A história inicia-se quando Amélia criança, filha primogénita de Luís Filipe, Conde de Paris e herdeiro ao trono de França, na altura já República mas muito periclitante. Assim, Amélia é uma princesa com grande importância estratégica nos tronos europeus que reconheciam D. Luís Filipe como chefe da casa Real francesa.
Numa escrita simples, sem grandes descrições (quanto a mim a autora peca um pouco pela falta das mesmas), dividido por capítulos curtos e datados, a autora faz desfilar de uma forma cronológica, a infância e juventude de Amélia, deixando perceber que a sua educação foi inteiramente pensada para um dia ser rainha e, de alguma forma, ajudar na luta da Casa Orleães.
Podemos dividir o livro em duas partes bem distintas.
Numa primeira parte, infância e juventude, somos colocados diante de um mundo de fadas e princesas, num tom suave onde passa a ideia de uma imensa união familiar, tendo como pano de fundo as enormes agitações que levaram os Orleães ao exílio em Inglaterra (onde Amélia nasceu).
É interessante perceber o estado das monarquias europeias na segunda metade do século XIX. A maioria decadente, vivendo e agindo numa micro-sociedade que se rodeava de luxo, numa espécie de redoma que pouco se alterou durante séculos. Assaltadas por constantes alvoroços, boatos e maledicência, era já visível as grandes mudanças político-sociais que se estavam a preparar e que vieram a suceder a partir do fim do séc. XIX.
Muito interessante também e a autora consegue explorar muito bem esse facto, são os imensos excertos dos diários de D.Amélia, assim como cartas na íntegra, que ela manteve até à sua morte. Embora a autora no epílogo mencione que alguns desses excertos e algumas das cartas sejam verdadeiros, não deixa de ser impressionante lermos pensamentos de uma rainha que, antes de o ser, era mulher e mãe.
Obviamente que a grande maioria da narrativa é ficção, sobretudo quanto aos diálogos, mas não posso deixar passar algumas considerações que nos são colocadas à medida que a história avança, fundamentalmente na segunda parte do livro, ou seja, a partir do momento em que recebe a proposta de casamento com D.Carlos e aceita-a.
A partir desse momento a história de Amélia muda radicalmente.
Já não é a princesa protegida e passa a viver num país periférico, pobre, casada com um homem que de facto ama, mas tendo a obrigação de assumir o papel de mulher e futura rainha.
Vemos então outra Amélia e é nesse espaço que a autora menciona factos que julgo polémicos e que não consegui comprovar. Por exemplo, menciona o facto de os pais de D.Carlos não se darem bem e viverem separados. Isso é facto verdadeiro, mas coloca o Rei D. Luís a pedir o divórcio à Rainha D. Maria Pia. Verdade?
Através das cartas e dos diários, Amélia passa a imagem de um D. Carlos fraco, um bom político e diplomata, mas um homem mais interessado em mulheres, caçadas e jantaradas, ou seja, só queria borga.
Por outro lado a imagem de D.Amélia é a de uma mulher que, embora educada de uma forma fria, é quente, apaixonada, virtuosa e muito consciente do seu papel de Rainha e mãe do futuro Rei de Portugal. Apenas age em prol dos interesses da sua família e da Coroa Portuguesa.
Não o coloco em causa, mas tenho dúvidas de tanto virtuosismo.
É um excelente livro, complementado por excelentes fotografias de várias fases da rainha, sendo mais do que um mero Romance Histórico. Claro que muito é ficção, mas a História de D. Amélia e de alguma forma de vários outros personagens, assim como de D. Carlos e dos príncipes, está presente e fica clara aos nossos olhos. Assim como nos fica uma imagem de grande desgaste que os regimes monárquicos foram sofrendo, uma insatisfação crescente dos povos face à opulência das casas Reais e de sistemas de Monarquias Constitucionais que, na sua maioria, se revelaram os assassinos dessas Monarquias substituindo-as por Repúblicas onde alguns apenas vieram tomar o lugar dos reis, ficando tudo bem pior do que antes. Isso é perfeitamente perceptível através das palavras elogiosas de Amélia, já em 1945, para com Oliveira Salazar e quem conhecer a História pós Monarquia, sabe que entre 1910 e 1926 (1ª República), nesses míseros 16 anos, Portugal teve sete Parlamentos, oito Presidentes da República e 45 governos (!!!). Em 1926 surge a instauração de uma ditadura militar tal a instabilidade e divergências e apenas em 1933 com o surgimento do Estado Novo o país conhece um pouco de estabilidade que estava fugidia há tantos anos.
Ou seja, República para quê?
Para dar de comer a tantos oportunistas e criar um sistema vigente em todas as Repúblicas de compadrios, tachos, interesses e influencias que não procuram proteger e favorecer o povo.
Por fim, fica a imagem que finalmente o país reconheceu D. Amélia e penso que esta obra lhe presta uma homenagem merecida.
Sei que D.Maria Pia supostamente não podia ver a nora à frente, odiavam-se. Também sei que no Palácio da Ajuda, ela costumava estragar os vidros escrevendo "non mi piaci Luigi" (peço desculpa por qualquer erro mas italiano não é o meu forte).
ResponderEliminarA imagem de D.Carlos também parece de acordo com a ideia que tenho. Supostamente ele era dominado por João Franco, cedendo na Assembleia e dando-lhe as rédeas do país. Seria culto, nomeadamente nas ciências (seguindo as pisadas do pai, se não estou em erro), mas deixava a política para quem percebia melhor disso. Pelo menos sempre foi esta a ideia que tive, mesmo dos monarcas anteriores, como D.Maria II que contava com Cabral. Acho que o erro foi apostarem em pessoas com punho cerrado, parece que o povo português não gosta disso... *assobia inocentemente*
Mais um livro a manter debaixo de olho. :)
Viva White.
ResponderEliminarAndas muito perto da realidade nas tuas considerações, pelo menos no que ao livro diz respeito, pois mantenho algumas dúvidas ou questões no que no livro é exposto.
Penso que não se pode considerar que tenha havido um erro, houve sim vários erros ao longo de muitos anos, sobretudo no aspecto da casa real não dar importância aos sinais que a sociedade ia dando e, parece-me, que o próprio regime monárquico constitucional foi um erro e a morte para a Monarquia.
Agora que é um livro muito interessante, isso sem dúvida e é também ela uma obra que nos ajuda a entender um pouco do estado da nação da altura que, considero, até hoje tem marcas.
Não acho que a Monarquia Constitucional tenha sido um erro, mas também não sei muito sobre o assunto. O ano passado ainda li bastantes biografias ficando-me pela de D.Pedro IV, mas o meu trabalho centra-se sobretudo no reinado de D.João V onde isso ainda não existia nem era imaginado. :P
ResponderEliminarMas esse "não dar importância aos sinais que a sociedade ia dando" verificou-se um pouco por toda a Europa, e não é por acaso que pouco tempo depois se deu a 1ª Grande Guerra. Por acaso lembro-me de há tempos, penso que por ocasião da memória do regicídio, havia quem quisesse estudá-lo tendo em conta as alterações que se davam pela Europa. Afirmavam mesmo (se não estou em erro, pois não me recordo onde ouvi/li) que o regicídio podia ter sido o primeiro acto revolucionário que terá culminado no assassínio do arquiduque Francisco Fernando e mesmo dos czares russos. :/