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sexta-feira, 18 de maio de 2018

Hipnotista (O) – Lars Kepler


Pessoalmente não sou um grande fã de policiais, pese embora já tenha lido, aqui e ali, várias dezenas de romances policiais, sendo que e até hoje nada consegue bater o charme e a classe de Conan Doyle que, com o seu Sharlock Holmes, iniciou uma era na literatura que “virou” género e que teve em Agatha Christie uma digna sucessora.

Hoje em dia esse género de policiais estão completamente fora de moda e o que se assiste, sempre anunciados como “inovadores”, “revelação”, “exepcional”, são thrilers policiais que, grosso modo, giram todos à volta do mesmo argumento, um ou mais assassinatos brutais e um conjunto de detectives num jogo de rato e do gato com o psicopata ou psicopatas que estão por detrás desse(s) crime(s).

Este Hipnotista marca a estreia de uma dupla de escritores suecos, também eles actualmente na moda dentro do género, que criaram esse pseudónimo para se darem a conhecer ao publico.

Já com vários livros publicados, foi com interesse e, confesso, com expectativa que iniciei a leitura deste thriiler, mesmo, repito, não sendo um fã do género, no entanto, gosto de ler policiais de vez em quando e, pareceu-me, após ler a sinopse, estar diante de algo que valia a pena.

Puro engano!

Respeito quem traçou inúmeros elogios ao livro, mas, enfim, este é daqueles que desde o inicio teve uma marca de inverosimilhança que nunca conseguiu sequer atenuar.

A história começa com a descoberta de uma família brutalmente assassinada, cuja única testemunha e sobrevivente é um adolescente de 15 anos que se encontra no hospital entre a vida e a morte. O cenário do crime é atroz. As vítimas, para além de terem sido assassinadas, tiveram os seus corpos profanados após a morte, sofrendo inclusivamente terríveis mutilações que deixam os polícias muito abalados.

Até aqui tudo bem, mas eis que o principal suspeito é nada mais, na menos, que esse adolescente que, descobre os investigadores com a ajuda do hipnotista, cometeu os crimes e se mutilou a ele próprio… e mais não digo!

Agora, achei toda a história uma completa parvoíce porquê?

Não que os crimes possam ter sido efectuados por um adolescente de 15 anos, mas por tudo o que serve de justificação e das acções que começamos a ver a partir dos crimes.

No hospital, e mesmo tendo os órgãos em falência, alguns deles quase que não trabalham, o miúdo consegue recuperar e, pasme-se, a custo, fugir do hospital, matando uma enfermeira e passando por tudo e todos.

Depois, e repito que só tem 15 anos, consegue agir como uma pessoa experimentada e extremamente inteligente,  fintando detectives com anos de experiência, e mais um porradão de factos que não vou aqui narrar porque, repito, respeito quem possa gostar deste género de trama.

Para quem foi anunciado como a “grande revelação do policial nórdico”, na minha opinião, deixa muito a desejar, para além da própria construção narrativa ser fraca, aliás, há factos que nem se entende muito bem porque é que ali estão, factos completamente desfasados da narrativa, um pouco para encher chouriços e que em nada são uma mais valia, pelo contrário.

Em todo o caso gostei da revelação final e de facto teve o condão de me surpreender, no entanto, nessa altura já havia perdido o interesse pela obra e este não é daqueles livros e autores que aconselhe vivamente.

terça-feira, 1 de maio de 2018

Vento dos Khazares (O) – Marek Halter


Que livro fantástico!

Há livros que se tornam viciantes à medida que avançamos na sua leitura e este é um dos casos. Não apenas pela sua belíssima história, um misto de romance histórico e thriller, como também pela arte literária do autor que tem o condão de transformar em “poesia” qualquer frase que escreve.

Este é um dos muitos livros que tinha na “pilha” de livros para ler há muito tempo. Sabia que era unânime a sua Qualidade, pois basta navegar um pouco pela net para perceber que todos os que o leram, o adoraram. No entanto, confesso, nunca me espicaçou a curiosidade porque me parecia um livro que assentaria sobretudo na questão judaica e, embora nada tenha contra, antes pelo contrário, é algo que nunca me despertou a curiosidade por aí além, sobretudo neste caso quando versava acerca de uma civilização que estranhamente teria tido como religião a judaica.

Bom, mas vamos por partes, pese embora não pretenda escrever muito.

Quem foram os Khazares?

Sabe-se hoje em dia que foram um povo de origem turcomana que dominou a região centro-asiática entre os séculos VII e X. Desconhece-se com exactidão do porquê de se terem convertido ao judaísmo, no entanto, e isso sucedeu, converteram-se mesmo ao judaísmo sensivelmente no século VIII e porque é que escolheram essa religião?

É precisamente a questão Marek Halter lança e que, na minha opinião, explica de uma forma lógica, num romance, a todos os níveis notável.

Saltando entre o ano 950 e 2000, o autor é exímio em construir todo um trama extremamente convincente que nos apaixona desde o seu início.

Na época actual, ano 2000, temos o escritor Marc Sofer, também ele judeu, que se vê envolvido nesse enigma e que é convidado a investigar a questão. Nessa investigação, que o leva a Baku, capital do Azerbeijão, Sofer vê-se envolvido numa intriga que envolve passado e presente e é quando se depara com um problema que faz ressalvar a maleficência e a ganância humana em todo o seu esplendor, ganância essa não olha a meios para atingir os seus fins.

Depois o autor vai intervalando com o ano 950 e aí conhecemos o Khagan José, rei dos Khazares, a bela Atex, sua irmã e um punhado de personagens que nos ficarão na memória. Percebemos então porque escolheram a religião judaica e todas as questões geo-políticas da região que levaram inclusivamente ao desaparecimento dessa civilização e à tentativa, por parte dos russos, em fazer desaparecer todos os vestígios da civilização Khazar.

Em suma, um livro excepcional de um autor cuja escrita me encantou.

Actualmente tenho mais dois livros dele nessa tal “pilha” e que estou mortinho para lhe deitar a mão, pois é daqueles escritores que sabem aliar a genial escrita ao de contador de histórias, algo que não é assim tão comum.

Altamente aconselhável!