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domingo, 28 de novembro de 2010

Livro de Cale (O) – Carlos Cordeiro


Carlos Cordeiro tenta reconstruir os primórdios de Portugal e os acontecimentos que, em certa altura, estiveram por detrás da fundação da nação.

A família Mendes é uma das famílias notáveis de Portucale, condado pertencente a Castela e motivo de preocupação por parte do soberano castelhano, Afonso VI, devido às constante incursões mouras.

Nuno Mendes havia sido o último conde de Portucale. Morto em 1071 na batalha de Pedroso, acaba com Nuno Mendes a tentativa de conseguir mais autonomia junto a Castela e começa ai também toda uma movimentação de várias famílias notáveis de Portucale e Galiza onde interesses opostos davam a estes dois condados uma situação de instabilidade.

Bernardo Mendes, filho de Nuno Mendes, envolve-se com a filha do poderoso Mendes Pais, abade de Santo Alberico, que aproveita o facto para acusar Bernardo de violação e obrigar a família Mendes a encerrá-lo no Mosteiro de Vallado.

É aí nesse mosteiro que Bernardo, enquanto copista, toma conhecimento de um documento que coloca em causa o futuro do condado, mediante uma intriga tendo em vista a tomada do mesmo.

Embora tenha apreciado o trabalho de reconstrução histórica, este romance não me preencheu as medidas.

O autor pega numa premissa válida: um documento secreto. E desenvolve todo um trama que, bem esprimido, não dá em quase nada ou, se quisermos, podia ter sido melhor aproveitado. Ou seja, por um lado temos as descrições da época, o fundo histórico verídico, que são de facto muito bem referidos, por outro lado, a entrada em cena desse documento e depois a acção que se desenrola em torno do mesmo, vai perdendo gás e fazendo com que o interesse da época se vá esvaziando assim como o interesse das verdadeiras razões que estão por detrás desse documento. Pareceu-me também que o escritor pretendeu efectuar algumas encruzilhadas que depois desata mal, é pouco credível na forma como o faz. Por exemplo, recordo-me da forma como Bernardo acha o Livro de Cale ou até na entrada em cena no jantar no Mosteiro de Santo Alberico.

É um livro razoável, que nos dá uma visão correcta daqueles tempos. Lê-se bem e está escrito de uma forma muito agradável respeitando a forma de falar medieval.

Peca, na minha opinião, por ter um trama rebuscado e pouco credível, chegando a ser mesmo sensaborão na forma como a história é construído e dirigida, tornando-se por vezes chato, mas que nos faz sentir, de facto, o ambiente do séc. IX.


1 comentário:

  1. Olá,

    Eu diria que a trama não envolve um documento secreto, antes uma folha que desaparece de um livro que, esse sim, passa a ser, digamos, de leitura circunscrita, e que, no final, será decisivo quer como polarizador da acção, quer como elemento derradeiro de remate da acção, além de fulcro suficiente para assegurar uma sequela.

    A entrada em cena desse documento só podia acontecer num ambiente monástico, de forma a ser identificado e depois percebido. A folha aparece no sítio certo, aliás para lá enviado propositadamente, ou não fossem mosteiros rivais, ou não fosse Beatriz uma mulher muito bem informada…

    Havendo que estabelecer a relação, bem como a junção da folha ao livro, impunha-se a criação de um episódio estratégico – que simultaneamente descobrisse um dos ardis do abade (a introdução fraudulenta do seu nome no livro) e permitisse a emergência do Lvro de Cale.

    Talvez essa elaboração pudesse ser menos ficcionada, mais credível e mais organizada. Porém, não deixa de ser uma ideia que faz sentido procurar o livro que está em poder do abade no mosteiro rival.

    Teatral sobretudo, mas também estratégica, talvez não houvesse muitas alternativas de levar Bernardo onde não era bem-vindo. O aparecimento do portucalense no jantar teria de ser, digamos, encenada e, neste caso, mascarada.

    As verdadeiras razões que estão por trás da trama talvez não se percebam completamente nem nitidamente até 1089. Diz-se no final que o livro vais ser reclamado…

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