Záfon é um autor de best-sellers vendendo milhões de livros em todo o mundo e criando um conjunto de fãs que o veneram como um Deus, sendo comum lermos considerações que o intitulam como o melhor escritor da actualidade.
Exagero, sem dúvida, face à escrita, que até é agradável, mas sobretudo face ao argumento que o autor se utiliza na criação das suas histórias e, para isso, estou a pensar nos dois títulos emblemáticos: “A Sombra do Vento” e “O Jogo do Anjo”, nitidamente romances escritos para um público alvo mais juvenil, num género que oscila entre a Aventura, policial, fantástico e gótico, sobressaindo claras influências de outros autores como Allan Põe no gótico, Victor Hugo na aventura, e até situações em que nos debatemos em questões de foro psicológico que fazem lembrar Dostoeivsky ou até no absurdo se nota influências de Lovercraft.
Em todo o caso Záfon tem um estilo próprio que o distingue da maioria dos escritores e que faz dele, não só um autor muito lido, como também muito solicitado pela industria do cinema, pois e nisso confesso a minha simpatia, ele consegue transmitir imagens do que escreve, ou seja, tem uma escrita muito cinematográfica e isso é ainda mais surpreendente quando estamos a falar num estilo que tem tanto de policial, como de aventura, fantástico ou terror e gótico.
Gostei da “A Sombra do Vento”! Não tanto pela história, mas sim por esta mistura de estilos e pela forma como o autor vai buscar situações a outros livros e as encaixa no seu argumento, assim como gostei das várias metáforas criadas e da forma como o autor explora as várias facetas humanas. Numa escrita ora poética, ora objectiva e por vezes bem directo e incisivo, é, acima disso, original como conjuga os estilos e os géneros e, no final, admiti estar na presença de uma belíssima obra que merecia a fama que lhe tinham dado.
No entanto “O Jogo do Anjo” já não é bem assim, revelando-se um livro muito semelhante à “Sombra do Vento”, não bem no seu conteúdo, mas na forma como o autor procura conduzir a história e na forma como vai criando as situações e a encruzilhada que é o enredo.
Gostei de ler sobre a Barcelona dos anos 20 e acho que o início do livro está fantástico. David Martín, um jovem escritor que recebe uma proposta de um estranho editor chamado Andreas Corelli para escrever um estranho livro a troco de uma fortuna. Claramente que aqui se encontra o conceito de “vender a alma ao Diabo” que o autor vai sabiamente explorando ao longo do livro. A livraria Sampere e Hijos e o Cemitério dos livros esquecidos que já connosco coabitaram na Sombra do Vento, e até a relação de amizade que mantém com D. Pedro me fez lembrar Dorian Gray e Basil Hallward no “Retrato de Dorian Gray”, ou seja, um conjunto de personagens extraordinárias que vão espalhando o seu perfume nas letras do autor.
No entanto Záfon envereda por um caminho demasiadamente fantástico, traçando uma teia cheia de mistérios que roçam o absurdo e que, na minha opinião, tiram beleza ao livro e a alma que o escritor cria no primeiro terço, pois, às tantas, o que parece não é e o que não parece vai dar em becos com pouco sentido que desvirtuam a realidade e que dão pouca coerência à história. A parte final então é surpreendente pela forma como o autor não consegue dar um término aceitável, terminando tudo num amontoado de inexplicáveis situações, num labirinto literário que não vai dar a lado algum e que nos deixa deixa com uma sensação de “esperem, acho que perdi qualquer coisa”.
É um bom livro sobretudo para os amantes do género fantástico, mas que está longe do brilhantismo da “A Sombra do Vento”