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domingo, 22 de junho de 2008

Número de Deus (O) - José Luis Corral


José Luis Coral é o autor espanhol de mais êxito no género do romance histórico. Professor de História medieval, é conhecido por ser o autor de várias obras, onde se incluem livros, artigos, guiões para tv e inclusivamente foi assessor histórico do filme “1492 – Cristóvão Colombo”. As suas obras demonstram sempre um grande rigor histórico, não descura pormenores, nem de linguagem nem dos usos e costumes da época e este “Número de Deus” vem mostrar não apenas isso, como também, uma grande capacidade, que nem todos os escritos do género têm, de colocar no mesmo livro, uma época e toda a sua mentalidade, a evolução da mesma, misturado com os acontecimentos que marcaram a época.

Confusos?

O livro inicia-se no séc. XI (1212) com o nascimento em Burgos de Teresa Rendol, filha única do mestre pintor de frescos Arnal Rendol. A história vai-se dividindo entre vários reinos (França, Leão e Castela). Nesses anos reinava em Castela Henrique I e em Leão Afonso IX. Época marcada por constantes desavenças entre estes dois reinos irmãos, irá ser o filho de Afonso IX, Fernando III, que irá reunificar os reinos, sendo também que ficará para a História como um dos Maiores reis de sempre, sendo considerado pela igreja católica como santo e posteriormente canonizado.

A história passa-se maioritariamente no reinado de D. Fernando III, época onde reinava um fervor religioso enorme, mas também uma época onde se respeitava o génio humano e havia espaço para o mesmo ser posto ao serviço de Deus para construir grandes obras, entre as quais, catedrais.

Embora o livro trate em específico desse trabalho, a da construção de catedrais onde trabalhavam grandes Mestres de vários ofícios sempre em busca da perfeição, José Luis Corral vai abordando também a mentalidade e a evolução, em pouquíssimo tempo, da mesma. Uma época cheia de acontecimentos, onde a guerra com os mouros era constante, vamos assistindo à imposição da igreja na sociedade, à perseguição dos Cátaros e ao surgimento de novas teorias acerca do mundo e da sociedade, principalmente no acolhimento, por interesse próprio, das teorias de Aristóteles em prejuízo das de Platão, pois era Aristóteles que defendia que a mulher era inferior ao homem. Vai nascendo assim uma outra concepção da natureza que irá ter repercussões nos séculos vindoiros. E Corral, numa linguagem simples e correcta, explica isso, encaixando de uma forma brilhante na história que é de várias histórias interligadas.

Quanto a mim o livro vale por essa questão. Pessoalmente desconhecia como havia nascido essa mentalidade que jogou a Europa em centenas de anos de obscuridade, assim como achei estupenda a narração da situação geopolítica dos vários Estados, inclusivamente vai-se, aqui e ali, abordando o reino de Portugal. E sobre o reino de Portugal constatei que uma das razões que nunca houve grandes planos para o tomarem, foi de que os reis portugueses sempre foram bastante inteligentes, pois faziam vários acordos com o Papa e casamentos estratégicos com várias casas reais.

É um excelente livro que aborda uma época que me apaixona e que demonstra o quão maléfico foi a igreja católica que atrasou séculos de evolução, tanto espiritual, como intelectual.

10 comentários:

  1. Nunca tinha ouvido falar deste livro mas fiquei curiosa. Apesar de ter estudado História, nunca me debrucei muito sobre a influência das teorias filosóficas e o "fecho", por assim dizer, da mentalidade religiosa. Nota-se claramente que a Igreja Católica era diferente no século IV e no século XI, mas nunca me debrucei sobre isso.

    E sim, os nossos reis sempre foram muito inteligentes nas alianças. O exemplo mais claro deve ser o casamento entre D. João I e D. Filipa de Lencastre (ou Lancaster), que deu início a uma das alianças mais longas da História.

