que desconhecia este autor e em boa hora decidi empreender a leitura desta obra que se revelou prazeirosa e informativa.

Já tinha lido sobre os Descobrimentos, mas nunca havia lido sobre o modo de vida e de como os portugueses se relacionaram com os indígenas, como efectuaram a mistura de culturas, ou como conseguiram coabitar nativos com europeus e africanos.

Renato Fontinha leva a cabo um trabalho extraordinário de reconstrução desses tempos, dando-nos a imagem de como os portugueses conseguiram controlar os índios e, simultaneamente, amedrontar e “domar” os negros que eram trazidos de África como escravos.

O romance situa-nos em pleno séc. XVI, ano de 1550, numa altura em que portugueses e castelhanos tentavam tomar efectivamente posse das terras que lhes pertenciam, estabelecendo feitorias, erigindo colónias de modo a que os seus domínios se solidificassem, procurando também impor-se aos indígenas locais, não só pela força, como e principalmente, pela religião que tomava contornos de sobrenatural para os ingénuos índios que, dessa forma, eram explorados, sem contudo serem tratados como escravos.

Guiana, Congo, Brasil e a selva Amazónica, são os principais locais deste romance e onde o autor vai explorando e descrevendo a forma como os portugueses procuraram erigir colónias e a forma como se comportavam e relacionavam com os outros povos. Aqui, ressalta a enorme presença de degredados, pessoas violentas, assassinos e até pessoas perseguidas pela igreja, compunham a maioria dos portugueses que estavam a colonizar… imaginem!

O Rei de Portugal decide fundar uma colónia na foz do Amazonas e dá-lhe o nome de Nova Lisboa. Para além do governador que já se encontra nessa colónia em construção, a coroa envia alguns personagens cuja missão será o de compor os cargos de Estado e da Igreja. Dessa forma, desembarcam um tabelião honesto, mas medroso e cobarde e cuja maior ambição é enriquecer e ser amado pela sua jovem esposa que o trata dom desdém. Um padre com citações religiosas na ponta da língua, altamente corrupto e que pela absolvição dos pecados, recebe o pagamento em actos libidinosos.

Índios canibais, cuja maior honra, é partir ou partirem a cabeça à paulada e que vêm o sexo como algo muito natural. Negros que se vêm como escravos, mas que descendem da realeza, bandeirantes cujo único objectivo é traficar escravos e matar por vingança.

Um livro de leitura fácil, com capítulos curtos, mas que nos dão uma imagem daqueles conturbados tempos e da forma como Portugal se estabeleceu naquelas terras, ressaltando o enorme esforço que muitos fizeram para consolidar a presença portuguesa.

Uma obra que, para além de nos entreter, nos ensina e mostra o outro lado dos Descobrimentos. Um lado mais cruel e duro, onde se percebe por onde começou a coabitação e do porquê da facilidade da evangelização.

sábado, 19 de novembro de 2011

Bem-Vindo ao Céu… Malandro – João L. Bento


João Diogo, jovem veterinário e recém casado com Joana, que o autor não cansa de elogiar a sua beleza escultural, vive uma vida edílica com a sua esposa, parecendo que tudo é para sempre e a felicidade, a par com a sexualidade activíssima, jamais poderá terminar.

Porém, eis que João sofre um acidente de viação e… perde a vida, deixando na terra muito para fazer e muito para amar.

Este é o acontecimento central que vai marcar o ritmo e o sentido da história.

João, que está muito preso a esta vida, não acredita que morreu e que a mulher escultural que era sua, já não é, e, vai daí, não consegue libertar o espírito. No entanto, eis que surge o guardião, uma espécie de anjo que o vai ajudar a passar para o outro lado, mas será que João quer?

Gostei do livro porque o autor, assente num trama algo banal, conseguiu expor o que, quanto a mim, seria o seu principal objectivo: a vida espiritual.

Ou seja, o autor possui uma teoria e expõe-la nesta obra. Independentemente de crermos, ou não, o certo é que é curioso seguir o percurso de João desde a sua morte. Nessa teoria, o autor percorre a vida após a morte, e inclusivamente a reencarnação. Pessoalmente é algo que tenho opinião diferente, mas achei curioso e até faz algum sentido, ler sobre uma opinião diferente.

