É sempre um enorme prazer voltar a ler autores
que admiramos, não só pela sua qualidade literária como também pelo papel que
desempenham em expor ao mundo situações ou estados da sua nação.
Luis Sepúlveda é um desses autores.
Chileno, exilado há muitos anos em Espanha, não
hesita em apontar o dedo às mais variadas situações que grassam no Chile,
sobretudo nos terríveis anos em que Pinochet governou.
“Crónicas do Sul”, é um conjunto de crónicas escritos
em 2005 e 2006, em que Supúlveda se debruça sobre uma enorme galeria de
acontecimentos que marcaram os anos de horror de Pinochet.
Exercício de liberdade, grito de revolta, uma
espécie de autor incómodo para os neoliberais de todo o mundo, o autor vai
dissertando sobre vários episódios do seu Chile e também um pouco do resto do
mundo. É inegável o seu asco ao neoliberalismo que demonstra, com exemplos
claros, funcionar sempre contra o povo em prol das classes mais ricas.
E, mesmo sabendo que a intenção de Sepúlveda é
o de narrar e expor as vis políticas e accões de Pinochet e dos seus compinchas,
é arrepiante ver na situações descritas exemplos do que está a acontecer em
Portugal.
Veja-se este exemplo: “Enquanto as bases da
economia, da cultura e da história social do Chile eram destruídas através de
privatizações dos bens nacionais que incluíram a saúde e a educação, qualquer
tentativa de oposição era esmagada por meio de assassínios, tortura e desaparecimentos ou exílio. Isto é tudo o que Pinochet deixa, um país falido e
sem futuro, um país onde os direitos elementares , como o contrato de trabalho,
a informação, a saúde publica e a educação, são quimeras mais difíceis de
alcançar.” Ou ainda “… que aceitaram sem contestar as tropelias impostas pelo
Fundo Monetário Internacional (FMI) e pelo Banco Mundial, interessados em fazer
parte dessa «realidade económica global» que apenas consegue miséria e êxodos
maciços de população”
Pois é, a política neoliberal segue um
pensamento ideológico bem organizado que opera sempre da mesma forma em
beneficio da alta finança e que traz a reboque a corrupção e o trafego de
influências e, em muitos casos, como no Chile, governos ditatoriais ao serviço
desses interesses.
Isto não vos soa a algo familiar?
Não sigo o pensamento político de Sepúlveda (é preciso recordar que foi membro do PC Chileno, embora compreenda bem a sua oposição ao regime de Pinochet) mas não deixo sempre de afirmar que o chileno é um dos maiores escritores vivos e alguns dos seus livros estão entre os meus favoritos de todos os tempos!
ResponderEliminarEste tipo de crítica, ou de perspectiva, é sempre uma oportunidade para analisarmos de forma mais precisa o estado (ou Estado) político e social de um país. Não seria um bom livro para sugerir a altos membros? ;)
ResponderEliminarBoas leituras!