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sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Thibault (Os) – Roger Martin du Gard

“Os Thibault”, obra grande de Roger Martin du Gard e um dos meus grandes objectivos literários para 2013, cumprido ao longo de quase dois meses.

Escrito entre 1922 e 1940, este é um dos clássicos que há muito fazia tenção de ler. Adquirida num alfarrabista há vários anos atrás, numa edição velhinha da Livros do Brasil e dividida em três volumes, tentei, desde essa altura, ler esta obra por duas vezes (a última há 3 anos), sendo que acabei sempre por desistir antes de atingir a página 200 do 1º volume. Mas, desta vez fiz “tripas, coração” e resolvi forçar a leitura da obra (algo que muito raramente faço), mesmo em períodos de longos bocejos e até intercalando com outros livros, mas acabei por conseguir e, no fim, posso dizer que gostei mas que está longe de ser daquelas obras que me deixa saudades, daquelas obras que penso um dia reler. Li, analisei a obra durante a sua leitura, deliciei-me com certos diálogos fenomenais, apaixonei-me por alguns, poucos, personagens, mas pouco me deu enquanto obra de referência, exceptuando uma soberba análise do antes e durante a Primeira Grande Guerra.

Dividido entre duas famílias, Du Gard desenha-nos o panorama de uma micro sociedade burguesa clerical e protestante. De um lado a família Thibault chefiada pelo seu opressivo pai  que procura criar os filhos com mão de ferro, do outro a família Fontanin, protestante, mais livre e cujas relações pessoais são menos formais.

É entre estas duas famílias que o romance é desenhado, saltando de família em família, de personagem em personagem, delineando os seus carácteres tão diferentes mas que nos vão dar uma imagem da sociedade francesa da primeira década do séc. XX.

Durante essa fase e embora possa admitir algum interesse, perguntava-me a mim próprio que interesse teria eu em ler sobre essas relações pessoais. O percurso de Jacques e Daniel é muito interessante. Duas crianças rebeldes que fogem às famílias e que acabam pela sanção de uma delas enquanto a outra é recebida com carinho, é algo que vai ter alguma repercussão no futuro, sobretudo no que respeita ao mais rebelde. Depois temos Antoine, jovem médico, ateu e com um feitio completamente diferente do irmão, o personagem que mais me cativou, aquele que mais me deslumbrou com as suas teses, aliás uma das grandes características deste livro são as muitas mensagens simbólicas que, à época, fazia todo o sentido.

Actualmente, e embora muitas das teses sejam perfeitamente actuais, o romance perde interesse em diversos momentos, caindo numa monotonia sonolenta sem que entendamos bem qual o objectivo do autor, não digo que os “caminhos” seguidos não dêm em nada, mas fiquei com a sensação de que o caminho traçado não teve grande significado objectivo, uma espécie de alguma palha. São alguns os exemplos que são explanados nas mais de 1500 páginas, no entanto a minha percepção da obra mudou no último terço do terceiro volume. Somos assaltados por uma guerra brutal e pela constatação de uma realidade que vai matar o sonho a milhões de seres humanos em tudo o mundo. Confesso que fiquei fascinado com esta fase e, sobretudo, com a enorme qualidade da escrita de Du Gard, esta qualidade que, diga-se, abrange toda a obra. Belíssimos diálogos, dissertações que nos fazem meditar na essência do Ser Humano e no desenrolar da sua História, fabulosas meditações que marcam esta obra, que ditam o destino, não só dos personagens, como da própria civilização.

Uma obra que valeu o Nobel a Martin Du Gard e que merecia uma reedição de uma editora, em vez de tanta obra de qualidade duvidosa que expelem mensalmente.

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