Dividido
em três volumes que foram escritos em 15 anos (1947 – 1962), “O Tempo e o Vento”
é considerado como a Obra Prima de Erico Veríssimo, um autor que muito admiro,
sendo que “Olhai os Lírios do Campo” figuram como um dos livros da minha vida.
Desta forma empreendi a leitura desta mega-obra (mais de 2.000 páginas), algo
que estava há muito tempo nas minhas pretensões.
Devido
não só à extensão da obra, proponho-me a comentá-la à medida que vou lendo os
três volumes e também porque não faço tensões de os ler em série. Ou seja,
agora terminei “O Continente” e vou pegar noutros livros que aqui tenho para,
qualquer dia, pegar no “O Retrato” (2º volume) e posteriormente no “O
Arquipélago”, pois também já constatei que, embora sendo uma saga, os volumes
se podem ler de uma forma independente.
De
uma forma muito resumida, “O Tempo e o Vento” narra a história do Rio Grande do
Sul que se entrelaça com a família Terra Cambará. Embora o título presente
abranja 150 anos dessa história (1745-1895), podemos, sem sombra de dúvida,
afirmar que mais do que a história desse vilarejo e dessa família, o que
sobressai é a História do próprio Brasil.
1745
o Brasil pertence ainda à coroa portuguesa e se por um lado os castelhanos
entram território adentro matando tudo o que encontram, por outro lado
assiste-se a uma cimentação das missões jesuítas e é precisamente numa destas
missões que se inicia o romance com o nascimento de Pedro Missioneiro. A partir
daí e à medida que vamos acompanhando o percurso de vários personagens, o autor
dá-nos o ponto de situação da nação brasileira e da forma como os portugueses
conseguiram manter aquele imenso território unido. Cheio de guerras e episódios
verdadeiramente sangrentos, entra-nos alma dentro a constação da miscelânea de
um povo e as suas raízes.
Propositalmente
situado na região gaúcha por ser a região natal do autor, o livro dá-nos
belíssimos momentos de narrativa só ao alcance dos génios literários que de
facto Veríssimo foi.
De notar
que, pese embora o livro assente na força das personagens femininas, são de
facto elas que servem de suporte não apenas à família como igualmente a toda a
obra (família Terra), são sim as personagens masculinas aquelas que com a sua
coragem e força dão força e carisma à narrativa (família Cambará). É inegável o
apego que essas personagens masculinas nos deixam. De Pedro Missioneiro a
Maneco Terra, sobretudo o carismático “sem vergonha” Cap. Rodrigo Cambará,
Juvenal Terra, Bolívar Cambará, entre outros, são personagens masculinos que
nos servem de mote para todo um romance brilhantemente construído, pese embora,
repito, sejam as figuras femininas aquelas que os suportem.
É
impressionante a capacidade que Veríssimo tinha em construir personagens de uma
enorme complexidade. Todos eles têm o seu lugar e a sua importância bem
definidas no romance. Dos mais carismáticos aqueles que aparentemente pouca
importância têm, o autor consegue-lhes dar uma alma que faz com que todos eles
sejam recordados muito depois de terem desaparecido. Ou seja, pese embora a
árvore genealógica seja grande, não é de todo difícil conseguirmos visualizar e
recordar quem foi quem e recordar-nos da sua importância no romance.
Este
é pois um romance soberbo que vai directamente para a galeria restrita dos meus
livros favoritos e uma obra que aconselho a todos aqueles que apreciam a boa
literatura que também nos oferece a narrativa de parte da História do Brasil
que é também um pouco da História de Portugal.
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