quinta-feira, 14 de junho de 2018

Som e a Fúria (O) – William Faulkner


Esta é talvez a opinião mais complicada que alguma vez escrevi sobre algum livro, não que sinta que não tenha capacidade, mas porque este é daqueles livros e disso tenho a certeza, que para se ter uma opinião mais abalizada, é necessário ler-se mais de duas vezes, pois é uma obra tão complexa que se torna muito complicado extrair grande parte da essência da obra em todas as suas facetas, mas enfim, vou tentar.

O Som e a Fúria, obra maior de Faulkner, editada em 1928 e que é a grande responsável pelo Nobel da Literatura em 1949, é um dos clássicos da literatura que aparecem sempre nas listas dos Melhores Livros de Sempre, e uma daquelas obras que é escalpelizada em diversos sistemas educativos por todo o mundo, sobretudo na área da literatura, pois o que o autor faz nas suas quase 300 páginas, é um poderoso jogo literário em que contrapõe várias técnicas e sobretudo no grande desenvolvimento da técnica narrativa do fluxo de consciência, técnica essa que, confesso, não sou um grande fã.

Pessoalmente posso-o já considerar aquele livro que mais me deu trabalho ler e pelo qual sinto um misto de sensações. Ou seja, fiquei fascinado com as técnicas de Faulkner e a forma como ele encadeia uma narrativa linear com narrativas completamente subjectivas onde, efectivamente, o fluxo de consciência toma conta do romance para, se necessário for na mesma linha, alterar completamente a técnica e desencadear uma narrativa sem qualquer pontuação que nos deixa completamente “à nora”, sem saber de quê o autor está a falar.

No entanto, e por outro lado, torna-se cansativo seguir essa(s) linha(s), essa forma intercalada de narrar e, muitíssimas vezes, levam-nos à exasperação por, simplesmente, não percebermos ou perceber muito pouco, o que se está a passar.

Ou seja, este livro não é um livro com uma história linear que se leia de uma forma descontraída, até porque o livro é dividido em quatro capítulos em que nem o elemento tempo-espaço é linear, e nesses capítulos não há quaisquer intervalos, ou seja, quase que nos obriga a ler de enfiada uma média de 80 páginas, ainda por cima um texto que, página a página, faz pouco sentido e que, só muito perto do fim, é que Faulkner vira a narrativa, tornando-a mais linear, logo, mais perceptível.

Sobre a história em si não vou referir coisíssima nenhuma porque facilmente se consegue sinopses desta obra, mas o que estou a tentar elaborar, é a minha percepção pessoal e a consideração se gostei ou não do livro.

Gostei do livro, mas para ser sincero comigo mesmo, e conforme referi no início, esta é daquelas obras que obriga a novas leituras e, confesso, depois desta batalha em que sai exausto mas satisfeito (por ter terminado o livro), tão cedo não lhe vou pegar, talvez daqui a uns valentes anos.

Durante a sua leitura e à medida que ia tentando compreender aquilo que estava a ler, sem contudo o conseguir sobretudo nos dois primeiros capítulos, ia também tentando compreender o porquê desta obra ser tão debatido e considerado, por muitos, como o “livro da sua vida”.

O ser debatida e conforme já referi anteriormente, até que compreendo pelas diversas técnicas utilizadas por William Faulkner e pelos elementos literários que ele trabalha, pois ele subverte completamente as “regras” da literatura ao trabalhar, dar peso a todos os elementos de um romance ao ponto de construir uma narrativa extremamente complexa e complicada de entender e que nos vai dando ferroadas à medida que vai sendo desenvolvida.

No entanto ser considerado “o livro de uma vida”, já tenho mais dificuldade em entender e simplesmente porque este é um “daqueles” livros que é forçosamente necessário ter-se alguma bagagem literária e até cultural para se conseguir levar até ao fim. Notem, não digo conseguir entender mas sim levar até ao fim, pois é necessário uma enorme força de vontade para seguir um rumo com pouco sentido e que nos faz sentir que nos vai levar a algum sítio mas que só é desvendável no fim.

No fim fiquei com aquela sensação de quando admiramos um quadro expressionista, ou seja, esta obra é uma espécie de deformação da realidade que expressa, subjectivamente, vários aspectos dos seres humanos e que à medida que vamos olhando esse quadro de diversos ângulos, outras sensações nos ocorrem, por isso é que considero ser esta obra ser lida por diversas vezes, pois tenho a certeza que uma outra vez, a minha percepção será diferente.

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