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sábado, 18 de agosto de 2007

Primo Basílio (O) - Eça de Queirós

Em o "Primo Basílio" Eça escreve mais uma etapa do seu projecto "Crónicas da vida portuguesa", onde ele se propunha a efectuar 12 romances em que abordaria todas as características da vida portuguesa. Esse projecto nunca foi terminado, mas não o impediu de escrever alguns romances extraordinários, reflectindo a sociedade portuguesa dos finais do século XIX.

Este romance é, na minha humilde opinião, aquele onde Eça consegue pintar o fresco mais real da aristocracia lisboeta (e portuguesa) do final do século XIX e também é aquele onde ele onde efectua as mais minuciosas análises psicológicas. É interessante verificar a constante luta moral ao longo do livro. À medida que a história se desenrola, é comum sermos confrontados com questões morais pertinentes e inclusivamente convenções sociais que são quebradas de uma forma abrupta e escandalosa. Um jogo que o autor, propositadamente, procura jogar com as regras da época e que tanta celeuma levantou na altura da publicação e que, cá para nós, tantas questões ainda levanta se a analisarmos à luz das actuais convenções morais.

A história é simples de resumir: Luísa é uma mulher casada que se vê sozinha em Lisboa depois de o seu marido ter que se ausentar em trabalho para o Alentejo. Começa então a receber visitas diárias de um primo (Basílio) que se encontra em Lisboa. Daí até ao envolvimento de ambos vai um curto passo e começam-se a encontrar numa outra casa. Esta relação é descoberta por Juliana, a criada de Luísa que a começa a chantagear com a ameaça de contar tudo ao marido de Luísa. Basílio, que apenas vê em Luísa uma espécie de diversão para os seus tempos livres, resolve fugir de Lisboa quando Luísa lhe pede ajuda (um pulha), e é então que os papéis entre Luísa e Juliana se invertem: A senhora passa a ser a criada e a criada passa a ser a senhora. Aí Eça é genial na forma como aborda a questão, assim como na análise deste facto, descrevendo-nos situações verdadeiramente humilhantes para Luísa.

De notar que a abordagem de Eça ao adultério não foi por caso. Repare-se que a convenção da época era permissiva em relação ao homem e radicalmente subversiva em relação à mulher. Digo mais, pelo que percebi dos vários romances que tenho lido, russos, portugueses, ingleses e franceses, era até visto como sinal de virilidade um homem ter uma amante e veja que ( e quem ler o livro irá perceber) Basílio é visto como um homem que não faz nada de mal (inclusivamente Basílio ocupa um papel secundário), aqui o pecado é de Luísa. Ela é que comete adultério. O marido de Luísa, na sua viagem de trabalho, também comete adultério, no entanto aponta-se o dedo a Luísa, ou seja, todos andam na coboidada, mas apenas Luísa tem a obrigação de "pagar a factura".

Embora não seja o meu romance preferido do mestre Eça, este é sem dúvida um relato fiel dessa época, onde relações extraconjugais eram vista como normais no seio masculino, mas completamente proibidas às senhoras.

Mas como costumo questionar nos livros de Eça: "Será que a nossa sociedade mudou alguma coisa?"

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