Algo que também me agradou, e confesso, até me deu gozo ler, foram os surreais diálogos entre João e Deus, por vezes utilizando linguagem vernácula. Acreditem que chega a ser profundos alguns desses diálogos e transbordam de ironia, mordacidade até.

A escrita é simples e fluida. Lê-se muito bem e entretém, pecando um pouco a forma repetitiva e abusiva como o autor refere a beleza escultural de Joana e o seus encontros lésbicos. Entendo que o autor quis dar algum erotismo à história, mas, a meu ver, peca pelo exagero com que repete as situações e as descrições dos encontros sexuais chegam a roçar o absurdo, tirando o interesse.

Em suma, um livro interessante que podia ir muito alem, pois o autor podia, face ao volume, ter explorado melhor a parte espiritual, em vez de perder tanto tempo com preliminares sexuais lésbicos que nada dão à história.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Ladrão de Túmulos (O) – António Cabanas


Extraordinário!

Cerca de 1200 a.C., Ramsés III, o segundo faraó da XX dinastia egípcia e considerado o último grande faraó do Império Novo, reina um imenso e respeitado império que se vê constantemente ameaçado por invasões.

Ficando para a História como um brilhante estratega, foi sob o seu reinado que aconteceram duas importantes e violentas batalhas que trouxeram paz, no entanto, é também no seu reinado que a decadência do império se torna visível face à cada vez maior influência da classe sacerdotal de Amón que acaba por tomar o poder através de Herihor, elevado a faraó no ano 1080 a.C, pouco mais de cem anos após Ramsés III.

A história da obra situa-se no reinado de Ramsés III e o autor leva a cabo uma descrição exaustiva e fascinante da civilização egípcia e, principalmente, do povo, gente comum, pobre, temente aos imensos deuses que povoavam o panteão egípcio.

Só por essa razão o livro teria todo o meu destaque, pois desconheço se algum autor alguma vez teve a coragem de tentar recriar uma sociedade com 3200 anos de antiguidade. No entanto, hoje em dia há um excelente conhecimento sobre o modo de vida, usos e costumes de todas as classes sociais, e o autor utiliza com mestria esses conhecimentos, transportando-nos a uma época nos primórdios da civilização.

Mas Cabanas consegue ir mais longe; para além de traçar um brilhante trama que mistura policial, drama e aventura, ainda nos brinda com um infindável número de informações acerca das crenças, dos deuses e da vida militar que explicam como Ramsés III conseguiu debelar perigosas invasões.

O único senão que achei na obra, mas que não impediu que eu devorasse o livro em dois dias, é a inverosímil relação de amizade entre um dos príncipes e um dos protagonistas da história.

Numa escrita cativante, o autor delineia um fresco do grande Império egípcio quando já se sentiam alguns ventos de mudança assentes em sinais de decadência. Até isso é explorado, fazendo-nos entender do porquê da progressiva queda.

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Último Segredo (O) – José Rodrigues dos Santos


Neste seu novo romance, JRS traz de volta esse personagem que já começa a ser mítico, pelo menos entre os apreciadores dos livros de JRS, o historiador e criptanalista tuga chamado Tomás Noronha.

E, permitam-me já dizer, que é um regresso em grande forma.

Conforme acontece nos seus romances thrillers/policiais que muitos continuam a teimar em comparar aos de Dan Brown sem saberem bem o que estão a dizer, mas como acontece nos livros de JRS desse género, a história inicia-se com uma série de estranhos crimes, sendo que, para além do modus operandi do assassino, o que torna os factos mais estranhos são as estranhas “pistas” ou “mensagens” que esse assassino deixa nos locais do crime.

Ora bem, até aqui tem de facto muito de browniano. De facto! No entanto é apenas no início que podemos efectuar comparações. Bem sei que depois há a perseguição ao assassino, a descodificação dessas pistas, etc, etc. No entanto, a principal razão que gosto bastante dos romances de JRS é porque o homem sabe colocar acontecimentos verídicos à medida que vai urdindo um trama todo ele, ou quase, coerente. Ou seja, os romances de JRS ensinam-me, divertem-me e entretêm-me.

