terça-feira, 31 de outubro de 2017

Homens que odeiam as mulheres (Os) – Stieg Larsson

Desde a sua edição em Portugal que a trilogia Millenium me despertou atenção, sobretudo porque desde o início gostei da sinopse e o facto de ter tido tanto sucesso foi algo que, pessoalmente, me veio dar a certeza de estar diante de uma obra com densidade e qualidade.

Em todo o caso fui adiando a sua leitura, até à presente data e, embora não tenha considerado este primeiro volume uma obra excepcional, foi uma obra que me deu prazer ler e cuja leitura foi rápida, pois e para além da história que considero bem conseguida, tem um ritmo bastante elevado.

Mikael Blomkvist éw um jornalista da área de economia que se vê em tribunal acusado, e condenado, por difamação de um importante personagem da área financeira. Condenado a três meses de prisão, Blomkvist decide afastar-se temporariamente da revista Millenium, revista do qual é director. Nesse afastamento, que é na prática uma espécie de ano sabático, ele decide aceitar o convite de um dos mais importantes industriais da Suécia para investigar o estranho desaparecimento, há cerca de 40 anos, da sua sobrinha-neta que, de uma forma misteriosa, desapareceu sem deixar vestígios. Mikael decide assim partir para a pequena ilha, domínio daquela importante família, onde empreende uma apurada investigação no sentido de descobrir o que de facto sucedeu à sobrinha-neta de Vanger.

Confesso que gostei da história, mas principalmente o que me foi cativando foi a densidade e força de certas personagens. Primeiro, todas as personagens estão muito bem conseguidas e, penso, ser uma das chaves de sucesso da obra. Todas elas contendo idiossincrasias diferentes que, interligadas, tornam o trama atraente e fascinante. Em todo o caso há algumas que se vão sobrepondo, não apenas pela minuciosidade com que são descritas, como igualmente pela importância que vão tendo. Mikael Blomkvist é descrito como um solteirão empedernido, mulherengo, mas de uma determinação e profissionalismo que fazem dele um jornalista conceituado e temido pelos políticos. Depois surge uma das personagens que mais me fascinou e que, considero, residir nela a grande força da obra, Lisbeth Salender, jovem cheio de problemas, com uma infância perturbadora e difícil mas que revela uma inteligência além da média e que, com as suas acções, nos vai prendendo e cuja envolvência e influência são vitais em todo o livro. Para além destas duas personagens, surgem mais uma série delas que têm igualmente uma enorme força e influencia.


Pese embora seja um livro volumoso, a sua fácil e rápida leitura, tornam-no pequeno face ao trama que o autor conseguiu construir e desvendar. Um thriller onde o autor procurou permutar uma das grandes problemáticas do mundo moderno: a violência doméstica, sobretudo a exercida sobre as mulheres. Em variadíssimos capítulos, o autor vai dando dados estatísticos sobre essa violência, obviamente centrada na Suécia, mas que, de uma forma transversal, está presente em todas as sociedades. No fundo e por detrás do argumento, o que sobressai é que todos os acontecimentos se foram sucedendo devido a mulheres que odeiam homens e odeiam-nos porque tiveram motivos para isso.