Na linha Antiutopia (Distopia) de “1984” de George Orwell ou de “Admirável Mundo Novo” de Huxley, “Fahrenheit 451” é uma obra tida de ficção científica mas que, na verdade, é de pura ficção política que, mesmo editada há 56 anos, faz todo o sentido nos dias de hoje.
A cidade de “Fahrenheit 451” é uma pequena cidade algures nos Estados Unidos cuja comunidade vive de uma forma ordeira, harmoniosa e pacífica. Diferente do que conhecemos, é que nesse mundo de Fahrenheit, os livros são proibidos e vistos como sendo um veículo pernicioso para a sociedade. Para os combater, literalmente queimar, existe os bombeiros que, em vez de apagar fogos, queimam livros.
Guy Montag é um desses bombeiros. Profissional dedicado, tem uma vida dividida entre o dever profissional e a sua mulher Mildred. Curioso analisar o papel de Mildred. Atascada em pílulas que a tornam uma espécie de robot, ela age como uma autónomo, sem vontade própria, sem conhecimento da realidade. Na minha opinião é nela que Bradbury expressa uma das grandes críticas á sociedade: o adormecimento para a realidade, à manipulação que as pessoas são sujeitas pela TV e por sistemas políticos castradores.
Duas vidas vazias, cheias de nada, sem qualquer tipo de expectativas futuras, simplesmente vivem, respiram.
Um dia Montag conhece uma adolescente, a misteriosa Clarisse e, do pouco que falam, Clarisse, que ousa pensar e inquirir o mundo que a rodeia, faz nascer em Montag a necessidade de inquirir, de olhar em volta e perceber a forma como o sistema político controla e manipula as pessoas.
É nesses breves encontros, que pouco depois findam por Clarisse ter sido morta (brutal quando Clarisse refere o facto normal das crianças desta distopia se matarem umas às outras e que ANTES não era assim), Montag percebe a importância dos livros acabando por esconder alguns em sua casa. Acaba sendo denunciado e vê a sua casa ser invadida pelos colegas de trabalho que se propõe a fazer o que ele sempre fez sem indagar: queimar os livros que lá existem.
Esta é uma obra-prima da literatura.
Obviamente que se trata de uma crítica à manipulação política que todos os governos, desde sempre, fizeram e fazem. No entanto é também um grito de revolta à ausência de comunicação entre as pessoas, ao hipnotismo que a TV provoca nas massas e ao vazio que esse hipnotismo provoca, pois são vidas sem sentido, monótonas, inúteis, que bebem o que a TV lhes dá, que lhes retiram a capacidade de inquirir o mundo que os rodeia.
Por outro lado, o facto de Montag se revoltar contra aqueles que reprimem é, também, uma analogia aqueles que ousam revoltar-se, ser politicamente incorrectos, contra o preestabelecido, aqueles que ousam ser do contra, que ousam emitir uma crítica, uma opinião e não são “Yes Man” que pululam pelo mundo fora.
Todo o livro é uma denúncia, uma chamada de alerta no sentido de abanar consciências.
Na minha opinião, independentemente se acho que essa chamada fez efeito, o que interessa é que, quem o lê, ficar com essa consciência e, sobretudo, a consciência do seu papel na sociedade. O facto de pensar, inquirir e ousar dar uma opinião, já faz de qualquer um de nós um Montag.
De facto este é um livro que fica.
Classificação: 6
Este livro é de facto muito bom. É impossível ficar-se indiferente às mensagens que nos transmite.
ResponderEliminarÉ um livro que tenho aqui por ler, nem precisei da tua opinião para sabê-lo.
ResponderEliminarJá leste "1984"? Esse é leitura obrigatória. Arrisco a dizer que é, depois de muito pensar, o meu livro preferido.
Curioso, foi referido esse livro numa aula de Português a partir do tema da piromania. Mais do que a já famosa manipulação social, a tua opinião vai-me suscitar a atenção para outra coisa no livro: a nossa importância na sociedade, com que rematas a crítica.
Viva Jacqueline.
ResponderEliminarSim, como refiro no fim, este é um livro que fica dada a mensagem subjacente.
Olá Pedro!
ResponderEliminarJá li 1984 há uns anos e é o mesmo estilo, distopia.
Quando refiro a nossa importância na sociedade, refiro-me ao facto de tu pensares, ousares falar daquilo que achas não estar bem, discutir e tentar agir. Costuma-se dizer que uma andorinha não faz a primavera, mas ajuda. Vivemos numa sociedade muito mecanizada, onde o politicamente correcto é visto como algo normal quando, na minha opinião, não o é. Cada vez se vez pessoas que não pensam, que agem segundo o que alguém acha, que não tem ideias próprias. No livro isso está bem presente, há muitos passagens no livro que parece descrever as actuais sociedades.
Já reparaste também no grau de intolerância para quem ousa discordar? É arrepiante ver e sentir isso e mais arrepiante perceber que Bradbury, em 1954, escrevia sobre isso em Fahrenheit 451.
Olá Iceman
ResponderEliminaré, de facto, um grande livro.
O que mais me tocou foi a denuncia de uma espécie de ditadura da democracia em que se condena tudo o que pode perturbar a ordem do sistema.
O autor não se limita a criticar o autoritarismo. Numa época em que todas as baterias ocidentais estavam apontadas para Leste, este escritor teve a coragem de chamar a atenção para isto: a democracia também pode ser uma ditadura.
Na minha opinião este livro está para a democracia ocidental como o 1984 para o comunismo.
Bom 2010 para ti.
Tens razão, o mais arrepiante é sentirmo-nos sufocados pela opinião geral, a opinião pública, só por si controlada.
ResponderEliminarQual futuro? Já chegámos!
É um livro que espero ler em 2010.
Olá Manuel.
ResponderEliminarSim, de facto há uma denuncia claríssima da ditadura da democracia.
Por isso é que o livro hoje em dia, para quem se der ao trabalho de pensar no que está a ler, incomoda, pois estamos à espera de ler uma denúncia à sociedade de 1954 e deparamo-nos com a nossa própria sociedade. Arrepiante!
Viva Pedro!
ResponderEliminarUm livro obrigatorio, diria,
Outro livro que irei ler no próximo mês é o "Admirável Mundo Novo" de Huxley, parece-me que vem aí novas revelações chocantes para mim.
;D
Olá Iceman,
ResponderEliminarÉ sem dúvida uma obra que critica a falta de reflexão, crítica e imposição das pessoas. Porém, a esta gente era proibido a leitura e a palavra, no entanto, temos isto tudo e muitas vezes não conseguimos fazer ouvir a "nossa" voz.
Foi uma leitura que gostei muito, mas não achei excelente :( . A mensagem sim, achei excelente, mas a forma como está escrito parece que falta ali alguma coisa para ficar excelente :((
Gostei particularmente da senhora que se deixa queimar com os livros, mostrando assim o amor que nutria por eles...ela acende o fósforo não eles, de qualquer forma ela não deixa que eles toquem nos seus livros...
Pareceu-me que faltou uma escrita mais emotiva. Até posso estar a "dizer" uma grande asneira, mas foi isto que eu senti :( (ainda não coloquei a minha opinião no blogue, vou fazê-lo daqui a pouquinho).
Um abraço