Ciumentos,
vingativos, cobardes, invejosos, frívolos, presunçosos, impostores, vaidosos,
arrogantes, velhacos, traiçoeiros e desonestos. Eis alguns dos adjectivos com
que alguns visitantes estrangeiros caracterizaram o povo português aquando da
sua estadia no nosso país. Porém, nem só disseram mal, do povo português
disseram também ser bondoso, de brandos costumes, alegre, leal, dócil, paciente
e humilde.
A
literatura de viagens esteve muito em voga no séc. XVIII, época em que se
assistiu, um pouco por todo o mundo, ao
surgimento de várias obras sobre lugares de estadia e descrição dos povos e
seus usos e costumes.
Portugal
não escapou a isso e, embora em menor número, são vários os personagens, alguns
mais conhecidos que outros, que por cá passaram e que escreveram as suas
opiniões do que viram e sentiram.
Obviamente
que há muito exagero, alguma ignorância e também a influência de outros relatos
pejorativos que circulavam sobre Portugal a partir da restauração da
independência. Penso mesmo que alguns dessas descrições foram efectuados sem o mínimo
conhecimento de causa, apenas baseados em rumores. Em todo o caso, de todos os
relatos deste livro, há aqueles que são nitidamente facciosos e outros em que
se nota uma preocupação pela verdade e pelo bom senso.
De
notar que há muitos pontos em comum entre todos os relatos. Sobretudo nos
relatos efectuados na mesma altura temporal, há criticas ao perfil do povo que
são muito semelhantes, levando-nos então a crer que de facto era assim mesmo e
isso é deveras interessante pois é possível perceber como se vivia em Portugal
e sobretudo Lisboa nessa época.
Curioso
também constatar das constantes críticas às entidades políticas, à forma como
exploravam e maltratavam o seu povo, ter tanto de semelhante com a actualidade.
Ou seja, o que se referia há 250 anos como um dos principais males da nação,
continua a ser referido hoje em dia.
Um
documento muito interessante que nos leva a conhecer como vivia e comportava o
povo português a partir de 1676 e que nos transmite muitos dos defeitos que,
mesmo não gostando de admitir, estão por detrás da nossa eterna crise que irá
continuar a ser eterna. Não adianta pensar o contrário, está-nos no sangue.
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