sábado, 22 de julho de 2017

Manhã Submersa – Vergílio Ferreira



Para muitos considerado um escritor aborrecido, Vergílio Ferreira é um dos grandes escritores portugueses e um daqueles que se fosse norte-americano, francês ou inglês, era considerado como um génio da literatura, pois os seus livros são autênticos afagos à nossa alma e puras pérolas literárias. 

Escrito em 1953 (publicado em 1954) aquando Virgílio estava colocado a leccionar em Évora, Manhã Submersa é, muito provavelmente, o romance mais célebre do autor e aquele onde o autor explana, através do seu alter-ego António Santos Lopes, o tempo em que o escritor passou, na sua infância, no seminário do Fundão.

Romance triste e melancólico, o autor começa logo por traçar um cenário nada simpático do seminário e dos padres que o dirigem, pois e desde logo do início, na voz de António que a contragosto ali se encontra por influencia de D. Estefânia, o narrador traça uma imagem monstruosa e angustiante daquele lúgubre local, deixando também claro que a grande maioria dos seminaristas ali estavam por obrigação e não por vocação.

Desta forma torna-se claro que António sente não ter qualquer vocação para o ofício de padre e que a obrigação de frequentar o seminário se deve apenas à obrigação de D. Estefânia e ao amor que sente pela mãe, amor esse que, quase perto do fim, se torna perceptível quando António sente que não grande escapatória, por é nele que se encontram guardadas as esperanças da família para fugir da miséria na sua aldeia natal.

Pessoalmente foi com muito agrado que voltei a uma obra de Vergílio Ferreira, autor que há muito estava nos meus planos de leitura e que, com a Aparição, se tornou um dos meus livros de culto.

Não me desiludi. Pese embora continue a preferir a obra “Aparição”, Manhã Submersa está muitíssimo bem escrito e consegue-nos transmitir as percepções do personagem à medida que o tempo vai passando, das suas imensas tristezas às escassas alegrias e esperanças.
Há medida que ia desbravando as páginas do livro, ia dando comigo a pensar na quantidade de homens que seguem o ministério de padre sem qualquer vocação, apenas por obrigação porque, no passado mais do que actualmente, ser uma profissão que dá estabilidade e respeitabilidade, sobretudo se olharmos para o passado, quando os padres eram as figuras mais respeitadas e temidas das povoações.

E penso que é um dos factos que Vergílio Ferreira, que conheceu in loco um seminário e as suas muitas falsas vocações, pretende transmitir. Sabe-se que Virgílio estudou no Fundão durante seis anos e que acabou por abandonar, findando posteriormente os estudos no Liceu da Guarda, logo é muito natural que vários dos personagens que habitam o romance se inscrevem em personagens reais que Vergílio conheceu no seu tempo de seminarista.

Um excelente romance de um dos grandes escritores portugueses.


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