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sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Último Segredo (O) – José Rodrigues dos Santos


Neste seu novo romance, JRS traz de volta esse personagem que já começa a ser mítico, pelo menos entre os apreciadores dos livros de JRS, o historiador e criptanalista tuga chamado Tomás Noronha.

E, permitam-me já dizer, que é um regresso em grande forma.

Conforme acontece nos seus romances thrillers/policiais que muitos continuam a teimar em comparar aos de Dan Brown sem saberem bem o que estão a dizer, mas como acontece nos livros de JRS desse género, a história inicia-se com uma série de estranhos crimes, sendo que, para além do modus operandi do assassino, o que torna os factos mais estranhos são as estranhas “pistas” ou “mensagens” que esse assassino deixa nos locais do crime.

Ora bem, até aqui tem de facto muito de browniano. De facto! No entanto é apenas no início que podemos efectuar comparações. Bem sei que depois há a perseguição ao assassino, a descodificação dessas pistas, etc, etc. No entanto, a principal razão que gosto bastante dos romances de JRS é porque o homem sabe colocar acontecimentos verídicos à medida que vai urdindo um trama todo ele, ou quase, coerente. Ou seja, os romances de JRS ensinam-me, divertem-me e entretêm-me.

Já o disse em diversas alturas que a principal objectivo de um livro é o de entreter, divertir, levar-nos a viajar, fazer companhia e, se possível, ensinarem. Que adianta ler um livro considerado um portento da literatura, se essa leitura for penosa, aborrecida e enfadonha?

Posto isto, e voltando à obra, lá é chamado o Tomás a fim de resolver todos esses crimes. A acompanhá-lo, obviamente, uma beldade, nomeadamente uma agente policial italiana.

No desenrolar das investigações, Tomás Noronha apercebe-se que os enigmas deixados nos locais do crime aludem à própria Bíblia e à construção narrativa da mesma que teve como intenção crer em alguém que, se calhar, não foi bem aquilo que se quis e quer pintar.

E lá começam eles uma demanda por vários países da Europa que finda em Israel, a Terra Prometida, o local onde Jesus nasceu, foi criado e morreu.

Numa reconstituição de factos históricos que considero notável, JRS interpreta várias fases da Bíblia e demonstra que a mesma esconde muitas falsidades, a maioria, intencionais, que foram sendo criadas ao longo dos séculos. À medida que vai construindo esse “edifício”, vai demonstrando a verdadeira imagem de Jesus e não o faz de uma forma leviana, sem provas. O que ele efectua não é nenhuma novidade e não foi ele que inventou ou pensou nisso, o que ele faz é aplicar os conhecimentos Históricos à época e interpretar o que está escrito à luz desses conhecimentos.

Posso até admitir que algumas das análises são de facto algo simplistas como li algures. Porém, qualquer pessoa com os mínimos de conhecimentos Históricos e um pouco informada, não pode ficar surpreendida com os episódios narrados e a análise efectuada aos mesmos. Hoje em dia, é mais do que óbvio, que a Bíblia ou qualquer outro livro sagrado, foi escrito não pelos apóstolos, profetas ou a quem se atribui os textos sagrados, foi sim escrito por outros com a intenção de convencer.

Em suma, um bom livro em que o principal tema é, claramente, a demonstração que Jesus foi um homem comum e que a sua deusificação foi construída muito posteriormente e assente em inverdades e interpretações erróneas, que se lê com prazer e que nos faz pensar e ver o quanto ignóbeis foram e continuam a ser tantos. No entanto isso vale o que vale, penso que não vai alterar em nada a fé de cada um.

14 comentários:

  1. Tenho andado a resistir a este autor porque fico sempre de pé atrás com escritores que devem a fama a outras actividades.
    Mas depois de ler o que escreveste, tenho a impressão que não vou resistir a este :)

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  2. Este livro deixa-me indecisa. É que se por um lado adoro romances históricos (e quando envolvem religião melhor ainda - apesar de católica por opção não sou burra nem fanática e não há critica que me choque ou desagrade) por outro lado não suporto o Tomás Noronha. É que acho o raio do homem completamente inverosímil, irritante, pedante e tudo o mais. Já é ódio de estimação (começou com a relação irrealista dele com a mãe com alzheimer).
    Depois de ter lido o "A fúria divina" decidi não ler mais nada que incluísse o Tomás Noronha e depois do anjo Branco fiquei um bocado chateada com o JRS.... Mas este tema é daqueles que me atrai imenso. enfim...

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  3. Olá Manuel!
    Se eu conheço um pouco dos teus gostos, diria que vais gostar de JRS embora não te vá deslumbrar.
    Honestamente aconselho a Filha do Capitão e o Codex 632.
    Este último é bom mas não é o melhor dele e, confesso, que já os li todos, inclusive as Crónicas de Guerra.
    Abraço!

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  4. Olá Patrícia!
    Compreendo o que afirmas e não escondo que o 2ª livro de Tomás Noronha me irritou.
    Mas não posso considerar que a personagem tem sido bem reconstruída e nota que é intenção do autor essa imagem ingénua, às vezes mesmo algo lunático que lhe dá um tom inverosímil. Nota também que é uma personagem de ficção e que o principal objectivo do autor são as informações que ele vai colocando à medida que o trama vai sendo construido.
    Penso que este é um livro a ler.

