quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Magia das Estrelas (A) – Tom Bullough



Confesso que antes da leitura deste livro, desconhecia completamente quem havia sido Konstantin Tsiolkovsky, aliás, nem nunca havido falar dele.

No entanto, numa pesquisa prévia à leitura do livro, constatei tratar-se de um cientista russo pioneiro no estudo da cosmonáutica, alias, ele simplesmente estabeleceu os princípios da propulsão das modernas naves espaciais, sendo considerado um dos mais importantes cientistas do mundo, concebendo, entre outros, o elevador espacial.

No entanto Konstantin tinha uma particularidade física que o estigmatizou na infância. Era praticamente surdo devido a ter tido escarlatina quando criança e, tal facto, levou com que as escolas primárias não o tivessem aceite, efectuando-se a sua educação em casa até aos 16 anos.

A presente obra é a narrativa do seu percurso até à sua formação em matemática, altura em que começa a estabelecer como uma figura de referência e, mais importante, onde começa a ganhar o respeito dos seus pares.

Incidindo praticamente toda a obra na infância, o autor traça-nos a infância dura e agreste de Konstantin, numa Rússia imperial e gelada.

Independentemente da história em si, o que gostei especialmente foi a forma viva e realista com que o autor me consegui transmitir e situar no contexto, na época, conseguindo com que sentisse e visualizasse as condições duras e as dificuldades daquela família. Para além disso gostei como o autor foi traçando, com pequenos e interessantes pormenores, o percurso intelectual de Konstantin, o seu despertar para a ciência e a forma lógica com que o pequeno Konstantin via as situações e os factos que o rodeavam.

Um livro muito interessante que descreve a vida de um importante cientista que está por detrás da moderna ciência espacial o que, por si só, já é bem interessante.

Nota final para a capa e a qualidade de encadernação  a cargo da Matéria-Prima Edições. Extremamente interessante e que logo nos transporta para a magia e fascínio do Cosmos.

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

O Pior Livro - "Child of the Phoenix" de Barbara Erskin e "Circle of Stones" de Anna Lee Waldo



Cristina Torrão, do blog "Andanças Medievais", que muito aprecio e escritora dos brilhantes romances históricos "Afonso Henriques, o Homem" e "D. Dinis - A quem chamaram o Lavrador", para além do seu primeiro romance histórico intitulado "A Cruz de Esmeraldas", aceitou, para minha alegria, o meu convite para nomear o pior livro que leu até à data, eis a sua apreciação:
O Pior Livro
 
Por mais que desse voltas à cabeça, não me consegui lembrar de um livro que possa apontar como o pior que li, por isso, e sendo apreciadora e escritora de romances históricos, resolvi falar do que não gosto de encontrar num romance histórico, dando, como exemplos, dois livros que me ficaram na memória pelas piores razões.

Em primeiro lugar, não aprecio aspetos fantásticos num romance histórico. Excluo deste pressuposto obras que assumem pertencer ao domínio do fantástico e outras em que é impossível separar a História da magia, como é o caso da saga do Rei Artur. O que não me agrada é quando um livro se intitula de romance histórico e comece a enveredar pelos caminhos do fantástico, criando situações inverosímeis. Li, há vários anos, Child of the Phoenix, de Barbara Erskine, que se baseia na vida de duas damas da Idade Média, que a autora considera que podia ter sido só uma. É certo que as vidas das mulheres medievais não se encontram bem documentadas, sendo quase sempre impossível averiguar, por exemplo, as suas datas de nascimento e de morte. Mas considerar que determinada senhora, em vez de ter morrido com quarenta e tal anos, enveredasse numa segunda vida, em que fez novo casamento, deu à luz um filho já depois de ter passado os cinquenta, traiu o marido com cerca de setenta e morreu com mais de noventa, tudo isto com a ajuda de poderes misteriosos, parece-me bastante despropositado na época medieval e num livro que se assume como romance histórico. De Barbara Erskine, encontrei, na WOOK, um único título português: A Princesa Guerreira. Já agora, se surgir aqui alguém que conheça esta obra, agradecia que desse a sua opinião. Até pode ser que tenha gostado, eu é que fiquei sem vontade de ler mais livros desta autora.

Um outro aspeto que não me agrada (e não só em romances históricos) é quando o enredo muda de rumo sem resolver as pontas soltas que deixou num primeiro momento, como se, de repente, começássemos a ler outro livro. Foi essa a sensação que tive ao ler Ring der Steine, de Anna Lee Waldo, versão alemã de Circle of Stones, do qual encontrei, na WOOK, uma versão em castelhano: Circulo de Piedras. A obra baseia-se na lenda de um galês chamado Madoc que terá chegado à América três séculos antes de Colombo. O livro, porém, não soube explorar este admirável potencial. Começa de maneira interessante, com a mãe de Madoc, amante do príncipe galês Owain, a partir para a Irlanda, depois do nascimento do filho, onde aprende as artes mágicas dos druidas. Desenvolve-se um enredo atraente, mas, a partir do momento em que Madoc parte para a sua viagem, tudo isso é esquecido e o livro torna-se exaustivo. Li-o há cerca de dez anos e já não me lembro de pormenores, só sei que estive várias vezes para o largar e nem estou certa de ter atingido a última página.



segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Amália, o Romance da Sua Vida – Sónia Louro




Confesso a minha enorme admiração por Amália Rodrigues. Não apenas pela sua poderosa e divina voz, como também por ter levado o nome de Portugal aos quatros cantos do mundo, sendo, ainda hoje, e arrisco por muitos mais anos, um dos símbolos lusitanos além fronteiras, um dos poucos portugueses reconhecidos e admirados fora do nosso país.