Já o disse em diversas alturas que a principal objectivo de um livro é o de entreter, divertir, levar-nos a viajar, fazer companhia e, se possível, ensinarem. Que adianta ler um livro considerado um portento da literatura, se essa leitura for penosa, aborrecida e enfadonha?

Posto isto, e voltando à obra, lá é chamado o Tomás a fim de resolver todos esses crimes. A acompanhá-lo, obviamente, uma beldade, nomeadamente uma agente policial italiana.

No desenrolar das investigações, Tomás Noronha apercebe-se que os enigmas deixados nos locais do crime aludem à própria Bíblia e à construção narrativa da mesma que teve como intenção crer em alguém que, se calhar, não foi bem aquilo que se quis e quer pintar.

E lá começam eles uma demanda por vários países da Europa que finda em Israel, a Terra Prometida, o local onde Jesus nasceu, foi criado e morreu.

Numa reconstituição de factos históricos que considero notável, JRS interpreta várias fases da Bíblia e demonstra que a mesma esconde muitas falsidades, a maioria, intencionais, que foram sendo criadas ao longo dos séculos. À medida que vai construindo esse “edifício”, vai demonstrando a verdadeira imagem de Jesus e não o faz de uma forma leviana, sem provas. O que ele efectua não é nenhuma novidade e não foi ele que inventou ou pensou nisso, o que ele faz é aplicar os conhecimentos Históricos à época e interpretar o que está escrito à luz desses conhecimentos.

Posso até admitir que algumas das análises são de facto algo simplistas como li algures. Porém, qualquer pessoa com os mínimos de conhecimentos Históricos e um pouco informada, não pode ficar surpreendida com os episódios narrados e a análise efectuada aos mesmos. Hoje em dia, é mais do que óbvio, que a Bíblia ou qualquer outro livro sagrado, foi escrito não pelos apóstolos, profetas ou a quem se atribui os textos sagrados, foi sim escrito por outros com a intenção de convencer.

Em suma, um bom livro em que o principal tema é, claramente, a demonstração que Jesus foi um homem comum e que a sua deusificação foi construída muito posteriormente e assente em inverdades e interpretações erróneas, que se lê com prazer e que nos faz pensar e ver o quanto ignóbeis foram e continuam a ser tantos. No entanto isso vale o que vale, penso que não vai alterar em nada a fé de cada um.

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Império de Areia – Robert Ryan


D.E. Lawrence foi uma personagem fascinante na revolta árabe durante a 1ª Grande Guerra. Fascinante e deveras misterioso, pois a sua história ainda hoje não é totalmente conhecida, existindo muitos pormenores e factos por esclarecer, assim como acontecimentos sem quaisquer explicações.

Em todo o caso esta é uma obra de ficção, mas os acontecimentos descritos sucederam mesmo e isso faz com que o presente livro seja, de facto, um romance notável.

Mas a estrutura e a escrita simples do autor ajudam. Uma escrita simples que nos faculta todas as informações necessárias para a percepção da época e do seu contexto, o autor constrói uma narrativa que nos envolve e nos situa na acção e na época.

Aqui presenciamos o nascimento da lenda e do porque de ele ter tido uma importância tão elevada na revolta.

Gostei muito deste romance e da forma como o autor conseguiu situar toda a acção, pois é precisamente isso um dos propósitos do romance histórico: situa e envolver o leitor na época descrita.

Uma obra aconselhável.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Império dos Pardais (O) – João Paulo Oliveira e Costa


Felizmente que dentro do género histórico, a literatura portuguesa tem já alguns títulos de imensa qualidade e autores que já olham para o género sem o olhar de desdém que era usual.

Desde há uns anos para cá o panorama mudou e começou-se a assistir ao surgimento de romances históricos escritos por autores portugueses, tendo como protagonistas momentos e figuras da nossa rica e vasta História.

