Era
uma vez uma menina que chorava porque perdera o peixe caprichoso que era o seu
melhor amigo. Eis que o Homem Corvo lhe entra pela janela e lhe propõe: “Eu
dou-te um peixinho, se tu me deres um coração”. A menina, sabendo que o coração
era vermelho vai à cozinha e traz-lhe um objecto vermelho, uma maçã. O corvo, feliz
e contente, engana a menina, dando-lhe um peixinho de plástico… Chico esperto!
Uma
história muito curta, bem ao estilo de David Soares, sombria e misteriosa que
se acentua mais nas páginas negras bem decoradas pelos desenhos fantásticos de
Ana Bossa. Aliás, se fôssemos considerar o livro apenas pelo seu aspecto
gráfico tridimensional, seria algo que descreveria como arte, pois os cenários
criados por Ana Bossa, a luz e a delicadeza das figuras, transportam-nos para
um cenário misterioso que reforçam ou, se quiserem, dão mais força à metáfora
de David Soares.
Esta
história e tão somente uma metáfora sobre a amizade.
Um
Homem Corvo, que há por aí aos pontapés, engana em proveito próprio o ingénuo, o
inocente que cai na cantiga do bandido e dá algo em troca de nada. No entanto
esse Homem Corvo ainda questiona: “Mas porque é que não gostam de mim?”. Sem
sequer reparar que para ter uma amizade verdadeira, há que conquistar.
No
final, eis que o feitiço se vira contra o feiticeiro e o Homem Corvo tem o
retorno daquilo que semeou.
Conforme
referi, este pequeno livro, tipo banda desenhada, é um álbum que encerra uma
metáfora sobre a necessidade de se semear as verdadeiras amizades e não fazer
favores para ter amigos. Simples e chocante como o Homem Corvo acaba, como
podemos acabar qualquer um de nós se nos comportamos como o Homem Corvo que,
diga-se, é apenas a imagem actual da nossa sociedade.
Parece-me bastante interessante.
ResponderEliminarO último que li de banda desenhada do autor foi "É de noite que faço as perguntas", que é sobre a Primeira República Portuguesa.
Boas!
ResponderEliminarHonestamente nunca tinha lido nenhum registo do género da autoria do David Soares e confesso que gostei da metáfora e, sobretudo, dos desenhos, estão muito bons.