Este
era um daqueles livros, e ainda possuo muitos, que andava pelas estantes há
alguns anos à espera de ser lido. Tinha conhecimento da qualidade literária de
Sandor Marai, mas, confesso, a sinopse nunca me cativou por aí além, julgando
sempre estar na presença de uma obra menor do autor. Puro engano!
Antes
de qualquer consideração, reconheço que fiquei atordoado pela qualidade da
escrita de Marai. Possui uma forma simples de escrever, mas, ao mesmo tempo,
dura, directa, objectiva e, simultaneamente, poética, fazendo com que a conjugação
das palavras seja uma sinfonia no seu todo, quase como algo que nos vai
afagando a alma com pedaços crus de realidade. Ou seja, à medida que nos vai
narrando, de forma soberba, a história, é capaz de descrever, em poucas
palavras, o intimo da personagem e os seus pensamentos, colocando-nos na “sua
pele” e fazendo-nos viver essa existência.
Achei
fenomenal como o autor conseguiu com que eu “sentisse” as dores e angustia de
todas as personagens deste livro, tanto as personagens maiores como menores,
consegui com que compreendesse o ponto de vista de cada um deles, e isso é algo
que só alguém que possui o dom da palavra na escrita.
O livro
é curto. São menos de 200 páginas, em letra considerável, com capítulos muito
curtos, mas desengane-se que o autor fica aquém do pretendido. Não! Penso ser
este um livro que tem as palavras certas, pois não são necessárias muitas para,
um escritor com qualidade, contar uma história.
Tem um
ritmo alucinante, perturbador e inquieto. A força das principais personagens extravasa
o próprio livro, pois dei por mim a visualizar, em pessoas que conheço, as
descrições que ia lendo num misto de emoção e afecção. E mais curioso é ir
percebendo que o desenrolar de todo o enigma é perturbadoramente simples, pois
a verosimilitude é tão real que até arrepia.
Em
suma, um livro altamente aconselhável para quem aprecia efectivamente boa
literatura.