João Paulo Oliveira e Costa, historiador, lança-se no género com este “O Império dos Pardais” e em boa hora o fez, pois deu à estampa uma obra de eleição.

O título, por si só, é uma homenagem à gesta dos Descobrimentos, sendo também uma metáfora à forma como um pequeno país conseguiu construir um império tão vasto e poderoso, enquanto outras nações bem maiores andavam entretidas a digladiarem-se entre si.

Situando-nos sobretudo no reinado de D. Manuel I, o autor, assente em diversas personagens fictícias, narra com uma clareza impressionante, numa escrita, diria cinematográfica, como foi possível acontecer tal milagre do império.

E facilmente concluímos onde esteve o segredo, sendo inegável o orgulho que sentimos por pertencer a uma nação que soube ser grande e soube-o sendo perspicaz e extremamente inteligente.

Um livro envolvente que se lê num sopro e que tem a capacidade de nos envolver de uma tal forma, que somos transportados para a Lisboa do séc. XVI, onde percorremos as ruas de Alfama, Alcântara e o Cais da Ribeira, sentimos o pulsar das suas gentes, do rei e dos seus amigos.

Em simultâneo, jogos de espionagem e lutas sangrentas contra os Mouros em terras africanas que a coroa portuguesa procurava conquistar, pois era aí que residia o segredo do Império dos Pardais.

Um livro imperdível e inesquecível!

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Jogo do Anjo (O) - Carlos Ruiz Záfon


Záfon é um autor de best-sellers vendendo milhões de livros em todo o mundo e criando um conjunto de fãs que o veneram como um Deus, sendo comum lermos considerações que o intitulam como o melhor escritor da actualidade.

Exagero, sem dúvida, face à escrita, que até é agradável, mas sobretudo face ao argumento que o autor se utiliza na criação das suas histórias e, para isso, estou a pensar nos dois títulos emblemáticos: “A Sombra do Vento” e “O Jogo do Anjo”, nitidamente romances escritos para um público alvo mais juvenil, num género que oscila entre a Aventura, policial, fantástico e gótico, sobressaindo claras influências de outros autores como Allan Põe no gótico, Victor Hugo na aventura, e até situações em que nos debatemos em questões de foro psicológico que fazem lembrar Dostoeivsky ou até no absurdo se nota influências de Lovercraft.

Em todo o caso Záfon tem um estilo próprio que o distingue da maioria dos escritores e que faz dele, não só um autor muito lido, como também muito solicitado pela industria do cinema, pois e nisso confesso a minha simpatia, ele consegue transmitir imagens do que escreve, ou seja, tem uma escrita muito cinematográfica e isso é ainda mais surpreendente quando estamos a falar num estilo que tem tanto de policial, como de aventura, fantástico ou terror e gótico.

Gostei da “A Sombra do Vento”! Não tanto pela história, mas sim por esta mistura de estilos e pela forma como o autor vai buscar situações  a outros livros e as encaixa no seu argumento, assim como gostei das várias metáforas criadas e da forma como o autor explora as várias facetas humanas. Numa escrita ora poética, ora objectiva e por vezes bem directo e incisivo, é, acima disso, original como conjuga os estilos e os géneros e, no final, admiti estar na presença de uma belíssima obra que merecia a fama que lhe tinham dado.

No entanto “O Jogo do Anjo” já não é bem assim, revelando-se um livro muito semelhante à “Sombra do Vento”, não bem no seu conteúdo, mas na forma como o autor procura conduzir a história e na forma como vai criando as situações e a encruzilhada que é o enredo.

Gostei de ler sobre a Barcelona dos anos 20 e acho que o início do livro está fantástico. David Martín, um jovem escritor que recebe uma proposta de um estranho editor chamado Andreas Corelli para escrever um estranho livro a troco de uma fortuna. Claramente que aqui se encontra o conceito de “vender a alma ao Diabo” que o autor vai sabiamente explorando ao longo do livro. A livraria Sampere e Hijos e o Cemitério dos livros esquecidos que já connosco coabitaram na Sombra do Vento, e até a relação de amizade que mantém com D. Pedro me fez lembrar Dorian Gray e Basil Hallward no “Retrato de Dorian Gray”, ou seja, um conjunto de personagens extraordinárias que vão espalhando o seu perfume nas letras do autor.

