sexta-feira, 20 de abril de 2012

Papisa Joana (A) – Donna Woolfolk Cross


Segundo a lenda, entre os séculos IX e XI, Joana teria nascido provavelmente em Constantinopla (existem outras hipóteses), e que, sendo mulher, faz-se passar por homem conseguindo romper com as proibições que estavam determinadas às mulheres e tornar-se uma figura importante da igreja católica ao ponto de ter sido eleita Papa. Nos entretantos, a lenda refere também que era amante de um oficial da guarda suiça e que, inclusivamente, chegou a ficar grávida, conseguindo omitir essa gravidez devido às largas vestes do sumo pontífice.

Há várias versões desta lenda que de facto situam esta personagem entre os séculos IX e XI, no entanto e atá à data, embora subsistam teorias da conspiração que referem existirem provas encerradas nos cofres do Vaticano e muitíssimos outros testemunhos, na realidade não existem evidencias concretas nem da existência de tal personagem, nem sequer da possibilidade de alguma mulher ter ocupado a cadeira de S. Pedro, o mais alto cargo da igreja católica.

Em todo o caso o livro de Donna Woolfolk Cross é ficção e torna-se espantoso face às descrições e ao contexto histórico abordado. A autora é exímia a descrever a época conturbada por conflitos e chacinas, assim como em construir todo um trama que nos envolve e nos situa em plena Europa na Alta Idade Média, ou, como muitos dizem, na época das trevas, época marcada por uma imensa intolerância e fanatismo religioso que originou um domínio absoluto por parte do clero.

Achei fascinante o trabalho da autora. Revelou ter efectuado uma excelente pesquisa da época, pois, no caminho que traça para a sua personagem, a autora sabe contextualizar a acção e integrar ou ir explanando os factos da lenda, obviamente com muitos pontos em branco, com factos históricos reais. Achei isso espantoso e é esse aspecto que me leva a considerar esta obra como um romance histórico muito bom, sem que, no entanto, ache importante referir a pouca capacidade da autora ou a incoerência na criação literária da personagem de Joana. Ou seja, segundo a lenda, Joana foi uma mulher muito culta que, fazendo-se passar por homem numa época tão conturbada, conseguiu enganar tudo e todos e ascender ao mais alto cargo da igreja católica. Pois bem, o que vamos assistindo, na construção da personagem, é a de alguém ingénua, muito certinha e até, por vezes isso transparece, algo, vá lá, palerma. Confesso que isso me desagradou e dei por a mim a pensar qual o objectivo da autora, sendo que vingou a tese que a autora sabia que este livro teria um público maioritariamente feminino, por isso, pretendeu empregar um tom mais cor-de-rosa, mais piegas.

Independentemente de se acreditar que a Papisa Joana existiu, e isso é algo que facilmente se pode investigar dada a imensa informação que já existe, o que interessa neste livro é o trajecto da personagem dentro da bem documentada época, e isso a autora fá-lo com classe. No fim, ficamos com a certeza da autora e, sobretudo, felizes por nos ter sido permitido viver tantos dias numa época distante, onde a barbárie imperava.

8 comentários:

Paula disse...

Tenho de ler este livro!
O "problema" é o tempo...ficam sempre alguns à espera, à espera...
Será que Joana não existiu mesmo? Eu gostaria que ela tivesse existido :D

susemad disse...

Gostei imenso da forma como Donna Woolfolk Cross nos conta esta história. Nota-se realmente um excelente trabalho de pesquisa.
Enquanto leitora senti-me fascinada por toda a história e envolvência dos personagens. Sendo que Joana é sem dúvida uma heroína.
Tive pena de não ter conseguido ver o filme no grande écran, pois não chegou a passar por estes lados... :(

WhiteLady3 disse...

Tenho muita curiosidade em ler este livro, já vai para anos mas a oportunidade ainda não surgiu.

Achei engraçado que, por causa desta lenda, aparentemente passaram a fazer um teste de masculinidade, por assim dizer. Na série Bórgia, quando Rodrigo é eleito Alexandre VI, achei essa cena hilariante. xD

NLivros disse...

Olá Paula!

É um facto e eu também passo pelo mesmo. É também por isso que abrandei, e muito, o meu ritmo de leitura de novidades. Com tantos livros na estante que sei que são bons, custa-me ler novidades que... enfim.

Queres a minha opinião?
Aquando do término da leitura ficas com a sensação que Joana existiu, porém, pessoalmente, não acredito. Simplesmente por causa da época onde ela supostamente viveu.

NLivros disse...

tonsdeazul.

Sim, de acordo. A autora é exímia na forma como narra e constroi o trama e como vai encaixando os factos no contexto histórico.

Na minha opinião peca pela figura ingénua de Joana que acaba por se tornar incoerente pelo trajecto dela. No entanto trata-se de um romance.

Nem sabia do filme, vou pesquisar.

NLivros disse...

Olá white!

Então deves ler, pois tenho a certeza que vais gostar.

Sobre esse teste, acabei por constatar que também se trata de mito, pois ninguém do Vaticano, que eu saiba, alguma vez tenha admitido esse teste.

WhiteLady3 disse...

Também já li que não seria verdade, mas não deixa de ser engraçado. :D A cena na série ainda é mais porque um dos cardeais diz algo como "com o rebanho de filhos ainda duvidam da masculinidade dele?"

cris disse...

Um dos melhores livros que li, fiquei apaixonada pela personagem... A reler, sem duvida!