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  5. "Para aqueles que crêem,nenhuma explicação é necessária; e para aqueles que crêem, nenhuma explicação é possível".

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  6. Fico feliz por saber que temos mais um bom livro de JRS!

    Contudo, também me encontro muito indeciso... Eu gosto imenso de JRS e adoro o tema que este livro aborda. Este livro não poderia ser melhor e tem tudo para que fosse um dos meus preferidos dele e uma excelente leitura.
    O problema é que não acho que aborde nada de novo. Não vejo aqui qualquer novidade. A identidade de Cristo já foi discutida múltiplas vezes e já vi/li imensas teorias sobre a sua vida. Tenho receio que vá ler este livro e não me vá surpreender em nada. Vou tentar lê-lo, mas começo com um espírito mais crítico do que o costume... Claro que não deixará de me entreter, "levar-me a viajar", mas pergunto-me se desta vez será suficiente.

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  7. Excelente crítica!
    Não li ainda nada do JRS, (in)felizmente.

    Acho que vou iniciar-me com "A filha do capitao". Vamos la ver se eu resisto a comprar "O último segredo" ,)

    silenciosquefalam.blogspot.com

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  8. Gabriela,
    comentário muito acertado.
    na mouche!
    :D

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  9. Pedro!

    És um miudo inteligente e confesso que sinto um enorme carinho por ti, até porque já nos conhecemos e o respeito é mutuo.

    Sei que gostas dos livros de JRS como eu gosto. Dessa forma, acredita que ele não te vai "dar" nada novo, provavelmente, e como tu dizes, já leste as teorias que vais ler.

    Mas sabes que mais amigo Pedro? O livro é bom e faz-nos passar várias horas de entretenimento e de puro prazer. Só por isso vale todo os euros gastos e todo o tempo que me levou.

    Vais gostar, até porque o Tomás regressa em grande e desta vez até tem umas atitudes algo diferentes daquilo que JRS nos habituou.

    Abraço!

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  10. Olá Miguel!

    Fazes muito bem. Eu costumo dizer que o melhor livro de JRS é a "Filha do capitão". Depois, da série "Tomás Noronha", para mim, é o Codex 632.

    Antes de mais diverte-te, pois os livros de JRS são entretenimento puro!

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  11. Já sabia que José Rodrigues dos Santos tinha um novo livro mas ainda não sabia do que se tratava. Parece-me bastante interessante.
    Gosto bastante do autor mas ainda não li nada da série de Tomás de Noronha, do qual me parece que não há opiniões muito favoráveis. No entanto tenho alguma curiosidade já que gostei bastante dos restantes livros.

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  12. Aqui está um livro que me interessa bastante, mas vou esperar por outras edições porque, segundo o autor, há algumas incongruências históricas na primeira edição.

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  13. Deste autor só conheço “O anjo Branco”, mas este que você refere parece prender bem mais.
    Concordo quando você diz que a principal meta de uma leitura é o entretenimento, e de certa maneira acredito que livros sempre nos ensinam algo, alguns de maneira intensa, outros superficialmente, mas ainda assim ensinam!
    Outra vez concordo. Existem uns 4 livros em minha prateleira que estão lá, abandonados, comecei e simplesmente não tive como prosseguir a leitura, muito cansativa.

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  14. Eu já li todos os livros do JRS, incluindo as crónicas de guerra, que são num registo diferente. Adorei todos os romances. Não dá para comparar os romances históricos (A Ilha das Trevas, A Filha do Capitão, A Vida Num Sopro e O Anjo Branco) com os da série Tomás Noronha. São estilos diferentes, embora goste de ambos.
    Também houve uma altura em que o Tomás Noronha me irritou um pouco. Mas o facto do Tomás Noronha Às vezes parecer assim um bocado "Dah", um bocado compreensão lenta em certos assuntos e fazer a mesma pergunta várias vezes, por outras palavras, enquanto a personagem interlocutora também explica por outras palavras não é mais do que uma artifício (eficaz, diga-se de passagem) usado pelo JRS para fazer passar eficientemente a mensagem, para chegar a várias camadas de público. Assim, usando a metáfora de que o Tomás não percebeu, o leitor que não percebeu à primeira, pode ser que perceba à segunda ;)

    Sou grande admiradora do trabalho dele tanto enquanto escritor como enquanto jornalista e não sou pessoa para ficar de pé atrás com escritores/jornalistas.

    Aliás, não concordo com o Manuel Cardoso quando diz que ele é desses que deve a sua fama a outra actividade. Ao princípio pode ter ajudado, obviamente, mas isso acontece a qualquer pessoa que seja conhecida e se inicie em nova actividade. Mas este já é o 9º romance dele e tem vendido muito, mas muito. Se fosse por ser conhecido também venderiam assim a Fátima Lopes, o Júlio Magalhães, o Rodrigo Guedes de Carvalho. E nenhum vende como ele, nem nada que se compare.

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