terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Crónicas do Sul – Luis Sepúlveda

É sempre um enorme prazer voltar a ler autores que admiramos, não só pela sua qualidade literária como também pelo papel que desempenham em expor ao mundo situações ou estados da sua nação.

Luis Sepúlveda é um desses autores.

Chileno, exilado há muitos anos em Espanha, não hesita em apontar o dedo às mais variadas situações que grassam no Chile, sobretudo nos terríveis anos em que Pinochet governou.

“Crónicas do Sul”, é um conjunto de crónicas escritos em 2005 e 2006, em que Supúlveda se debruça sobre uma enorme galeria de acontecimentos que marcaram os anos de horror de Pinochet.

Exercício de liberdade, grito de revolta, uma espécie de autor incómodo para os neoliberais de todo o mundo, o autor vai dissertando sobre vários episódios do seu Chile e também um pouco do resto do mundo. É inegável o seu asco ao neoliberalismo que demonstra, com exemplos claros, funcionar sempre contra o povo em prol das classes mais ricas.

E, mesmo sabendo que a intenção de Sepúlveda é o de narrar e expor as vis políticas e accões de Pinochet e dos seus compinchas, é arrepiante ver na situações descritas exemplos do que está a acontecer em Portugal.

Veja-se este exemplo: “Enquanto as bases da economia, da cultura e da história social do Chile eram destruídas através de privatizações dos bens nacionais que incluíram a saúde e a educação, qualquer tentativa de oposição era esmagada por meio de assassínios, tortura e desaparecimentos ou exílio. Isto é tudo o que Pinochet deixa, um país falido e sem futuro, um país onde os direitos elementares , como o contrato de trabalho, a informação, a saúde publica e a educação, são quimeras mais difíceis de alcançar.” Ou ainda “… que aceitaram sem contestar as tropelias impostas pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) e pelo Banco Mundial, interessados em fazer parte dessa «realidade económica global» que apenas consegue miséria e êxodos maciços de população

Pois é, a política neoliberal segue um pensamento ideológico bem organizado que opera sempre da mesma forma em beneficio da alta finança e que traz a reboque a corrupção e o trafego de influências e, em muitos casos, como no Chile, governos ditatoriais ao serviço desses interesses.

Isto não vos soa a algo familiar?

2 comentários:

Filipe de Arede Nunes disse...

Não sigo o pensamento político de Sepúlveda (é preciso recordar que foi membro do PC Chileno, embora compreenda bem a sua oposição ao regime de Pinochet) mas não deixo sempre de afirmar que o chileno é um dos maiores escritores vivos e alguns dos seus livros estão entre os meus favoritos de todos os tempos!

Anónimo disse...

Este tipo de crítica, ou de perspectiva, é sempre uma oportunidade para analisarmos de forma mais precisa o estado (ou Estado) político e social de um país. Não seria um bom livro para sugerir a altos membros? ;)
Boas leituras!