Que seca de livro!
Confesso que gosto do trabalho de Francisco Moita Flores. Vi quase todas as suas séries, sendo a “Ferreirinha” um exemplo de grande qualidade a todos os níveis, tanto na representação, nos cenários, realização e, principalmente, da história que nos narra a vida de uma figura da nossa História.
Posteriormente vi essa qualidade espelhada no excelente “A Fúria das Vinhas” e também apreciei bastante “Não Há Lugar Para Divorciadas”. Sendo diferentes, ambas são histórias de uma qualidade narrativa óptima e em “A Fúrias das Vinhas”, sentimos novamente o ambiente visto em a “Ferreirinha”.
Foi assim com bastante curiosidade e interesse que empreendi a leitura do seu novo livro “A Opereta dos Vadios”, livro que, segundo a sinopse, se propõe a efectuar uma espécie de paródia à política nacional, criando um cenário onde o Presidente da República demite o governo, abrindo assim espaço para novas eleições legislativas.
Se por um lado temos um governo corrupto, viciado, cheio de tiques abusivos e com telhados de vidro, por outro, um partido de oposição que não desfaz em nada o partido do governo, ou seja, mais do mesmo conforme é usual na nossa praça.
Está assim criado o cenário para o surgimento de um novo partido composto por pessoas desiludidas com o estado do país e que são convidadas por um anarquista milionário exilado em Paris, que vê na Criação do P.U.N., a oportunidade de dar um safanão no marasmo político e social onde o país se encontra atolado.
Visto assim até pode parecer muito interessante e foi com essa premissa que eu fui enganado, até porque comprei o livro e já choro o dinheiro.
A escrita é boa, isso é inegável. Ou seja, lê-se bem, mas apenas isso.
A história é aborrecida, o autor nunca consegue dar qualquer plausibilidade à mesma. Bem sei que se trata de um romance de ficção, mas é perfeitamente perceptível que há por ali muitas mensagens destinadas, muitas piadas com destino e o governo caído em desgraça, todo ele chafurdando alegremente na lama sob a supervisão alemã e do FMI, faz efectivamente lembrar qualquer coisa.
Depois a criação do partido, até se chegar à sua criação, é longa. Se não estou em erro e se estou, erro por uma página ou outra, o partido só nasce na pág. 140, quase a meio do livro, e só nessa altura consegui esboçar uma gargalhada, a única, quando os elementos fundadores se entretém em parodiar a sigla P.U.N. com arrotos intestinais. Até lá, são diálogos enfadonhos, reuniões de amigos ao estilo dos “Amigos de Alex”, que por acaso até é focado na obra, mais parecendo encontros de velhos compinchas quase a chegar à velhice e frustrados com as suas vidas.
O autor tenta de facto criar um cenário comicamente absurdo, porém, não estaremos todos nós fartos do absurdo da política e já nem sequer nos conseguimos rir da sua incongruência?
Por várias vezes parava e pensava nisso. Provavelmente não apreciei a obra porque, simplesmente, já nem tenho paciência para ler paródias sobre o governo e sobre o estado miserável onde os sucessivos governos colocaram o país.
Não diria que é um mau romance. Muitos irão apreciar e rir à brava com tanta trafulhice, estupidez e despropositada politica em prol de interesses, mas a mim aborreceu-me, não retirei qualquer prazer e nem foi de qualquer utilidade, por isso, não gostei.
Sempre que decido comprar um livro, o seu blogue torna-se visita obrigatória.
ResponderEliminarAs opiniões acerca dos livros que lê influenciam muitas vezes a minha leitura!
Parabéns pelo blogue
Obrigado pelo elogio!
ResponderEliminarTento apenas dar a minha percepção sobre o livro, não pretendo influenciar ninguém, até porque por isso retirei as avaliações que efectuava, mas é sempre agradável perceber que há pessoas que nos levam em conta.
:)
Abraço!
Depois do gosto dos Ballet Rose, de O processo dos Távoras, da Ferreirinha e, muito em particular, do Mataram o Sidónio, foi para mim uma grande desilusão desfolhar as primeiras 50 páginas da Opereta. O grande narrador do Portugal de antanho parece claudicar quando envereda pelo registo de farsa para relatar os tempos que correm. Não tenho pachorra para estas brincadeiras.
ResponderEliminarCaro heitor,
ResponderEliminarprecisamente o que senti!
:)