quarta-feira, 25 de abril de 2012

Homem Corvo (O) – David Soares


Era uma vez uma menina que chorava porque perdera o peixe caprichoso que era o seu melhor amigo. Eis que o Homem Corvo lhe entra pela janela e lhe propõe: “Eu dou-te um peixinho, se tu me deres um coração”. A menina, sabendo que o coração era vermelho vai à cozinha e traz-lhe um objecto vermelho, uma maçã. O corvo, feliz e contente, engana a menina, dando-lhe um peixinho de plástico… Chico esperto!

Uma história muito curta, bem ao estilo de David Soares, sombria e misteriosa que se acentua mais nas páginas negras bem decoradas pelos desenhos fantásticos de Ana Bossa. Aliás, se fôssemos considerar o livro apenas pelo seu aspecto gráfico tridimensional, seria algo que descreveria como arte, pois os cenários criados por Ana Bossa, a luz e a delicadeza das figuras, transportam-nos para um cenário misterioso que reforçam ou, se quiserem, dão mais força à metáfora de David Soares.

Esta história e tão somente uma metáfora sobre a amizade.

Um Homem Corvo, que há por aí aos pontapés,  engana em proveito próprio o ingénuo, o inocente que cai na cantiga do bandido e dá algo em troca de nada. No entanto esse Homem Corvo ainda questiona: “Mas porque é que não gostam de mim?”. Sem sequer reparar que para ter uma amizade verdadeira, há que conquistar.

No final, eis que o feitiço se vira contra o feiticeiro e o Homem Corvo tem o retorno daquilo que semeou.

Conforme referi, este pequeno livro, tipo banda desenhada, é um álbum que encerra uma metáfora sobre a necessidade de se semear as verdadeiras amizades e não fazer favores para ter amigos. Simples e chocante como o Homem Corvo acaba, como podemos acabar qualquer um de nós se nos comportamos como o Homem Corvo que, diga-se, é apenas a imagem actual da nossa sociedade.

2 comentários:

susemad disse...

Parece-me bastante interessante.
O último que li de banda desenhada do autor foi "É de noite que faço as perguntas", que é sobre a Primeira República Portuguesa.

NLivros disse...

Boas!

Honestamente nunca tinha lido nenhum registo do género da autoria do David Soares e confesso que gostei da metáfora e, sobretudo, dos desenhos, estão muito bons.