sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

Segredos Obscuros – Hjorth & Rosenfeldt



Não sou um grande apreciador de policiais e a razão é simples, depois de ter lido inúmeros livros do género, apercebi-me que a receita é sempre a mesma só mudando a forma como os autores usam a imaginação para baralhar os leitores com pequenas pistas falsas e verdadeiras que, no final, vão dar sempre na mesma conclusão: o criminoso é… e nós: ohhhhh, que surpresa, nunca pensei (isso nos bons policiais) e , eh, que novidade (nos maus policiais). Ou seja, há sempre um crime, muito ou pouco violento, investigações levadas a cabo por alguém cheio de idiossincrasias, ou não, personagens e pistas que nos são servidas para baralhar e no final descobre-se o criminoso ou criminosa de uma forma, na maioria das vezes, surrealista. É uma escola onde Conan Doyle foi o grande mestre seguido de Agatha Christie. O resto, e perdoem-me aqueles que adoram este género, é quase sempre mais do mesmo, sendo a novidade quando surge um livro que difere.

Em todo o caso já tenho lido policiais muito bons que me surpreenderam e que fugiram um pouco a esta “escola”, mas não é de todo o caso deste “Segredos Obscuros”.

Volta a ter um crime, desta vez o crime macabro de um jovem de 16 anos que aparece morto sem parte do coração. Uma equipa de investigadores que andam num virote para descobrir pistas e o principal personagem cheio de manias, desta vez nem sequer é detective, mas sim psicólogo, Sebastian Bergman e a novidade, para mim, é que o livro vale inteiramente por ele, porque de resto é mais do mesmo.

A acção situa-se Vasteras, uma pequena cidade sueca. Um jovem de 16 anos desaparece de forma misteriosa. Dois dias depois a mãe faz parte desse desaparecimento e é organizado uma busca sendo o jovem encontrado, ou o corpo, num bosque. A cena do crime é macabra e tudo aponta para que o jovem tenha sido morto à facada, no entanto nem tudo o que parece é. Rapidamente se organiza uma equipa para investigar o caso, sendo ajudada pelo psicólogo Sebastian Bergman que só se encontra naquela cidade por acaso, no entanto dá-se conta que há um passado pouco amigável entre este e alguns membros da investigação.

É um policial bonzinho cuja linha condutora me fez recordar outros que li e cujo culpado do crime não me surpreendeu, pois é semelhante a tantos outros e desde o início parti do principio que o que parece, de certeza que não é, e acertei na mouche.

Respeito quem goste de policiais, mas decerto há outros livros, dentro do género, bem mais interessantes e excitantes que este “Segredos Obscuros”.

domingo, 10 de janeiro de 2016

Rapariga Dinamarquesa (A) – FILME



Baseado no livro de David Ebershoff, A Rapariga Dinamarquesa narra a história do pintor Einar Wegener que, após começar a posar como modelo feminino para a sua mulher, a também pintora Gerda Wegener, se apercebe que tem “dentro dele” uma mulher. Ou seja, o que começa por uma brincadeira com a criação de uma personagem chamada Lili Elbe, depressa descamba numa profunda batalha interior e numa certeza que ele que nasceu homem é, afinal, mulher.

A história na sua essência é verídica e o livro foi feito a partir dos diários deixados por Lili Elbe (ou Einar) e mais impressionante é verificar que tal acontecimento sucedeu nos anos 20 do século passado, sendo que Einar foi considerado um desviado pela maioria dos médicos que o viram, inclusivamente um doente mental.

Como filme tem inúmeros erros históricos e factuais que provavelmente o devem impedir de arrecadar muitos prémios, no entanto e na minha opinião, o trabalho de Eddie Redmayne (Einar) é verdadeiramente brutal e não me vou admirar nada que leve para casa, pelo segundo ano consecutivo, o Óscar de Melhor Actor. O mesmo sucede com Alicia Vikander (Gerda). Pese embora o filme gire à volta de Lili, o certo é que Alicia brilha e será injusto que não seja, pelo menos, nomeada para o Óscar de Melhor Actriz.

De resto gostei do filme, mas depois de uma análise á vida de Einar e Gerda, apercebi-me que o filme omite demasiados factos, deixando uma ideia algo errada de quem foram estas duas pessoas e da obra que deixaram. Inclusivamente os sinais deixados nos quadros de Gerda são imensos e nem isso foi explorado de forma satisfatória. Ou seja, o filme podia ser levado por um outro caminho mais interessante que o elevassem para um nível superior, mas centrou-se demasiado na mudança de sexo e na relação de “falsos amigos” entre os dois quando foi muito mais do que isso.

Em todo o caso, penso que a nomeação para o Óscar de Melhor Actor está garantida, assim como Melhor Actriz, Filme, Argumento Adaptado e Guarda-Roupa. No entanto e a meu ver Eddie Redmayne tem altas hipóteses de vencer pelo segundo ano consecutivo o principal Óscar de Actor.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

“The Revenant" - O Renascido (FILME)



Agora que se aproxima a edição dos Óscares, são várias apostas para as diversas categorias e este “The Revenant” é, por diversas razões, considerado uma das apostas mais sólidas a vencer algumas das principais categorias.

Como “amante” de cinema, todos os anos, antes da cerimónia dos Óscares, tento ver o máximo de filmes nomeados e fazer, eu próprio, um juizo de valor dos filmes. E de facto, tantos anos depois, há vários casos em que acertei bem na mouche mas houve outros anos em que falhei miseravelmente.

E foi com essa perspectiva que me predispus a visionar este filme, sendo que, confesso, pelo trailler, me cativou o interesse.

Baseado numa história real, o argumento é baseado no romance homónimo escrito por Michael Punke e começa por narrar a história de um grupo de caçadores que se arriscam numa expedição no interior do Oeste Selvagem em busca de peles. Muita coisa corre mal, a começar pelos ataques constantes dos índios, até que Hugh Glass é violentamente atacado por um Urso que o deixa às portas da morte. Pouco depois o diminuto grupo, que se dirige para o forte em pleno inverno, tem que fazer uma opção e, circunstâncias à parte, Glass é deixado ainda vivo sob temperaturas gélidas e a partir daqui inicia-se outra fase do filme.

Confesso que esperava mais do filme.

Gostei imenso da interpretação de Leonardo DiCaprio, assim como da fotografia e da interpretação de Tom Hardy (soberba), da sensação claustrofóbica de todo o filme, de resto e na minha opinião, o filme deixou algo a desejar e várias pontas soltas.

Ou seja, são várias as cenas de uma incongruência gritante. A começar pelo ataque do urso pardo que deixa Glass às portas das morte e a terminar na caçada final (quem viu o filme sabe o que pretendo dizer), são muitos factos que não fazem sentido e que ficam sem resposta. Depois são mais de duas horas em que as cenas se assemelham e em que, exprimido, pouco sumo dá.

É um filme muito comercial e realizado com o intuito dos prémios, no entanto, admito que possa ser nomeado como “melhor Realizador”, Filme”, Actor principal”, “Actor-secundário”, “Fotografia”, “Guarda-Roupa” e “Argumento Adaptado”, mas estatueta só terá hipóteses como “actor secundário”, “fotografia” e “Argumento Adaptado”, pois, a meu ver ninguém vai ter hipótese este ano, na luta pelo óscar de “Melhor Actor” com Eddie Redmayne em que faz um papelão na “Rapariga Dinamarquesa”, filme que comentarei nos próximos dias.

Em todo o caso este “The Revenant” é um bom filme que, acima de tudo, demonstra o quanto dificil foi o Oeste Selvagem Norte-Americano.