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  2. Eu adoro História, e romances históricas são sempre bem-vindos. Não conhecia este, mas como tu a época em que se situa a história também me fascina (além de que a Igreja Católica traz sempre um bom pedaço de mistério a uma era tão obscura como a Idade Medieval, ou mesmo durante a Inquisição...).

    Um livro muito interessante, pois parece uma boa reconstituição histórica! É sempre bom aprendermos algo com estes livros, principalmente essas mentalidades com que se formou o mundo! Como "dizes", tu aprendeste!

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  3. Olá White.

    Já não me recordo como é que fiquei a conhecer este livro, recordo-me é de ter ido de propósito à Fnac para o adquirir.

    Se efectuarem uma brave pesquisa sobre o autor, depressa constatam a enorme credibilidade que ele tem, não só em Espanha (sobretudo), como também no resto da Europa.

    Quanto a mim, foi dos melhores romances históricos que li, pois para além de ter muita acção e aventura, está cheio de informação histórica, desde a forma como se construia catedrais, passando pelo porquê da mentalidade medieval.

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  4. Olá Pedro.

    Eu também adoro História e já o referi por diversas vezes ser o género Romance Histórico aquele que mais me agrada.

    Já li dezenas e dezenas de romances Históricos. Alguns muito bons, a maioria aceitáveis e alguns que nem passei do meio, pois há muitos autores que se aproveitam ser este género o que mais vende para escrever qualquer coisa.

    Mas este é um livro admirável que sugiro sempre aqueles que gostam deste género.

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  5. A tua opinião sobre o livro aborda muitas perspectivas que o autor quis salientar acerca da época em causa, sobretudo na mudança de mentalidades. Eu, por outro lado, levo em maior consideração a parte da construção da própria Catedral de Burgos que marcou a transição do estilo românico para o gótico, na península ibérica, transição essa inspirada nas grandes catedrais francesas e nas correntes artísticas e arquitectónicas que emergiram na altura. É um livro fantástico, muito bem escrito e denotando muito conhecimento acerca dos métodos construtivos de então :)

    Abraços,

    Victor.

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  6. Tenho uma vaga ideia que já ouvi falar do livro, mas não me recordo.
    Eu também sou um grande fã dos romances históricos, como milhares de leitores (como tu bem disseste é o género que mais vende).
    Este livro fascina-me em todos os aspectos:

    Primeiro porque o autor é muito conhecido e a sua pesquisa é meticulosa, por isso o livro é real em todos os aspectos.
    Segundo porque o período da história é a medieval em vários aspectos o que aborda a minha época favorita.
    Terceiro, pelos vistos aborda também arquitectura que é um dos ramos que mais gosto.

    Concluindo um livro imprescindível, obrigado por falares nele!

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  7. Olha o sôr Victor!

    Tá bom?

    :D

    Ora bem, este livro pode ser lido de facto sob várias perspectivas.

    A informação acerca do modo de construção e a transição do estilo é muita e muito bem elaborada. Só por isso o livro vale a pena e será, quanto a mim, um rico volume para quem se interesse por arquitectura e por parte da sua História.

    Porém eu preferi abordar ou então, se quiseres, preferi admirar uma outra perspectiva que mais me agrada que é a alteração de mentalidades e os costumes da época descrita, época essa que muito admiro.

    No entanto, no seu conjunto, considero ser este um livro muito bom e que tem a capacidade de nos transportar à época, aliás, na minha opinião está tão bem escrito que é possível “cheirar” o ambiente descrito.

    Um abraço
    Nuno

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  8. Viva João.

    Já somos dois acerca do género preferido.

    ;)

    Se de facto admiras o que referes, então este é um livro que te encherá as medidas, ainda por mais que é um livro algo volumoso e que faz render o que se gasta nele.

    Aventura-te pela Idade Medieval e pelos construtores de Catedrais.

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  9. Livro excelente. Bem elaborado, nos faz viajar sobre a Idade média e "sentir" o poder da igreja demonstrado pelas construções de sus majestosas catedrais. Recomendo.

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