Cresci com os seus fados que, invariavelmente, o meu pai punha a tocar aos domingos e, tal elevada dose, criou o gosto e admiração, até porque era comum ouvir que agora estava em Paris, depois no Japão, de seguida no Canadá e isso, lugares tão longínquos para mim na altura, dava-lhe uma áurea de heroína transportadora da alma lusa para esses locais distantes. 

Curioso igualmente constatar que Amália foi das poucas figuras prontamente reconhecidas em vida. Ou seja, muitas das nossas personalidades são apenas reconhecidas e admiradas ou, perto do fim das suas vidas, ou então após a sua morte, algumas até bem depois da sua morte. Mas Amália Rodrigues não. Desde muito cedo foi reconhecida e até ao fim da sua vida, não pararam de suceder homenagens e condecorações.

Hoje em dia, e 13 anos após a sua morte, podemos considerar que a sua vida se encontra escalpelizada, quer seja em filmes, livros e até num excelente musical de Filipe La Féria, pelo que novas publicações correm o risco de ser “mais do mesmo”, narrando episódios já narrados, utilizando-se assim do trabalho de investigação de outros.

E foi com esse receio que empreendi a leitura deste novo livro de Sónia Louro, temendo que a autora se limitasse a reescrever o que já foi escrito e visto.

No entanto desde cedo percebi que a autora, embora narrasse episódios já lidos, mas que obviamente não podem ser sonegados, foi muito mais longe, conseguindo produzir um trabalho honesto, dando à sua obra um tom intimista sem nunca entrar na intimidade de Amália, protegendo a figura pública, respeitando a sua memória.

Esta obra começa em 1939, ano em que a artista inicia a sua brilhante carreira. A autora decorre a vida de Amália ano após ano, descrevendo o seu trajecto artístico em simultâneo que vai pintando um fresco do seu trajecto pessoal que engloba os principais amigos e acontecimentos, assim como, e isso confesso desconhecia, a sua veia poética que a levou a escrever muitos dos fados que cantou.

Gostei da forma como a autora conseguiu ligar factos a pormenores. Ou seja, há muitos pormenores da vida de Amália que foram testemunhados por amigos ou simples mirones. A autora altera-os no espaço temporal, colocando-os em situações que dão mais coerência à história. Simples técnica de romancista, eu sei, mas que ajudam a dar-nos uma visão mais apurada do ser humano Amália, fugindo dessa forma à figura artista. Para isso também vai utilizando os vários registos de entrevistas a amigos e familiares, para além dos efectuados à própria Amália, sempre referindo as fontes e isso é algo que, a meu ver, enriquece a obra, pois muitos dos factos narrados são retirados de vídeos disponíveis na internet, sendo assim possível sempre comprovar esses episódios.

Como senão, penso que a autora acaba por construir uma obra pouco densa. Bem sei que dissecar a vida de Amália seria coisa para milhares de páginas, no entanto parece-me que a autora podia ir um pouco mais além, sobretudo em alguns aspectos que foram importantes para o lançamento da sua carreira assim como em personagens que tiveram um papel influentíssimo na sua vida. Sónia Louro destaca-as, é verdade, mas nunca lhe consegue dar a verdadeira importância, ficando nós com a sensação que muita coisa ficou por contar. 

Um livro excelente que se lê de uma forma fluída e que nos dá uma perspectiva mais geral do trajecto artístico de Amália, incidindo bastante na sua extraordinária carreira internacional e a forma como o mundo a amava.

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Não nos Roubarão a Esperança – Júlio Magalhães




Confesso que, não sendo de todo um dos meus autores preferidos, já li todos os livros de Júlio Magalhães e, mesmo não apreciando a maioria deles, inclusive criticando-os fortemente, acabei por os ler sobretudo porque gostei do primeiro que li “Um Amor em Tempos de Guerra” e, fico sempre a esperança que o próximo será tão bom como esse.

E foi essa a principal razão de ter pegado neste seu último livro.

De obra em obra, constatei que “Um Amor em Tempos de Guerra” havia sido uma espécie de oásis e que os seus livros primavam por um vazio histórico incompreensível face ao assunto abordado. Por outro lado via os seus livros como romances históricos e, por isso, achava inexplicável a atenção dada à história romântica sempre em prejuízo do contexto histórico. Ou seja, o estilo do autor prima por criar uma história romântica dentro de um importante contexto histórico, porém é errado olharmos para as suas obras como romances históricos e eu percebi isso após ouvir algumas entrevistas do autor, pois ele próprio classifica o seu género como simples romance com características de crónicas jornalísticas, admitindo também não ter pretensões a escritor e que deseja apenas contar uma história. E isso veio alterar a minha visão e exigência quanto ao jornalista e autor.

Neste seu último romance, Júlio Magalhães pega num tema sensível, a Guerra Civil Espanhola, e, baseado em factos verídicos, constrói uma narrativa que interliga a vida de quatro pessoas (principais personagens), com as duas facções inimigas dessa terrível guerra que, ainda hoje, mantém algumas feridas abertas.

Dois irmãos, duas rivalidades, dois lados opostos da barricada.

Nesse contexto, o autor vai-nos oferecendo breves descrições do quotidiano insano desse terrível conflito, deixando igualmente antever a brutalidade do mesmo, sobretudo em episódios que ficaram famosos, como, por exemplo, na tomada de Badajoz.

Um livro que me agradou, pois conseguiu despertar-me o interesse sobre o assunto, deixando também no ar outras pistas igualmente interessantes como, por exemplo, os interesses do governo de Salazar com Franco. De escrita muito simples e fluída, este é um livro que se lê rápido e sem qualquer esforço nem que necessite de qualquer conhecimento prévio do assunto.