Embora não seja um apreciador de ficção científica, empreendi a leitura deste livro por viva e entusiasmante sugestão e, confesso, que não dei o meu tempo por mal empregue.
Mais do que um mero conto de ficção científica, este livro, considerado um clássico, é uma extraordinária sátira metafórica á condição humana e à sua psique.
Publicado em 1961, em plena época da corrida espacial e no apogeu da guerra fria, Heinlein escreve um conto magistral sobre a cultura ocidental e os valores que lhe estão inerentes e que são tidos como correctos. Note-se que, 50 anos depois da sua publicação, este conto está muito longe de ter perdido actualidade e é, hoje em dia, tão actual como o foi em 1961 ou como teria sido se tivesse sido escrito em 1861 ou 1961 a.C.
Vinte e cinco anos após uma primeira e desastrosa expedição a Marte, uma segunda expedição acaba por trazer Valentine Michael Smith, filho dos primeiros astronautas, criado por marcianos. Dono de uma imensa influência por motivos de direitos familiares, Michael fica sequestrado pelo governo mundial até se decidir a sua situação. No meio destes interesses, uma enfermeira ajuda-o a fugir e o governo não se poupará a nenhum esforço para o recuperar.
Aparentemente pode parecer um livreco de ficção científica sem grande interesse, no entanto, por baixo dessa história de Michael Smith, Robert Heilein esconde a sua verdadeira intenção que começa a desbravar quando o principal personagem começa a conhecer a estranha sociedade terrestre.
E Heinlein bate forte e feio. A crítica é mordaz e corrosiva. A sociedade, toda ela que se movimenta por interesses materiais, é apresentada como sendo viciada, sobretudo o governo e a igreja, que manipulam o povo desde o berço, dando-lhes conceitos morais nesse sentido de forma a que o medo e a vergonham os impeçam de serem quem poderiam ser na realidade, transformando-os em rebanhos subjugados a uma voz.
Dessa forma, é a própria cultura ocidental que Heinlein atinge. Os valores éticos na religião, na política e no sexo são denunciados sem pudor, levando o leitor a questionar o seu papel, as suas ideologias e motivações nesta sociedade viciada e apodrecida por falsas aparências e falsos conceitos que tornam o Ser Humano num ser terrível que tudo devasta.
Na altura da sua publicação, este livro chocou os leitores. Desconheço do impacto deste livro e até se esses leitores captaram a mensagem de Heinlein. O certo é que é um livro que nos mostra de uma forma muito clara o Ser Humano em todo o seu esplendor e isso, para quem ainda vive na utopia da boa índole do Humanus, pode, de facto, ser chocante.
Gostei muito do livro e, um dos melhores elogios que lhe posso fazer, é que depressa me esqueci que estava a ler um livro tido por ficção científica, considerando-o, de facto, um clássico e uma obra que é digna de figurar no curriculum de um leitor.
Tenho o livro cá em casa por ler. Comprei-o depois de ter lido Os Despojados da Ursula K. Le Guin que recomendo sem qualquer tipo de reserva. Também há duas culturas e a autora debruça-se sobre a anarquia/comunismo versus capitalismo.
ResponderEliminarSugiro que leia mais livros deste maravilhoso(na minha opnião) escritor:)
ResponderEliminarOi White!
ResponderEliminarJá ouvi falar de Ursula le Guin, mas nunca li nada. Vou pesquisar sobre o titulo que referes.
Tenho a certeza que vais gostar deste livro de Heinlein.
Li-o na minha adolescência. Numa época em que só entravam em casa livros de ficção científica. ;)
ResponderEliminarOlá Iceman,
ResponderEliminarnunca li Heinlein. Pela tua descrição parece bastante interessante e mordaz.
Talvez lhe dê uma "voltinha!" :)