Iniciei o ano de 2013 a ler sobre a 2ª Guerra Mundial e
acabo o ano a ler sobre um dos piores e mais terríveis episódios deste
conflito: O cerco de Leninegrado.
Aquando da leitura da obra de Martin Gilbert, um dado
sobressaiu: de todos os países envolvidos no conflito, a União Soviética foi
aquele que mais perdas humanas teves. Entre civis e militares calcula-se que
morreram vinte milhões de pessoas!
Nesta presente obra, esta evidência ressalta com toda a
força e percebemos também a causa de tanto morticínio. O autor refere, por variadíssimas
vezes que muitos factos só foram conhecidos publicamente após o fim da União
Soviética e que muitos dados ainda estão por conhecer. Ou seja, é claro que
muitas dessas vitimas se deveram a incúria de políticos e chefias militares que
demonstraram uma total desprezo pela vida humana. São aqui relatados, não só as
causas que colocaram à frente do exército chefias vaidosas e incompetentes,
como também da instabilidade dos seus líderes, inclusivamente Estaline, que não
só mandavam os soldados para a morte como também foram um dos grandes
responsáveis pelo cerco de Leninegrado.
E é assustador o que este livro revela, mais assustador
quando sabemos que o que aconteceu pode vir a acontecer outra vez, pois a
essência do Ser Humano é maldosa e a História repete-se vezes sem conta, pois
este cerco pode ser a que melhor está documentado, mas não é caso único na História
onde uma força sitiadora tenta conquistar pela fome uma cidade.
Durante 872 dias (entre 1941 e 1944) as forças alemãs
sitiaram a cidade condenando à fome milhões de civis. Foi uma atitude
propositada, os próprios soldados alemães tinham disso consciência e há inúmeras
provas que o atestam. E é baseado em
relatos dos próprios sitiados, a maioria escritos em diários agora em exposição
num museu dedicado ao cerco, que o autor vai construindo um cenário monstruoso
e terrífico do quotidiano dos cidadãos e pelo que passaram.
Confesso que em muitas alturas tive de parar de ler tal a
agonia que me metia. Casos de canibalismo de virar o estomago são narrados de
uma forma crua, tornando este episódio ainda mais brutal, pois num conflito
armado até podemos perceber os combates, mas é inimaginável conceber a angústia
da fome ao ponto de fazer seres humanos matar outros para os comerem. De bandos
de canibais organizados que fomentaram mercados negros de carne humana e isso
com o beneplácito indirecto dos dirigentes da própria cidade. Declaradamente foram
1.400 pessoas presas por actos de canibalismo e 300 executadas, no entanto
facilmente se percebe que foram muito, mas mesmo muitos mais casos,
assustadoramente muitos mais.
Não conhecia esse lado, propositadamente escondido da
opinião pública e que inclusive Martin Gilbert omite, não sei se
propositadamente ou não, na sua obra “Segunda Guerra Mundial”, mas confesso que
foi o aspecto que mais me enojou mas que acabou por não me surpreender, pois e,
repito, a História está cheia de factos desses.
Um livro brutal que revela, uma vez mais, a essência do Ser
Humano e do que o mesmo é capaz de fazer ao seu congénere (para o bem e para o
mal), no entanto é uma obra que revela também a enorme capacidade de
resistência e de adaptação que o Ser Humano revela quando confrontado com situações
extremas.
Uma leitura perturbadora, nada aconselhável a estômagos fracos.
Onde vc comprou o livro?
ResponderEliminarOnde conseguiu comprar o livro?
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