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domingo, 29 de dezembro de 2013

Cerco de Leninegrado (O) – Michael Jones

Iniciei o ano de 2013 a ler sobre a 2ª Guerra Mundial e acabo o ano a ler sobre um dos piores e mais terríveis episódios deste conflito: O cerco de Leninegrado.

Aquando da leitura da obra de Martin Gilbert, um dado sobressaiu: de todos os países envolvidos no conflito, a União Soviética foi aquele que mais perdas humanas teves. Entre civis e militares calcula-se que morreram vinte milhões de pessoas!

Nesta presente obra, esta evidência ressalta com toda a força e percebemos também a causa de tanto morticínio. O autor refere, por variadíssimas vezes que muitos factos só foram conhecidos publicamente após o fim da União Soviética e que muitos dados ainda estão por conhecer. Ou seja, é claro que muitas dessas vitimas se deveram a incúria de políticos e chefias militares que demonstraram uma total desprezo pela vida humana. São aqui relatados, não só as causas que colocaram à frente do exército chefias vaidosas e incompetentes, como também da instabilidade dos seus líderes, inclusivamente Estaline, que não só mandavam os soldados para a morte como também foram um dos grandes responsáveis pelo cerco de Leninegrado.

E é assustador o que este livro revela, mais assustador quando sabemos que o que aconteceu pode vir a acontecer outra vez, pois a essência do Ser Humano é maldosa e a História repete-se vezes sem conta, pois este cerco pode ser a que melhor está documentado, mas não é caso único na História onde uma força sitiadora tenta conquistar pela fome uma cidade.

Durante 872 dias (entre 1941 e 1944) as forças alemãs sitiaram a cidade condenando à fome milhões de civis. Foi uma atitude propositada, os próprios soldados alemães tinham disso consciência e há inúmeras provas que o atestam.  E é baseado em relatos dos próprios sitiados, a maioria escritos em diários agora em exposição num museu dedicado ao cerco, que o autor vai construindo um cenário monstruoso e terrífico do quotidiano dos cidadãos e pelo que passaram.

Confesso que em muitas alturas tive de parar de ler tal a agonia que me metia. Casos de canibalismo de virar o estomago são narrados de uma forma crua, tornando este episódio ainda mais brutal, pois num conflito armado até podemos perceber os combates, mas é inimaginável conceber a angústia da fome ao ponto de fazer seres humanos matar outros para os comerem. De bandos de canibais organizados que fomentaram mercados negros de carne humana e isso com o beneplácito indirecto dos dirigentes da própria cidade. Declaradamente foram 1.400 pessoas presas por actos de canibalismo e 300 executadas, no entanto facilmente se percebe que foram muito, mas mesmo muitos mais casos, assustadoramente muitos mais.

Não conhecia esse lado, propositadamente escondido da opinião pública e que inclusive Martin Gilbert omite, não sei se propositadamente ou não, na sua obra “Segunda Guerra Mundial”, mas confesso que foi o aspecto que mais me enojou mas que acabou por não me surpreender, pois e, repito, a História está cheia de factos desses.

Um livro brutal que revela, uma vez mais, a essência do Ser Humano e do que o mesmo é capaz de fazer ao seu congénere (para o bem e para o mal), no entanto é uma obra que revela também a enorme capacidade de resistência e de adaptação que o Ser Humano revela quando confrontado com situações extremas.

Uma leitura perturbadora, nada aconselhável a estômagos fracos.

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