Maria da Glória Joana Carlota Leopoldina da
Cruz Francisca Xavier de Paula Isidora Micaela Gabriela Rafaela Gonzaga de
Bragança, nasceu no Rio de Janeiro no dia 04 de Abril de 1819. Filha
primogénita do Imperador D. Pedro I (D. Pedro IV de Portugal) e da Arquiduquesa
D. Leopoldina da Áustria, Maria nasceu para ocupar um trono: Rainha de
Portugal.
Cognominada
de “A Educadora” ou “A Boa Mãe”, Maria foi uma criança meiga cuja educação fugiu ao padrões convencionais
(entre a realeza) da altura. Sendo educada no Brasil, Maria cresceu em
liberdade e com uma mentalidade que a tornou uma rainha diferente daquela que a
tradição exigia. Em todo o caso, são as suas infantis observações da conturbada
relação dos seus pais, que irão criar a sua forte personalidade. Rainha de
Portugal aos 7 anos, Maria desde muito cedo compreende do papel que lhe está destinado por
Deus. Com a ajuda da sua amada mãe, que vem a falecer muito precocemente, e com
aqueles que estão nomeadas para a educar, ela vai desenvolvendo uma sagacidade
muito pouco comum, diria até, extraordinária, face à sua tenra idade.
Embarcando para a Europa em 1828, com pouco mais de 9 anos, a rainha, que
recorde-se é ainda uma criança, sabe que tem um longo caminho a percorrer até
ser reconhecida como Rainha de Portugal.
O país, em 1828, envolve-se numa fratricida
guerra civil entre os apoiantes de D. Miguel, tio de Maria que se havia
proclamado rei absoluto de Portugal no dia 25 de Junho e os apoiantes de D.
Maria, encabeçados pelo próprio imperador do Brasil. Começavam aí as Guerras
Liberais entre D. Miguel e D. Pedro, que se prolongariam até 1834, ano em que
Maria foi recolocada no trono e o seu tio ser exilado para a Alemanha.
Inicia-se aí o reinado de D. Maria II até ao
ano de 1853, quando Maria, com apenas 34 anos, expira após longas treze horas
de parto, deixando para trás 19 anos de reinado e 8 filhos, entre os quais o
seu primogénito e futuro rei, D. Pedro V e D. Luis, rei após a morte do irmão e
pai de D. Carlos.
Obviamente que tracei de uma forma muito
simplista e directa, uma vida cheia e preenchida de uma mulher que, confesso,
conhecia apenas pelo nome, mas que estava muito longe de conhecer a sua obra e,
principalmente a sua personalidade.
E apaixonou-me o relato, uma vez mais, vivo,
de Isabel Stilwell.
Este é o terceiro romance histórico que leio
de Stilwell. Li “Filipa de Lencastre” e “D. Amélia”, e , após a leitura deste,
só posso desejar que Stilwell continue a sua saga pelas rainhas de Portugal,
pois, para além de nos dar a conhecer a vida e obra dessas mulheres que muito contribuíram
para a Nossa História, é um prazer ler as suas prosas, pois ela sabe escrever,
envolvendo-nos, como por magia, na vida dessas personagens e daquelas que
giravam em volta delas.
Obviamente que aqui as principais
personagens são femininas. Em D. Maria II é possível percebermos a força mas
também a desilusão que foi D. Pedro I do Brasil, D. Fernando de
Saxe-Coburgo-Gotha, o seu amado marido que erigiu o meu amado Palácio da Pena,
e vários outros personagens masculinos que, existiram de facto, e que
demonstraram e tiveram uma imensa influencia na conduta da rainha. Em todo o
caso, são femininas as personagens que mais sobressaem na personalidade de D.
Leopoldina: a amada mamãe, Lurdinhas, Rosa, a sua Florica, mana Xica, Leonor da
Câmara, Marquesa de Aguiar e, principalmente, a poderosa rainha do império
britânico, a Rainha D. Vitória, prima e amiga de D. Maria, que com ela terá uma
imensa e intensa amizade, alicerçada em centenas de cartas entre ambas que são
o pilar deste fabuloso romance histórico.
Ou seja, Stilwell faz um trabalho exemplar
de pesquisa e investigação ao basear este romance nas cartas trocadas entre as
primas. Nelas, vai traçando, não só o quotidiano das famílias britânicas e
portuguesas (Maria e Vitória eram primas, assim como Fernando e Alberto primos
eram), como também a situação política do país. E é através dessas missivas,
que vamos seguindo o estado do país e a forma como Maria reinava.
Um romance extraordinário que nos permite
conhecer uma época conturbada em toda a Europa e onde é possível perceber os
ventos que já sopravam e que seriam os responsáveis pela queda de várias
monarquias, entre elas a Portuguesa que se daria com o regicídio do neto de D.
Maria II. Para além disso, e face aos documentos que a autora pesquisou, é
possível conhecer a mentalidade da época e uma Lisboa muito diferente daquela
que hoje em dia conhecemos, pese embora haja, e ainda bem, vários locais e
monumentos que se mantêm, como, por exemplo, o Palácio das Necessidades, onde
D. Maria II viveu, teve os seus filhos e faleceu. Local onde passo todos os
dias e que tem actualmente outro significado para mim.
Uma leitura altamente aconselhável.
Parece que amas romance históricos. E esse parece ser mais um de meu interesse.
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