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sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Carta de despedida de Gabriel García Marquéz

No ano passado, Jaime García Marquéz, irmão do autor, anunciou ao Mundo que o escritor sofria de uma demência senil. Em jeito de despedida, o Nobel escreveu uma carta.


"Se, por um instante, Deus se esquecesse de que sou uma marioneta de trapo e me presenteasse com um pedaço de vida, possivelmente não diria tudo o que penso, mas, certamente pensaria tudo o que digo. Daria valor às coisas, não pelo o que valem, mas pelo que significam. Dormiria pouco, sonharia mais, pois sei que a cada minuto que fechamos os olhos, perdemos sessenta segundos de luz. Andaria quando os demais parassem, acordaria quando os outros dormem. Escutaria quando os outros falassem e disfrutaria de um bom gelado de chocolate.

Se Deus me presenteasse com um pedaço de vida vestiria simplesmente, jorgar-me-ia de bruços no solo, deixando a descoberto não apenas meu corpo, como também a minha alma.

Deus meu, se eu tivesse um coração, escreveria o meu ódio sobre o gelo e esperaria que o sol saisse. Pintaria com um sonho de Van Gogh sobre as estrelas um poema de Mário Benedetti e uma canção de Serrat seria a serenata que ofereceria à Lua. Regaria as rosas com as minhas lágrimas para sentir a dor dos espinhos e o encarnado beijo das suas pétalas.

Deus meu, se eu tivesse um pedaço de vida!… Não deixaria passar um só dia sem dizer às pessoas: amo-te, amo-te. Convenceria cada mulher e cada homem de que são os meus favoritos e viveria apaixonado pelo amor.

Aos homens, provar-lhes-ia como estão enganados ao pensar que deixam de se apaixonar quando envelhecem, sem saber que envelhecem quando deixam de se apaixonar.

A uma criança, daria asas, mas deixaria que aprendesse a voar sozinha.

Aos velhos ensinaria que a morte não chega com a velhice, mas com o esquecimento.

Tantas coisas aprendi com vocês, os homens… Aprendi que todos querem viver no cimo da montanha, sem saber que a verdadeira felicidade está na forma de subir a rampa. Aprendi que quando um recém-nascido aperta, com sua pequena mão, pela primeira vez, o dedo do pai, tem-no prisioneiro para sempre. Aprendi que um homem só tem o direito de olhar um outro de cima para baixo para ajudá-lo a levantar-se.

São tantas as coisas que pude aprender com vocês, mas, a mim não poderão servir muito, porque quando me olharem dentro dessa maleta, infelizmente estarei a morrer.”

8 comentários:

  1. Sobre este texto Gabriel Garcia Marquez disse há uns tempos que morreria era de vergonha se alguém acreditasse que tinha sido ele quem o escreveu.

    Isto anda a circular na net há uns tempos, mas não foi escrito por Garcia Marquez.

    Jorge Soares

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  2. Grandes verdades, a frase que me prendeu foi essa "Aprendi que todos querem viver no cimo da montanha, sem saber que a verdadeira felicidade está na forma de subir a rampa" :D
    às vezes somos esquecidos!!
    Um abraço, não conhecia a carta, obrigado pela partilha!

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  3. Espantoso. Obrigado me fazeres ler essas palavras.

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  4. Que belo texto! É um dos maiores escritores de sempre. Que pena que não esteja bem.

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  5. Muito obrigada pelo encanto e deslumbre que me provocou a leitura deste texto. Uma escolha excelente, de um autor ímpar que muito me agrada!!!!
    De muito bom gosto literário.
    Bem haja pela sua existência blogosférica!

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  6. «Aprendi que um homem só tem o direito de olhar um outro de cima para baixo para ajudá-lo a levantar-se».

    Lindíssimo.

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  7. Sinceramente, sinceramente e muito sinceramente!
    Li-o e tenho-o como escrito por Garcia Marquez. Não foi? Não me interessa, pois o texto é lindíssimo e tocou-me.
    Abraço a todos!

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  8. Sendo ou não sendo é simplesmente ma-ra-vi-lho-so!
    Obrigada por esta partilha tão emotiva.

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