No entanto Záfon envereda por um caminho demasiadamente fantástico, traçando uma teia cheia de mistérios que roçam o absurdo e que, na minha opinião, tiram beleza ao livro e a alma que o escritor cria no primeiro terço, pois, às tantas, o que parece não é e o que não parece vai dar em becos com pouco sentido que desvirtuam a realidade e que dão pouca coerência à história. A parte final então é surpreendente pela forma como o autor não consegue dar um término aceitável, terminando tudo num amontoado de inexplicáveis situações, num labirinto literário que não vai dar a lado algum e que nos deixa deixa com uma sensação de “esperem, acho que perdi qualquer coisa”.

É um bom livro sobretudo para os amantes do género fantástico, mas que está longe do brilhantismo da “A Sombra do Vento”

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Guia para ficar a saber ainda menos sobre as mulheres – Isabel Stilwell


Confesso que peguei neste livro sem qualquer expectativa e com apenas duas pretensões: 
1) Lê-lo o mais rápido possível para o tirar da pilha (o que consegui em duas horas); 
2) perceber que género de livro se tratava, pois a autora merece-me o maior respeito devido a outros livros que li e gostei.

E até que é engraçado!

Escrito de uma forma mordaz e cheio de humor, Isabel Stilwell elabora um género de manual onde expressa as tremendas capacidades femininas que tanto baralham e irritam os homens. No entanto vai mais longe, admite que as mulheres são complicadas por natureza e que, mesmo inconscientemente, manipulam os homens a seu belo prazer.

Achei muito curioso constatar situações já vividas por mim próprio, ficando também mais descansado por perceber que o mal nem é tanto meu, mas sim dessa inata capacidade feminina em complicar.

É pois um guia que dá dicas de como o homem agir, do que as mulheres gostam, do que a faz feliz, pelo menos temporariamente, pois a seguir já não serve e voltam a complicar.

O tom é sempre irónico e cheio de humor. A autora vai ao ponto de publicar cartas supostamente escritas por diversos tipos de homens (o charmoso, o macho latino, o gentleman, etc) e a sua resposta “merecida”. É hilariante algumas das cartas em reacção a este livro, acabando em beleza com um sms de um leitor e a resposta de Isabel com um sms merecido.

Uma obra muito curiosa e divertida que proporciona aos homens e se calhar até às próprias mulheres, um bocadinho de conhecimento do intrincado, misterioso e complicado mundo das mulheres.

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Física do Futuro (A) – Michio Kaku


Michio Kaku, professor catedrático de Física Teórica, lança-nos uma visão do futuro próximo no que concerne à tecnologia que estará disponível.

Sempre baseado na ciência, aliás, o autor é rigoroso nas suas descrições, não só pela sua formação como também porque entrevistou mais de trezentos cientistas, é-nos aqui apresentados uma série de factos que, mais do que meras hipóteses ou utopias, são já certezas face ao desenvolvimento em vários laboratórios.

Partindo do pressuposto de como se sucederá a evolução até ao ano 2010, o autor vai explorando a evolução dos automóveis, dos computadores, do lazer, tv, internet, etc. As naves espaciais usarão a propulsão a laser e serão normais as viagens espaciais. O autor vai dando exemplos de como estava o mundo no início do séc. XX e como está agora, da forma como a evolução foi acontecendo há medida que a própria ciência ia evoluindo, ou sejam ciência e criação são indissociáveis.

Uma excelente obra que nos dá uma visão excitante do que vamos ter à nossa disposição dentro de poucos anos.

Como senão, o autor, por vezes, utiliza linguagem científica que torna os capítulos algo enfadonhos. Achei também que o autor simplesmente desconhece a História dos Descobrimentos portugueses. No capítulo onde ele explica o porquê dos europeus terem dominado o mundo nos últimos 500 anos, ele simplesmente ignora o papel dos portugueses porque o desconhece.

