quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Opereta dos Vadios (A) - Francisco Moita Flores


Que seca de livro!

Confesso que gosto do trabalho de Francisco Moita Flores. Vi quase todas as suas séries, sendo a “Ferreirinha” um exemplo de grande qualidade a todos os níveis, tanto na representação, nos cenários, realização e, principalmente, da história que nos narra a vida de uma figura da nossa História.

Posteriormente vi essa qualidade espelhada no excelente “A Fúria das Vinhas” e também apreciei bastante Não Há Lugar Para Divorciadas”. Sendo diferentes, ambas são histórias de uma qualidade narrativa óptima e em “A Fúrias das Vinhas”, sentimos novamente o ambiente visto em a “Ferreirinha”.

Foi assim com bastante curiosidade e interesse que empreendi a leitura do seu novo livro “A Opereta dos Vadios”, livro que, segundo a sinopse, se propõe a efectuar uma espécie de paródia à política nacional, criando um cenário onde o Presidente da República demite o governo, abrindo assim espaço para novas eleições legislativas.

Se por um lado temos um governo corrupto, viciado, cheio de tiques abusivos e com telhados de vidro, por outro, um partido de oposição que não desfaz em nada o partido do governo, ou seja, mais do mesmo conforme é usual na nossa praça.

Está assim criado o cenário para o surgimento de um novo partido composto por pessoas desiludidas com o estado do país e que são convidadas por um anarquista milionário exilado em Paris, que vê na Criação do P.U.N., a oportunidade de dar um safanão no marasmo político e social onde o país se encontra atolado.

Visto assim até pode parecer muito interessante e foi com essa premissa que eu fui enganado, até porque comprei o livro e já choro o dinheiro.

A escrita é boa, isso é inegável. Ou seja, lê-se bem, mas apenas isso.

A história é aborrecida, o autor nunca consegue dar qualquer plausibilidade à mesma. Bem sei que se trata de um romance de ficção, mas é perfeitamente perceptível que há por ali muitas mensagens destinadas, muitas piadas com destino e o governo caído em desgraça, todo ele chafurdando alegremente na lama sob a supervisão alemã e do FMI, faz efectivamente lembrar qualquer coisa.

Depois a criação do partido, até se chegar à sua criação, é longa. Se não estou em erro e se estou, erro por uma página ou outra, o partido só nasce na pág. 140, quase a meio do livro, e só nessa altura consegui esboçar uma gargalhada, a única, quando os elementos fundadores se entretém em parodiar a sigla P.U.N. com arrotos intestinais. Até lá, são diálogos enfadonhos, reuniões de amigos ao estilo dos “Amigos de Alex”, que por acaso até é focado na obra, mais parecendo encontros de velhos compinchas quase a chegar à velhice e frustrados com as suas vidas.

O autor tenta de facto criar um cenário comicamente absurdo, porém, não estaremos todos nós fartos do absurdo da política e já nem sequer nos conseguimos rir da sua incongruência?

Por várias vezes parava e pensava nisso. Provavelmente não apreciei a obra porque, simplesmente, já nem tenho paciência para ler paródias sobre o governo e sobre o estado miserável onde os sucessivos governos colocaram o país.

Não diria que é um mau romance. Muitos irão apreciar e rir à brava com tanta trafulhice, estupidez e despropositada politica em prol de interesses, mas a mim aborreceu-me, não retirei qualquer prazer e nem foi de qualquer utilidade, por isso, não gostei.

4 comentários:

HP disse...

Sempre que decido comprar um livro, o seu blogue torna-se visita obrigatória.
As opiniões acerca dos livros que lê influenciam muitas vezes a minha leitura!
Parabéns pelo blogue

NLivros disse...

Obrigado pelo elogio!
Tento apenas dar a minha percepção sobre o livro, não pretendo influenciar ninguém, até porque por isso retirei as avaliações que efectuava, mas é sempre agradável perceber que há pessoas que nos levam em conta.
:)
Abraço!

heitor disse...

Depois do gosto dos Ballet Rose, de O processo dos Távoras, da Ferreirinha e, muito em particular, do Mataram o Sidónio, foi para mim uma grande desilusão desfolhar as primeiras 50 páginas da Opereta. O grande narrador do Portugal de antanho parece claudicar quando envereda pelo registo de farsa para relatar os tempos que correm. Não tenho pachorra para estas brincadeiras.

NLivros disse...

Caro heitor,

precisamente o que senti!

:)