segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Marquesa de Alorna – Maria João Lopo de Carvalho


Antes de mais, é sempre um enorme prazer ler bons romances históricos, o meu género preferido. Num bom romance histórico, para além de nos ser dado a conhecer a época abordada, o autor consegue-nos situar e quase que interagir com os personagens, uma espécie de relacionamento à distância, como se de facto conhecêssemos as pessoas, fossem nossas amigas e só a distância física nos impede de estarmos e falarmos com eles.

Pois bem, Maria João Lopo de Carvalho, consegue, com este seu primeiro romance histórico, precisamente isso, conseguindo mais, empolga-nos na forma como descreve, não só a vida fascinante de Leonor de Almeida Portugal de Lorena e Lencastre, como consegue também, através de pormenores e imensas curiosidades, trazer os séculos XVIII e XIX para o nosso seio, tornando-os vivos.

Ou seja, resumindo tudo o que vou adiante escrever, estamos na presença de um romance histórico fabuloso, um dos melhores que li nos últimos anos.

Leonor de Almeida Portugal, 4ª Marquesa de Alorna, 8ª Condessa de Assumar, foi uma mulher fascinante assim como fascinante foi a sua vida.

Nasce em 1750, neta de dos Marqueses de Távora que em 1758 iriam ser alvos de um processo que levou à ruína da família, tem no terramoto de Lisboa de 1 de Novembro de 1755, a sua primeira recordação que irá marcar a sua vida. Não só pelo acontecimento em si, como também porque, quase no seguimento, vê os seus avós Távoras encarcerados e mortos no cadafalso. No seguimento desse célebre processo movido pelo Marquês de Pombal, um dos ódios de estimação da Marquesa, que ordena a prisão de toda a sua família. As mulheres no convento de Chelas e seu pai, na Torre de Belém e posteriormente no forte da Junqueira.

É lá que Leonor irá passar 18 anos. Imaginem o que quase duas décadas de prisão, por um crime que nem sequer existiu, fizeram na mente daquela família.

No entanto, é no cárcere que Leonor constrói a sua personalidade. Começa desde muito nova a escrever ao seu pai e, como ele gostava de poesia, Leonor entretém-se a escrever poemas que os envia ao pai. Curiosa e muito inteligente, entrega-se ao estudo das obras de Rousseau, Voltaire, Diderot, Bayle, entre outros. É o início de uma actividade que lhe irá trazer fama no futuro e o cognome de Alcipe.

Tudo isto e a restante da sua vida fascinante, Maria João Lopo de Carvalho narra brilhantemente. A liberdade e reencontro da família, a luta por limpar o nome dos Távoras, o seu casamento, o nascimento dos filhos, a estadia na corte de Viena onde conheceu Mozart, Salieri, o arquiduque da Áustria José II, entre tantos episódios e acontecimentos que fizeram de Leonor uma mulher do seu tempo mas com uma mentalidade muito além do seu tempo.

Um livro volumoso, mas que se lê num sopro, face à qualidade da escrita, simples e objectiva, e à forma estruturada como a autora coloca os acontecimentos. Sem qualquer pressa, sem pular épocas, tudo está devidamente organizado e facilmente seguimos o percurso da marquesa desde a sua infância até à sua morte em 1839.

Um livro altamente aconselhável, que me deu imenso gozo a ler e que me permitiu ter um conhecimento algo diferente desses dois séculos, sobretudo a segunda metade do século XVIII. Uma época marcada pela Revolução francesa que teve um impacto decisivo no rumo das sociedades.

5 comentários:

Unknown disse...

Quero muito ler. ACom a história que Portugal tem já ia sendo tempo de termos uns bons romances históricos, coisa que só tem aparecido nos últimos tempos (pelo menos essa é a minha opinião).
Boas leituras

NLivros disse...

Olá Patrícia!

Sim, isso é um facto. Já existem bons autores que estão a escrever excelentes romances históricos sobre a nossa imensa e rica História.

E ainda há tanto, tanto por explorar.

Beijinhos e boas leituras.

Miguel Pestana disse...

Ola IceMan!!

Venho aqui desejar um feliz natal, recheado de n livros!!


Abraço



silenciosquefalam.blogspot.com

ps. quando quiser é benvindo no meu blogue:)

Carla disse...

Olá Iceman!

Tenho este livro aqui em casa, mas agora estou a ler um de Julia Navarro "Diz-me Quem Sou" que atravessa toda uma época- Século XX_ APESAR DE AINDA ESTAR no início estou a gostar muito.
Aproveito para te desejar...
Feliz Natal Iceman
Espero que o Pai natal te traga muitos livrinhos para poderes desfolhar ao longo deste novo ano que se avizinha.

Beijocas Natalícias da sempre... Leitora(Carlinha)

NLivros disse...

Olá Carlinha!

Um excelente natal para ti também.

Obrigado por seres minha leitora, é para vocês que continuo a "opinar".

Beijinho!