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domingo, 29 de julho de 2007

Macbeth - William Shakespeare

Macbeth apenas foi editado pela primeira vez em 1623, 7 anos após a morte de Shakespeare. Desconhece-se a data em que foi escrita (pensa-se que tenha sido numa data posterior a 1606 devido à narração, na obra, de alguns factos ocorridos nessa altura) e do porquê de ele não a ter tornado conhecida, mas sabe-se que esta foi uma peça que não teve revisões por parte do autor, dadas as anomalias que o texto incerra.
A história que Shakespeare narra é parcialmente real. O poeta imaginou os diálogos e as situações, mas os acontecimentos descritos sucederam-se na realidade. Macbeth era o senhor de Glamis e primo do rei Duncan por altura de 1030. Cronistas da época descrevem o contraste entre Duncan e Macbeth. Enquanto Duncan era um homem pacífico e calmo, Macbeth era violento e cruel. Macbeth era um dos generais do exército de Duncan e a sua fama era tão grande que as forças inimigas tremiam só de ouvir o seu nome. No entanto, Macbeth era muito ambicioso e sabia que se o rei morresse, ele seria o seu natural sucessor e, numa ida de Duncan ao Castelo de Macbeth (era normal na época o rei efectuar uma visita anual aos seus condados, ficando hospedado nos palácios dos seus nobres), Macbeth, protegido pela neblina da noite, assassina o seu primo, apoderando-se assim da coroa escocesa. Esse assassinato, que relembro aconteceu na realidade, pensa-se ter ocorrido no Castelo de Glamis, situado a cinco milhas de Farfair. Curioso verificar que, hoje em dia, este castelo é extremamente famoso por outros factos que apaixonam os amantes do sobrenatural. É que o castelo de Glamis é um dos castelos assombrados mais famosos do mundo... No entanto, não existe a certeza de realmente foi nesse castelo que ocorreu o homicídio, pois uma outra história afirma ter o local, onde Duncan foi morto, sido devastado pelo seu filho Malcolm, sendo actualmente uma das muitas ruínas que abundam na Escócia. Mas estes foram os factos reais. Shakespeare pegou nesta história e deu-lhe magia e imortalidade. Nesta peça, Shakespeare apresenta-nos um personagem que é, na minha opinião, o seu personagem mais violento e controverso. Macbeth revela-se um homem violento, falso, cruel, extremamente supersticioso, vaidoso e narcisista, ou seja, Shakespeare parece aqui tentar efectuar a sua mais intrincada, elaborada e minuciosa análise psicológica de sempre. Macbeth representa quase todas as facetas que um Homem poderá possuir. Em cenários negros e lúgubres, Macbeth surge-nos como um grande senhor feudal, importante chefe do clã, com uma impressionante força e coragem, mas e ao mesmo tempo, com dúvidas que lhe dilaceram a alma, deixando antever um homem cobarde e medroso, inundado por terrores que raiam o limiar da loucura. Ou seja, um claro contra-senso que nos obriga a questionar? Aonde Shakespeare quis chegar, ou o que ele pretendia? Os remorsos de Macbeth são algo que flutuam durante a peça. Todas as cenas em que este sentimento se revela, são extremamente intensas e dramáticas. Shakespeare no entanto surpreende, porque debaixo desse homem vil, consegue criar um outro que demonstra sentimentos humanos muito fraternais. Um homem que na loucura da sua ambição, ganha características que são opostas ao seu verdadeiro (aparente) ser. Embora não seja a minha peça favorita, dada a sua violência e intensidade psicológica, Macbeth é notável pela forma como o trama é construído, pelos cenários recriados e pelos sublimes jogos de palavras entre os personagens. Uma obra grandiosa em que a psique humana é analisas sob diversos aspectos e é devido a essas múltiplas análises que, na minha opinião, mora o busílis da questão anteriormente colocada: Que pretendia Shakespeare com esta peça? Na minha opinião, esta foi a peça que Shakespeare sonhou tornar como a sua obra prima, a obra que pretendeu tornar única, atingir a perfeição. No entanto, penso que o Mestre ou não teve tempo ou não conseguiu fazê-lo. A obra está muito bem conseguida mas nota-se falhas, principalmente na história, na acção. A forma como constrói o personagem é quase perfeito, digo quase porque existem facetas que não fazem sentido, a forma oposta como ele cria dois personagens em apenas um, os jogos que ele cria, acaba por construir uma teia que fica por destruir. Por isso é que, e atenção que é apenas a minha opinião, Shakespeare nunca tornou conhecida esta peça, ele buscava a perfeição e, com Macbeth esteva a um passo de a conseguir. Estarei errado? É possível. Não sou nenhum entendido em Shakespeare, apenas gosto de efectuar análises do que leio, quando vale a pena claro! Na peça, saliento também as inúmeras alusões a factos históricos, alguns deles de grande importância para a monarquia inglesa e escocesa. Shakespeare demonstra que estava atento à sua época e que era um investigador minucioso que nada deixava ao acaso, abrilhantando o seu texto com lendas, superstições e folclore popular. Goste-se ou não, quando mais leio Shakespeare, mais me convenço que o homem era um génio. Ele não se limitou a escrever peças de teatro baseadas em lendas ou Histórias reais, ele foi mais longe. Assente numa escrita melodiosa e numa estrutura textual harmoniosa, Shakespeare efectuou profundas análises à sua sociedade e principalmente aos comportamentos, perfis psicológicos e morais das gentes, deixando-nos um legado valorosíssimo e de uma riqueza tal, que poucos têm sabido dar o seu real valor.

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