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segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Abaddon – Rui Madureira



Embora não seja um apreciador do género de fantasia, empreendi a leitura desta obra por duas razões: gostei da premissa subentendida na sinopse e, pareceu-me logo tratar-se de um livro que continha vários elementos de terror, ou seja, fantasia sim mas com fortes laivos de horror.

E, embora tenha ficado um pouco aquém do que esperava, o certo é que este livro revelou-se ser uma leitura agradável, pese embora se revelasse igualmente uma leitura morosa e, por vezes, enfadonha.

A premissa aguçou-me a curiosidade. O mito da revolta de Lucifer, a sua expulsão do paraíso e o consequente aprisionamento no inferno, local que posteriormente se tornou o seu reino. Muito interessante e motivo para empreender a leitura desta obra, até porque, segundo sei, nunca ninguém pegou neste assunto e o transportou para a ficção, quer seja em livro ou em filme.

Rui Madureira fê-lo neste sua primeira incursão na literatura e, quanto a mim, fê-lo muito bem, dando ao mito um tom lógico e transportando-o para os nossos dias.

Após se rebelar contra Deus, Lucifer comanda milhões de outros anjos numa batalha contra o exército divino comandado por quatro gloriosos generais, os arcanjos Michael, Gabriel, Raphael e Uriel. Porém, nessa batalha, Lucifer acaba por tombar sendo então condenado, para toda a eternidade, ao inferno onde deve ser mantido em completo isolamento.

Passam milhares de anos e Lucifer deixa de ser o anjo que outrora foi, o Primeiro Anjo de Deus, a Estrela da Manhã. Milhares de anos de prisão definham a sua aparência e um ódio crescente toma conta do seu ser. A guardá-la encontra-se Abaddon, o demónio que reina no inferno e que foi mandatado por Deus para manter Lucifer sob controlo.

No entanto Lucifer usa do seu charme para atrair a atenção de Abaddon e acaba por o convencer a soltá-lo e a ajudá-lo a combater Deus, exterminando a sua principal criação: o Ser Humano.

Numa primeira fase, a acção é agradável e interessante. O autor explana, de uma forma muito apurada o panteão e o modo como se organizam anjos, arcanjos, querubins e outros seres celestiais através de longas descrições que tornam a leitura pausada, caindo por vezes numa monotonia face à exaustiva descrição dessa tal organização e da importância que cada um desses seres têm. Quanto a mim, o autor peca por algum exagero nas descrições, alguma repetitividade no enaltecimento de certos personagens assim como perde alguma coerência transformando seres celestiais em, na prática, seres humanos, pois constatamos que anjos e arcanjos também sangram, sofrem e morrem.

O mesmo vai sucedendo no desenrolar da história. Se por um lado, e retirando as descrições, temos uma primeira fase excitante e de acção empolgante, temos posteriormente uma segunda parte que se arrasta em situações repetitivas e, uma vez mais, extremamente longas. As idas diárias do arcanjo a casa do jovem são um dos vários exemplos e começamos a perder o interesse pelo trama face ao pouco desenvolvimento, acabando a leitura por se tornar enfadonha e arrastada.

No entanto o autor salva um pouco a narrativa na terceira parte quando se inicia o apocalipse, a grande batalha entre o exercito de Deus e o exercito de Satanás. Nesta última fase temos situações de violência bem descritas e empolgantes, tornando assim o livro, na sua globalidade, interessante e positivo.

Não me quero alongar mais em considerações sobre a historia de forma a não matar o interesse neste livro que, estou seguro, vai de certo agradar aos fãs do género fantasia, estilo senhor dos anéis, mas atente-se que aqui temos uma componente de horror que de facto traz à memória clássicos como o Exorcista.

Gostei da forma como o autor conseguiu criar a estrutura narrativa, assim como me agradou imenso as descrições das batalhas, contudo não gostei das explicações exaustivas e sobretudo de situações que pouco trouxeram à narrativa e que duravam capítulos inteiros sem que conseguisse perceber, no fim, que mais valias se tornaram. Nota final para os nomes em inglês. Bem sei que o autor, no fim, dá uma breve explicação, no entanto e mesmo a acção se passe em Londres, achei pouco coerente nomes em inglês misturados com expressões bem portuguesas. Teria sido de mais valia a história ter-se passado em qualquer aldeia de Portugal, ate porque e nesse caso, haveria de certos componentes de crenças populares a serem exploradas.

2 comentários:

  1. Ainda vou para a segunda parte da leitura, mas está a ser bem menos moroso do que esperava. É um grande livro, mas até agora não tem sido muito exigente.

    "O Exorcista" é obviamente uma enorme inspiração do autor, confesso que não estava à espera dessa tal componente de terror.

    Ainda assim, até agora tem sido previsível em imensos aspectos. Desde a história ao desenvolvimento das personagens, o autor poderia ter ido mais longe (nota-se demasiado o tal enaltecimento de personagens que referes, mas em pontos demasiado superficiais e clichés a meu ver). Em vez de se repetir tanto nos mesmos pontos, teria sido brilhante pegar nestas personagens e reavivá-las, em vez de simplesmente reescrevê-las (espero estar a fazer-me entender).

    (lembrei-me por causa disso de um livro que também já leste, "Eu, Lúcifer", que embora não tenhas gostado estou agora com muita vontade de experimentar!)

    Mas, tal como dizes, até é de estranhar que nunca ninguém tenha pegado numa premissa como esta. É o maior ponto a favor do autor e aquilo que ainda mais me prende à leitura.

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  2. Olá Pedro!
    Concordo com o que dizes e tens razão nos clichés, sobretudo no que respeita às cenas entre o arcanjo e Abaddon, cheira muito a exorcista.
    Em todo o caso eu também senti que podia ter explorado melhor o contexto, sobretudo no que respeita ao próprio cenário criado, assim como também na condução da acção.
    Eu, repito, foi a principal motivação para ler este livro foi precisamente porque, que saiba, nunca ninguém ter pegado neste tema.
    Abraço!

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