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segunda-feira, 16 de março de 2009

Rapaz Perdido (O) - Dave Pelzer


Neste segundo volume da trilogia que se inicia com o livro “Uma criança chamada coisa”, continuamos a seguir a vida atribulada de Dave Pelzer.

Enquanto no primeiro volume tomamos conhecimento da forma macabra como Dave é maltratado pela mãe, neste “Rapaz perdido” seguimos a libertação de Dave e o seu constante saltitar de família em família de adopção.

Dave tem 12 anos quando o pesadelo dos maus tratos físicos e psicológicos termina. No entanto um duplo problema está prestes a começar: o querer entender e esquecer o seu passado e conseguir integrar uma nova sociedade que se lhe depara.

Através dos olhos de uma criança torturada, assustada e completamente desadaptada socialmente, tomamos parte das tentativas de Dave em receber amor e carinho. Carenciado em vários aspectos, Dave tenta dar nas vistas querendo parecer-se o que não é, iniciando-se assim um caminho tortuoso que, após o tribunal decretar a sua separação da família biológica, o leva numa direcção penosa onde tenta ultrapassar os fantasmas do passado.

Mas não se pense que Dave se livra das garras do seu carrasco. Porque é uma criança deslocada, acaba por se ver constantemente em problemas, sendo que os mesmos são aproveitados de uma forma tétrica pela sua mãe, para voltar a levar o caso a tribunal. Demasiadamente insano e brutal, ela está sempre atrás da sua vítima que é o próprio filho.

Embora a fase das torturas físicas tenha de facto passado, este é um livro que descreve o quanto uma criança vítimas de maus tratos sofre psicologicamente. É dura da sua leitura. Ao longo de todo o livro Dave faz inúmeras vezes a mesma pergunta: “porquê?” e é curioso que essa pergunta fica sem resposta, tornando o caso ainda mais mórbido.

Talvez no 3º volume intitulado “Um homem chamado Dave” ele nos dê explicações para a sua terrível infância, mas e pelo que já li em alguns sites, penso que o próprio Dave Pelzer desconhece as razões.

Não vale a pena escrever muito mais sobre este livro porque este livro simplesmente, e perdoe-se a palavra “simplesmente”, narra a história real de David Pelzer a partir da libertação do seu pesadelo. Os problemas posteriores, as humilhações, mas também a esperança num futuro melhor. Tudo isso faz parte do percurso de uma criança assustada e terrivelmente traumatizada.
Por fim deixem-me dizer-vos que é muito interessante a pequena dissertação que ele efectua no final do livro sobre a adopção, desmestificando totalmente, não só o processo, como também os profissionais a ela ligados; as famílias de adopção, nomeando inclusivamente alguns casos que se tornaram lendários; oficiais de polícia que são, em grande parte, responsáveis pelo desencadear do processo de libertação de crianças maltratadas; as organizações, sobretudo uma que se destaca “Jaycees”, que são voluntários e que realizam um trabalho fantástico em prol de crianças sem lar. Dave defende e louva tudo isso, sendo que é perfeitamente compreensível e louvável fazê-lo depois do seu imenso sofrimento.

Deixo dois excertos que me marcaram. Sobretudo porque ao me envolver tanto com esta tragédia, não deixei de me comover ao ler o seguinte.

Tal como o ‘Jaycees’ e o ‘Arrow Project’, talvez a sociedade possa aliviar algumas das frustrações dos que escolheram esta função. Talvez nós possamos enviar um postal a um professor sem uma razão especial, e dizer-lhe apenas obrigado, ou dar um pequeno ramos de flores a uma assistente social. Talvez na próxima vez que virmos um agente da polícia, nós possamos sorrir e cumprimentá-lo; ou oferecer uma pizza a uma família adoptiva. Se nós podemos tratar figuras do espectáculo e do desporto com se fossem dádivas dos deuses, porque é que nós não podemos mostrar um pouco de gratidão para com aqueles que desempenham um tão inestimável papel na nossa comunidade?”

Em Janeiro de 1994 tive o privilégio de apresentar um programa de orientação em Ottumwa, Iowa, a um grupo de pais adoptivos..., ... durante o curso, dei o exemplo de como eu costumava escapar à dor sonhando como um herói. No exterior, o meu herói não se integrava na sociedade dominante, contudo, no interior, o meu herói sabia quem era, e queria ajudar os necessitados. Eu voava, usava uma capa vermelha, e tinha um “S” no peito. Eu era o Super-Homem. Quando eu disso isto, os pais adoptivos desataram a bater palmas. Enquanto as lágrimas corriam pelo rosto de alguns deles, ergueram um cartaz que dizia: “O SUPER-HOMEM TINHA PAIS ADOPTIVOS

Elucidativo. Leiam esta obra!

Classificação: 5

6 comentários:

  1. Gostava de ler essa dissertação final. O MEU IRMÃO, sim, porque ninguem se atreva a dizer que o não é, foi adoptado... a mãe dele, enquanto eramos apenas familia de acolhimento, tentou várias vezes volta a ficar com ele. Às vezes ponho-me a pensar...dói-me o coração só de imaginar quem ele poderia ser hoje, o que ele poderia ter passado se tivesse continuado com a familia biológica. Suponho que ele não se lembre do que passou pois ainda era novinho quando veio para casa, mas todos nós nos lembramos bem de como ele era quando lá chegou...

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  2. Conseguiste despertar-me a atenção para este livro. Fica na calha...

    Tens um prémio no meu Blog.

    Abraço.

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  3. Olá Alice!

    Interessante a história que deixas subentender sobre o teu irmão e, pelo que deixas perceber, a similaridade com a história de Dave.

    Eu imagino a enormidade de crianças que devem passar por tormentos deste tipo e lamento a falta de atenção que isso tem despertado. Isso demonstra de facto o mundo pouco humano onde habitamos.

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  4. Olá Teresa.

    Muito simpático da tua parte, vou até lá.

    Obrigado!

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  5. quero comprar este livro! como faço? moro em sao paulo e na livraria mais famosa nao tem!

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  6. mari,

    tenta encomenda via Wook (http://www.wook.pt/). Tenho quase a certeza que eles enviam livros para todo o mundo.

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