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Fio do Tempo (O) – João Paulo Oliveira e Costa


Que livro maravilhoso!

Adquiri esta obra conjuntamente com o best-seller “O Império dos Pardais” e, pese embora este “Fio do Tempo” seja o segundo romance do autor, resolvi começar por ler este primeiro porque a maioria dos acontecimentos narrados são anteriores aos acontecimentos narrados no “Império dos Pardais”.

Antes de tecer as minhas considerações, sinto-me feliz por constatar que há escritores de excelência que estão a escrever sobre a História de Portugal. Uma História riquíssima, longa e que tem muito para explorar, haja quem o saiba fazer com qualidade que, decerto, terá leitores.

Abrangendo 100 anos da História de Portugal, talvez das épocas mais importantes e venturosas da nação, o autor cria D. Álvaro de Ataíde que, no alto dos seus 101 anos de idade, contempla a cidade de Lisboa enquanto a sua mente divaga nas suas recordações.

E é através dessas recordações que nos vamos inteirar de factos que marcaram a História de Portugal e do mundo.

Tudo começa em 1414 quando o jovem Álvaro, que sonhava ser cavaleiro, se inicia no master dos prazeres carnais com Filipa de Andrade, mulher de pouca castidade e de vícios perversos.

A partir daí, a espaços entre o presente (ano de 1500) e o passado, D. Álvaro vai recordando a sua vida e as suas proezas.

Em 1414 reinava D. João I e é já em 1415 que D. Álvaro de Ataíde toma parte na tomada de Ceuta, iniciando-se aí a expansão portuguesa que está na génese dos Descobrimentos.

Agora imagine-se a riqueza dos acontecimentos narrados por D. Álvaro, personagem fictícia é certo, mas cujos episódios são reais e atestam a magnificência e influência que este pequeno país soube alcançar no séc. XIII.

Pertencendo à Casa de Viseu, cujo senhor em 1415 era o Infante D. Henrique, D. Álvaro torna-se um cavaleiro temido e respeitado no reino, conselheiro do próprio infante, ele dá-nos uma visão clara da política da casa real, dos interesses que colocaram duques no trono em simultâneo que salpica a história com um pozinhos de misticismo, introduzindo assim a cultura trazida pelos escravos de África.

Um romance histórico excepcional que nos cativa pela simplicidade da escrita, da estrutura e pela objectividade da narrativa, não se perdendo em considerações ou teses, simplesmente ele narra os factos conforme a História os conhece, dando-lhes sim um tom algo aventureiro digno das façanhas dos seu narrador.

Confesso ser esta uma das épocas que mais me fascina e a Dinastia de Avis aquela que mais aprecio. Talvez isso tenha ajudado a ter gostado tanto do romance, porém é inegável a imensa qualidade do texto.

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Aconteceu uma coisa engraçada a caminho do futuro… - Michael J. Fox


Este pequeno livro (literalmente no formato, li-o numa hora), é um livro que nos fala das pedras numa garrafa e da sua importância na nossa vida.

A metáfora das pedras na garrafa está na base da mensagem que Michael J. Fox pretende passar.

Sem qualquer curso superior, sem sequer ter terminado o liceu, Fox apresenta-nos um breve relato da sua vida e da sua ascensão na indústria do cinema. Emigrado para o Estados Unidos em busca de um sonho, Michael passou fome mas nunca desistiu. Quando estava no apogeu da sua carreira é-lhe diagnosticado a doença de Parkinson que se torna o ponto de viragem da sua vida e, segundo o próprio, a bênção que o fez ver a luz.

É assim uma obra que transmite esperança. Engane-se quem julga tratar-se de um livro onde o autor se vitimiza. Longe disso, fala-nos sim de sonhos e da forma como podemos e devemos viver o dia-a-dia em busca desses sonhos acreditando no melhor e não pensar nas dificuldades antes de elas chegarem.

E curioso a forma como ele insere estas mensagens.

Admitindo não ter tido uma educação que a sociedade tem como conveniente (curso superior, etc), Michael divide o livro por capítulos, nomeando-os com designações de ciências. É por si só uma metáfora à escola da vida que ele, superando as dificuldades, teve que percorrer e vencer.

