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sábado, 23 de junho de 2012

D. Maria II, Tudo por Um Reino – Isabel Stilwell


Maria da Glória Joana Carlota Leopoldina da Cruz Francisca Xavier de Paula Isidora Micaela Gabriela Rafaela Gonzaga de Bragança, nasceu no Rio de Janeiro no dia 04 de Abril de 1819. Filha primogénita do Imperador D. Pedro I (D. Pedro IV de Portugal) e da Arquiduquesa D. Leopoldina da Áustria, Maria nasceu para ocupar um trono: Rainha de Portugal.

Cognominada de “A Educadora” ou “A Boa Mãe”, Maria foi uma criança meiga cuja educação fugiu ao padrões convencionais (entre a realeza) da altura. Sendo educada no Brasil, Maria cresceu em liberdade e com uma mentalidade que a tornou uma rainha diferente daquela que a tradição exigia. Em todo o caso, são as suas infantis observações da conturbada relação dos seus pais, que irão criar a sua forte personalidade. Rainha de Portugal aos 7 anos, Maria desde muito cedo  compreende do papel que lhe está destinado por Deus. Com a ajuda da sua amada mãe, que vem a falecer muito precocemente, e com aqueles que estão nomeadas para a educar, ela vai desenvolvendo uma sagacidade muito pouco comum, diria até, extraordinária, face à sua tenra idade. Embarcando para a Europa em 1828, com pouco mais de 9 anos, a rainha, que recorde-se é ainda uma criança, sabe que tem um longo caminho a percorrer até ser reconhecida como Rainha de Portugal.

O país, em 1828, envolve-se numa fratricida guerra civil entre os apoiantes de D. Miguel, tio de Maria que se havia proclamado rei absoluto de Portugal no dia 25 de Junho e os apoiantes de D. Maria, encabeçados pelo próprio imperador do Brasil. Começavam aí as Guerras Liberais entre D. Miguel e D. Pedro, que se prolongariam até 1834, ano em que Maria foi recolocada no trono e o seu tio ser exilado para a Alemanha.

Inicia-se aí o reinado de D. Maria II até ao ano de 1853, quando Maria, com apenas 34 anos, expira após longas treze horas de parto, deixando para trás 19 anos de reinado e 8 filhos, entre os quais o seu primogénito e futuro rei, D. Pedro V e D. Luis, rei após a morte do irmão e pai de D. Carlos.

Obviamente que tracei de uma forma muito simplista e directa, uma vida cheia e preenchida de uma mulher que, confesso, conhecia apenas pelo nome, mas que estava muito longe de conhecer a sua obra e, principalmente a sua personalidade.

E apaixonou-me o relato, uma vez mais, vivo, de  Isabel Stilwell.

Este é o terceiro romance histórico que leio de Stilwell. Li “Filipa de Lencastre” e “D. Amélia”, e , após a leitura deste, só posso desejar que Stilwell continue a sua saga pelas rainhas de Portugal, pois, para além de nos dar a conhecer a vida e obra dessas mulheres que muito contribuíram para a Nossa História, é um prazer ler as suas prosas, pois ela sabe escrever, envolvendo-nos, como por magia, na vida dessas personagens e daquelas que giravam em volta delas.

Obviamente que aqui as principais personagens são femininas. Em D. Maria II é possível percebermos a força mas também a desilusão que foi D. Pedro I do Brasil, D. Fernando de Saxe-Coburgo-Gotha, o seu amado marido que erigiu o meu amado Palácio da Pena, e vários outros personagens masculinos que, existiram de facto, e que demonstraram e tiveram uma imensa influencia na conduta da rainha. Em todo o caso, são femininas as personagens que mais sobressaem na personalidade de D. Leopoldina: a amada mamãe, Lurdinhas, Rosa, a sua Florica, mana Xica, Leonor da Câmara, Marquesa de Aguiar e, principalmente, a poderosa rainha do império britânico, a Rainha D. Vitória, prima e amiga de D. Maria, que com ela terá uma imensa e intensa amizade, alicerçada em centenas de cartas entre ambas que são o pilar deste fabuloso romance histórico.


Ou seja, Stilwell faz um trabalho exemplar de pesquisa e investigação ao basear este romance nas cartas trocadas entre as primas. Nelas, vai traçando, não só o quotidiano das famílias britânicas e portuguesas (Maria e Vitória eram primas, assim como Fernando e Alberto primos eram), como também a situação política do país. E é através dessas missivas, que vamos seguindo o estado do país e a forma como Maria reinava.

Um romance extraordinário que nos permite conhecer uma época conturbada em toda a Europa e onde é possível perceber os ventos que já sopravam e que seriam os responsáveis pela queda de várias monarquias, entre elas a Portuguesa que se daria com o regicídio do neto de D. Maria II. Para além disso, e face aos documentos que a autora pesquisou, é possível conhecer a mentalidade da época e uma Lisboa muito diferente daquela que hoje em dia conhecemos, pese embora haja, e ainda bem, vários locais e monumentos que se mantêm, como, por exemplo, o Palácio das Necessidades, onde D. Maria II viveu, teve os seus filhos e faleceu. Local onde passo todos os dias e que tem actualmente outro significado para mim.

Uma leitura altamente aconselhável.


1 comentário:

  1. Parece que amas romance históricos. E esse parece ser mais um de meu interesse.

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