quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Conspiração contra a América (A) – Philip Roth



Este é um daqueles livros que nunca mais nos vai sair da memória.

Para além de estar muito bem escrito num texto harmonioso, Roth consegue criar um cenário que, se tivesse sucedido, iria alterar muito muito a filosofia cultural norte americana, num total contrassenso com a sua ideologia que o seu povo tanto se orgulha.

Nesta obra, Philip Roth cria um cenário de História alternativa completamente contrária ao que se passou nos anos 30 e 40.

Aqui, Charles A. Lindbergh vence as eleições presidenciais a Roosevelt e coloca em marcha nos Estados Unidos uma política de proximidade com a Alemanha nazi e o seu carismático e odiado líder: Adolf Hitler.

Os judeus ficam em polvorosa e completamente apavorados. É só uma questão de tempo até a questão judaica ser levantada e começa-se a criar a hipótese de acontecer nos Estados Unidos o que está a acontecer na Europa, onde os campos de trabalho e concentração surgem em massa e os judeus são expropriados.

Como narrador encontramos Philip Roth, com os seus 10 anos, que tem uma visão algo distorcida da realidade mas que se limita a narrar os terríveis acontecimentos tal como eles são. Porém, nem tudo o que parece é e uma reviravolta se vai dar nas suas vidas.

Um livro apaixonante que mostra o quanto a História pode mudar dependendo de alguns pormenores que influenciam o seu trajecto. Basta escrever sim em vez de não, para que as coisas possam ser muito diferentes e, com isso, alterar a vida a milhões de pessoas, assim como o futuro de nações inteiras. Um pouco como o fascinante “efeito borboleta”, é precisamente isso que Roth nos oferece e é fascinante a forma como constrói todo um cenário fictício mas que tem muitos pontos verídicos.

Gostei bastante do livro e da sua escrita. Não é de difícil leitura e o encandeamento da leitura é entusiasmante, pois damos por nós dentro de um cenário que podia de facto ter acontecido e isso é algo que me surpreendeu, pois estava longe de imaginar que podia mesmo ter acontecido.

Uma obra surpreendente.

5 comentários:

Paula disse...

Tenho este livro :) a mesma edição que tu!
Interessante...
Diz que Hitler tentou entrar para uma escola de Belas-artes e não conseguiu...
E se tivesse entrado?? Seria alguma vez o ditador que foi??

susemad disse...

Também gostei imenso desta obra de Roth. Penso até que foi o primeiro livro que li do autor... Também aconselho "A mancha humana".

Um Bom Ano, Iceman! E muitas leituras! ;)

NLivros disse...

Olá Paula,
Eu gostei deste livro e sobretudo no aspecto em que o efeito borboleta, que me fascina, é explorado.
É uma leitura muito rica e que aconselho.

NLivros disse...

tonsdeazul,
eu já li a Mancha Humana mas não gostei por aí além, pois, recordo-me que aquilo não fazia grande sentido, havia ali qualquer coisa que faltava.
Só após o termino dessa leitura fui investigar e percebi que se tratava do livro final de uma trilogia. Podia-se ler perfeitamente como independente, mas as situações estariam encadeadas se antes tivesse lido o primeiro e segundo volume, nomeadamente "Pastoral Americana" e "Casei com um Comunista".
Em todo o caso gostei mais de A conspiração contra a américa.
Um bom ano também para ti.

Pedro disse...

Allos allos!! =)

Eu adorei ler "A Mancha Humana". Foi daqueles livros que parece que a última página permanecerá sempre aberta (a última cena, a última imagem, é tão bem capturada, fiquei impressionadíssimo). Todo o livro foi uma descoberta. Tenho muita pena de ainda não ter lido mais de Roth (e bem posso começar, agora que ele disse que já não vai voltar a lançar mais nenhum romance!).

Sinto o teu entusiasmo pelo livro, parece ser mesmo excelente! Acho que a única experiência próxima de história alternativa que já tive foi com o "História do Cerco de Lisboa" de Saramago.
Esse "efeito borboleta" de que falas fascina-me. Talvez seja porque, na minha filosofia de vida, acredito nisso, acredito que tudo é uma consequência de algo anterior, portanto gosto sempre de ler livros que reflictam essa maneira de ver o mundo. Fiquei mesmo ansioso em voltar a pegar em Roth.

Abraço!