Em suma, um livro delicioso que me transmite que devemos aceitar o presente como ele é, pois a vida não é linear, há desvios no percurso da vida, estradas que não contávamos percorrer, mas enfim, é a nossa vida e há que sorrir.

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

De Ourique a Aljubarrota – Miguel Gomes Martins


O autor, mestre em História da Idade Média, propõe-se aqui efectuar uma análise aos vários teatros de operações militares da História Medieval Portuguesa entre os meados do Séc. XII e finais da centúria de trezentos. E são quinze episódios que são analisados com um rigor que desde já realço.

Face à escassez de fontes que chegaram aos nossos dias, o autor, para conseguir reconstruir todos os passos, utiliza-se, não só dos seus conhecimentos, como também de uma grande dose de conjectura baseado nos costumes e mentalidade das épocas.

Dessa forma é-nos possível acompanhar, quase passo a passo, não só as razões das várias operações abordadas, como também as estratégias e a descrição das próprias batalhas e isso foi algo que achei fabuloso.

Iniciando com um enquadramento do tema da Guerra na Idade Média em Portugal e dos seus variadíssimos elementos que constituíam a forma como se fazia a guerra, inicia-se então uma viagem por 250 anos da História militar que tem por ponto de partida a Batalha de Ourique (1139) e por meta a Batalha de Aljubarrota (1385).

Em todas as batalhas, cercos e expedições, o autor explica a razão, contextualizando os motivos que estariam por detrás, a descrição e as consequências.

Uma excelente obra que nos permite conhecer um pouco mais e melhor da nossa História e do imenso custo que foi preservar a independência de Portugal.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Impacto – Douglas Preston


Douglas Preston é um conhecido autor norte-americano, cujos livros têm atingido um enorme sucesso ao ponto de vários deles terem-se tornado best-sellers. Misturando thriller com ciência, este seu novo título, “Impacto”, faz jus à fama alcançada e traz à baila um tema tão em voga nos nossos dias: o fim do mundo que está próximo.

Costa de Maine, duas jovens estão a observar o céu nocturno quando vêm um meteorito cair numa pequena ilha. Excitadas com tamanha visão, partem em busca do objecto que caiu algures na ilha.

Noutra parte dos Estados Unidos, o ex-agente da CIA, Wyman Ford, é contratado para se deslocar, com todo o secretismo, a uma mina no Camboja de onde eram originárias umas estranhas pedras cheias de radioactividade.

No National Propulsion Facility um professor é despedido. Com ele leva um disco externo contendo um enorme segredo que irá colocar em causa a segurança do planeta e, quiçá, condená-lo à sua extinção.

Três histórias paralelas que se vão interligando até se unirem num propósito: Um segredo oriundo do espaço com origem extraterrestre.

Gostei do livro mas é um livro que entretém apenas.

A história, como facto científico, pouco tem de verosímil. O acontecimento inicial, pese embora seja interessante, torna-se algo sensaborão quando percebemos o que de facto sucedeu. Mas adiante. Tratando-se de um romance thriller/suspense, é por esse prisma que deve ser lido e apreciado.

E nessa vertente, de facto entretém e faz-nos passar momentos agradáveis. Até digo mais, é um livro que se for adaptado ao cinema, me fará ver o filme, pois tem acção, suspense e efeitos visuais excepcionais.

Com capítulos curtos, ao estilo dos thrillers, a história passa-se num curto espaço de tempo, num ritmo alucinante com os habituais bons-que-procuram-salvar-o-mundo contra os maus-que-procuram-lixar-aqueles-que-querem-salvar-o-mundo, numa autêntica corrida contra o tempo onde não faltam, para além dos clichés anteriormente subentendidos, as incoerências e pontas soltas.

Mas e passe a ironia, trata-se de um livro que se lê com agrado e que não aborrece. Ou seja, lê-se muito bem e como se trata de uma história com um ritmo elevado, depressa damos por nós no seu epílogo e com um gosto de missão cumprida.