Confesso que desconhecia este autor e em boa hora decidi empreender a leitura desta obra que se revelou prazeirosa e informativa.
Já tinha lido sobre os Descobrimentos, mas nunca havia lido sobre o modo de vida e de como os portugueses se relacionaram com os indígenas, como efectuaram a mistura de culturas, ou como conseguiram coabitar nativos com europeus e africanos.
Renato Fontinha leva a cabo um trabalho extraordinário de reconstrução desses tempos, dando-nos a imagem de como os portugueses conseguiram controlar os índios e, simultaneamente, amedrontar e “domar” os negros que eram trazidos de África como escravos.
O romance situa-nos em pleno séc. XVI, ano de 1550, numa altura em que portugueses e castelhanos tentavam tomar efectivamente posse das terras que lhes pertenciam, estabelecendo feitorias, erigindo colónias de modo a que os seus domínios se solidificassem, procurando também impor-se aos indígenas locais, não só pela força, como e principalmente, pela religião que tomava contornos de sobrenatural para os ingénuos índios que, dessa forma, eram explorados, sem contudo serem tratados como escravos.
Guiana, Congo, Brasil e a selva Amazónica, são os principais locais deste romance e onde o autor vai explorando e descrevendo a forma como os portugueses procuraram erigir colónias e a forma como se comportavam e relacionavam com os outros povos. Aqui, ressalta a enorme presença de degredados, pessoas violentas, assassinos e até pessoas perseguidas pela igreja, compunham a maioria dos portugueses que estavam a colonizar… imaginem!
O Rei de Portugal decide fundar uma colónia na foz do Amazonas e dá-lhe o nome de Nova Lisboa. Para além do governador que já se encontra nessa colónia em construção, a coroa envia alguns personagens cuja missão será o de compor os cargos de Estado e da Igreja. Dessa forma, desembarcam um tabelião honesto, mas medroso e cobarde e cuja maior ambição é enriquecer e ser amado pela sua jovem esposa que o trata dom desdém. Um padre com citações religiosas na ponta da língua, altamente corrupto e que pela absolvição dos pecados, recebe o pagamento em actos libidinosos.
Índios canibais, cuja maior honra, é partir ou partirem a cabeça à paulada e que vêm o sexo como algo muito natural. Negros que se vêm como escravos, mas que descendem da realeza, bandeirantes cujo único objectivo é traficar escravos e matar por vingança.
Um livro de leitura fácil, com capítulos curtos, mas que nos dão uma imagem daqueles conturbados tempos e da forma como Portugal se estabeleceu naquelas terras, ressaltando o enorme esforço que muitos fizeram para consolidar a presença portuguesa.
Uma obra que, para além de nos entreter, nos ensina e mostra o outro lado dos Descobrimentos. Um lado mais cruel e duro, onde se percebe por onde começou a coabitação e do porquê da facilidade da evangelização.
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