Já aqui referi que gosto de
ler os livros de José Rodrigues dos Santos. Longe, muito longe, de serem
grandes obras literárias, decerto jamais irá vencer ou perto disso o Nobel da
Literatura, o certo é que os seus livros me entretém e têm a capacidade de me
despertarem a atenção para outros assuntos que, por diversas vezes, me têm
levado a descobrir outros autores e outras obras muito boas.
A presente obra que, vá lá,
direi o primeiro volume de dois em que o autor se propõe a narrar a vida de
Kaloust Gulbenkian, é pois mais um dessas obras de puro entretenimento, um
pouco num estilo cinematográfico, que explana a narrativa de uma forma muito
simples e com capítulos muito curtos de uma forma de takes cinematográficos e
que nos vai traçando o percurso de Gulbenkian desde quase o seu nascimento até
1913, altura em que se inicia a Primeira Grande Guerra.
No entanto e de todos os
livros que já li do autor, e posso dizer que já os li efectivamente todos, este
é o mais fraco em todos os aspectos.
A narrativa é muito fraca e
algo incoerente. Parece que o autor escreveu o livro imaginando um roteiro de
um filme. As situações surgem um pouco desligadas e há outras, que a meu ver
mereciam uma maior profundidade, que são narradas de uma forma muito simplista,
como e por exemplo a perseguição turca aos arménios. Depois, há situações que
são explicadas ou resolvidas de uma forma muito tosca. Ou seja, o autor aborda
de facto essa e outras questões mas pouco ou nada a explica, deixando-nos a
ideia de um trajecto feito de facilidade quando, sei, não foi bem isso que
sucedeu. Para além disso, não gostei igualmente da forma que o autor encontrou
para começar a história nem do encadeamento dos episódios da sua vida. Obviamente
que sei que se trata de um romance, mas, a meu ver, o autor tem obrigação de
fazer um trabalho mais apurado, nem que seja apenas e só devido á sua formação
académica.
Tenho já o segundo volume
para ler mas, face à enormidade volumosa da obra e ao tempo que demorou a
escrever, não acredito que melhore, pois esta é uma obra escrita algo a “martelo”
e deve ser mais do mesmo. No entanto nem tudo é mau. Entretém e dá-nos um
aspecto, frágil é certo, da vida de Gulbenkian e da forma como granjeou fortuna
e fama. Vou ler decerto.
Bem, opiniões são opiniões :) . Eu gosto muito dos livros do José Rodrigues dos Santos e não sei muito bem o que é uma grande obra literária. Cada um é boa ou má dentro do seu estilo. E acho que, visto por esse ponto de vista, as obras dele são boas.
ResponderEliminarNão me parece escrito a martelo e não sei se sabe, mas estes dois romances estavam a ser escritos há cerca de 10 anos... Ele é que foi metendo outras obras pelo meio, mas sem deixar esta...Aliás, isso é comum nele: nunca tem apenas uma obra em mãos, embora uma seja a mais urgente. Mas isso poupa-lhe muito trabalho pois enquanto anda à procura de material para umas obras, encontra para outras acidentalmente e recolhe logo ou fica com a referência...Só assim consegue lançar um livro por ano (este ano que passou foram dois, porque, na verdade, são dois volumes do mesmo romance)
:)
Ainda não foi desta que me convenceste. :)
ResponderEliminarMas o certo é que não hei-de passar muito tempo até ler JRS. Nem que seja para dizer mal...
Abraço
Manuel,
ResponderEliminarhonestamente, sinceramente, gostava imenso que lesses a "Filha do Capitão" e o "Codex 632".
Acredita que se trata de obras muito boas, a "Filha do Capitão", a meu ver, é uma das melhoras obras da literatura portuguesa, mas isto é a minha opinião.
Agora, as restantes são mais fracas e o que constato é que de obra para obra a qualidade tem vindo a descer. Também escrever 1200 páginas em seis meses... não deve dar para muita qualidade. ;)
Olá São.
ResponderEliminarPois é, escrito há dez anos para cá? Então ainda critico mais face à sua pouca qualidade e, sinceramente, não acredito nisso, pois não é possível dez anos de trabalho estarem ali representados.
Repito, já li todos os livros dele e confesso a minha imensa admiração pela "Filha do Capitão" e, constata da enorme diferença qualitativa entre essas duas obras. Uma enormidade e nota que a Filha do Capitão foi escrita baseada numa tese que ele havia feito para o seu curso (pelo menos foi o próprio que um dia disse). Ali sim, nota-se uma investigação muito boa, sobretudo na descrição da vida dos soldados portugueses nas trincheiras entre outros pormenores. Agora este?
Mas enfim, é a minha opinião, mas confesso que eu também sou já muito exigente, sinceramente acho que ele tinha obrigação de fazer melhor face à experiência que tem e à enormidade de leitores que o lêm.
Mas, repito, acabo sempre por ler as suas obras, entretêm-me e vou ler o "Milionário em Lisboa". Mas que este "Homem de Constantinopla", comparativamente aos outros, é fraco, isso é.
Já anotei.
ResponderEliminarPrometo que vou ler um desses dois :)
Olá :)
ResponderEliminarSim, mas foi como eu disse, o livro (ou os livros) foi sendo alinhavado desde há 10 anos para cá, mas pelo meio ele foi metendo outros e este foi ficando para trás. Claro que não foram 10 anos dedicados só a estes (não sei se diga estes se diga este, porque na verdade os dois são apenas um). Às vezes coisas feitas assim também acabam por sair mal porque a pessoa vai deixando muito para trás, depois quando vai pegar já está com outras ideias, acabam por ficar pontas soltas. É por isso que eu não gosto de grandes prazos para se fazerem as coisas. Às vezes, muito tempo com uma coisa em mãos acaba por "azedar"...
Eu acho que tenho que voltar a ler "A Filha do Capitão" porque ouço e leio tanta gente dizer que é tão superior aos outros (nem todas as pessoas dizem, mas muitas dizem, sim) que acabo por sentir curiosidade. Eu li há muitos anos e gostei, mas não achei que fosse assim tão superior aos outros, sinceramente. Eu gosto de todos os livros dele. É uma escrita que me encanta. Gosto muito da forma como ele escreve.
Realmente, nota-se que cada vez foi escrevendo mais à pressa, embora eu gostasse na mesma, mas agora nestes dois, curiosamente eu não notei isso :) . São opiniões. É engraçado :) . Aliás, eu quando foi d' "A Mão do Diabo" escrevi-lhe e disse-lhe isso mesmo (esse sim, foi escrito em menos de um ano, ele foi ao programa da Júlia Pinheiro dar uma entrevista sobre "O Último Segredo", ela perguntou-lhe porque é que ele não escrevia sobre a crise, ele disse que nunca tinha pensado nisso, mas depois de sair de lá começou a pensar que era uma boa ideia para informar as pessoas e decidiu avançar). Mas agora nestes, curiosamente, não notei essa pressa. Achei que houve cuidado, embora tenha gostado mais de "Um Milionário em Lisboa".
Enfim, são opiniões :) . Também conheço muito quem não tenha gostado nada d' "A Vida Num Sopro" e foi um dos que eu mais adorei :)
É natural que ele tenha aproveitado muito da tese de doutoramento dele para "A Filha do Capitão" porque está muito relacionado com o tema da guerra, que foi o tema da tese, que aliás, está publicada (com mais uns pozinhos, acho) em três volumes de crónicas de guerra :)