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segunda-feira, 22 de março de 2010

Mar que a Gente Faz (O) – João Negreiros


Sargo, nome de peixe, é uma criança de quatro anos que nos conta uma história sobre o que a rodeia, do seu quotidiano. A história é simplesmente a sua, da sua família e do meio que o rodeia.

O pai de Sargo é pescador e é no seio de uma comunidade de pescadores que vamos encontrar uma família comum a tantas outras. Dois filhos, a mãe doméstica, o pai pescador que parte de madrugada para a faina. O mar é ele também parte importante da narrativa.

Pelos olhos de Sargo passa o mundo que ele tenta interpretar e é essa interpretação, inocente, de criança, que nos leva de regresso a um mundo há muito esquecido, onde tudo era puro e doce.

Um livro terno que nos dá a visão despreocupada e inocente de uma criança e é esse olhar que nos permitirá ver a brutalidade e estupidez do mundo que os adultos constroem.

Encantadora e surpreendente a forma como João Negreiros escreve. Ora violento, ora meigo, ele consegue de facto situar-nos na história e no meio, como se estivéssemos presente, pois da narração inocente tiramos ilações das suas observações, transformando assim acontecimentos violentos em momentos de inocência.

Destaco também as ilustrações a aguarela que vão surgindo, assim como a excepcional capa que nos deixa pressentir uma história bonita.

3 comentários:

  1. Desde que li «O Cheiro da Sombra das Flores», que sou fã da escrita deste autor! Ainda não li este, mas já o tenho em casa e está para muito breve a sua leitura! :)
    A capa está lindíssima e a sinopse só augura bons momentos de leitura. Para além do título que também gostei imenso.

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  2. Viva.

    A capa e as gravuras do interior são lindíssimas, assim como a história.

    Um nome que fica e que vou seguir com atenção.

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  3. Se gostas de poesia não podes perder o título que referi e nem «a verdade dói e pode estar errada»

    Partilho este «Parto» que gostei especialmente:
    «há pessoas que têm medo de dizer o que pensam
    há pessoas que têm medo de dizer o que sentem
    há pessoas que têm medo de pensar o que dizem
    há pessoas que têm medo de sentir e não dizem
    há pessoas que têm medo de não dizer o que não sentem
    há pessoas que têm medo de falar como quem não diz
    beijar como quem não ama
    sorrir como quem sofre
    nascer como quem chora
    fugir como quem regressa
    caminhar como quem dorme
    chorar como quem sonha
    há pessoas que têm medo
    tanto medo que não conseguem caminhar
    e cada passo que dão só os leva para o mesmo sítio
    para o útero da mãe que é quente e confortável e tem um sofá com naperons nas costas que
    [os faz sentir quentinhos seguros
    e aí todos somos o mesmo
    aí todos somos um
    aí todos somos aquele que ainda não chorou mas que está quase
    e quando começar já não se pode voltar para trás
    e passamos toda a vida com olhos na nuca a querer voltar para casa
    a querer voltar para dentro porque neva lá fora
    e lá dentro é tão quentinho
    deixem-me entrar
    agora
    depois é tarde demais
    deixem-me ser o antes
    quero ser o antes que seja tarde»
    in «a verdade dói e pode estar errada», de João Negreiros

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