Iniciado em 1521, este “Duas Irmãs, Um Rei” é o 2º volume da série Tudor, série essa que, obviamente, se pode ler de um modo separado mas que, quanto a mim, tem um sabor mais intenso quando lido respeitando a ordem de volumes que é também a ordem temporal dos acontecimentos narrados por Gragory.
Em “Catarina de Aragão” vimos como Catarina, infanta espanhola, filha dos célebres reis Católicos Fernando e Isabel, se torna Rainha de Inglaterra ao casar com Henrique VIII. Seguimos então a senda de Catarina rumo ao trono.
Em “Duas Irmãs, Um Rei” a acção temporal inicia-se em 1521, 12 anos após o casamento entre Catarina e Henrique.
O Rei continua apaixonado pela sua rainha, mas durante 12 anos Catarina não teve qualquer filho homem, a única criança que sobreviveu às inúmeras gravidezes foi Maria (1516) a enfezada menina que poucos davam alguns anos de vida.
Cientes da importância de um filho varão, a corte enche-se de intrigas e maledicências. A encabeçar essas intrigas está uma família poderosa: Os Bolena/Howard. E é neste círculo de tramas que toda a história deste livro avança.
Ana e Maria Bolena são duas aias da Rainha Catarina. Conforme costume em qualquer corte europeia da época, essas aias são responsáveis por entreter a rainha, jogando-se também em namoricos e mexericos com vários nobres que frequentavam a corte. Entre esses homens, o Rei que, em faustosos banquetes, ele próprio namoriscava com várias aias da rainha diante da beneplacência da mesma.
A descrição destas andanças é extraordinária. Philippa Gregory consegue-nos situar na corte, consegue-nos transmitir as imagens fazendo-nos crer que estamos presentes.
É desta forma que a família Bolena, através do seu seu influente tio, Thomas Howard, imagina uma forma de Maria Bolena ser notada pelo rei e, dessa forma, ir parar à cama do rei. Benefícios: Ganho de influência e poderio da família Bolena/Howard, assim como ganho de propriedades e títulos. Uma rede de influências e interesses nasce assim, originando um trama horrível de enganos, prostituição, sexo e assassínios.
Pessoalmente gostei mais do livro “Catarina de Aragão”, porém achei fenomenal como Gregory constrói e conduz todo o trama, como vai colocando as várias personagens, colando-as aos acontecimentos Históricos.
Ao nível Histórico, o livro é irrepreensível. Brilhante a ordem temporal, até os pequenos pormenores estão explorados. De notar a forma clara, que muito me ensinou, como a autora explica o percurso de simpático rei a tirano de Henrique VIII. É “engraçado” como constatamos que Ana Bolena foi a grande responsável pela mudança de religião, pela forma como Henrique se rebelou contra o Vaticano para, depois, ela própria ser uma das vítimas dessa tirania que, repito, ela construiu.
Um breve olhar sobre Henrique VIII.
Conforme tinha sido descrito em “Catarina de Aragão”, Henrique não passava de um vaidoso, arrogante e mimado menino grande que, vendo-se com todo o poder nas mãos, se transforma num horrível e sanguinário tirano. Nestas obras não se olha muito para o Rei Henrique enquanto político, mas sim enquanto homem e a perspectiva que temos não o favorece muito. Mas o que sobressai é que ele foi aquilo que quiseram que ele fosse, ou seja, foi apenas um produto de pessoas ambiciosas e sem pejo em afastar quem se opusesse aos seus interesses.
Em suma, mais um excelente e aconselhável obra de Philippa Gregory.
Classificação: 5