De
todos os conflitos militares, a I Guerra Mundial é aquele que mais me fascina
dado a forma como o mesmo se realizou como também porque foi o primeiro
conflito em que a mortalidade e bestialidade humana atingiu proporções nunca
antes vistas. Por outro lado sempre estranhei e, simultaneamente, me “fascinou”
a forma como a guerra das trincheiras foi realizada, pois quem mandava, ainda imbuído
pelo espírito heroico de outras campanhas do século XIX, achava que o soldado
era “carne para canhão” e onde a luta corpo-a-corpo ocupava um lugar primordial
no planeamento das batalhas. Desta forma pode-se compreender que depois de soar
o apito, milhares de homens corriam direito ao inimigo que, simplesmente, fazia
“caça ao boneco” e a mortandade era inimaginável. Por outro lado os soldados
nem pensavam que podia ser diferente. Simplesmente estavam ali para lutar porque
lhes mandavam e as suas vidas de nada valiam. Os oficiais esqueceram-se amiúde vezes
que foi nessa guerra que surgiram armas portentosamente potentes, como nunca
antes vista, que “vomitavam” fogo, causando em poucos segundos enormes baixas
no inimigo.
Neste
conflito, por razões que não importa agora comentar, Portugal fez-se
representar pelo CEP (Corpo Expedicionário Português), composto por vários batalhões
e alguns milhares de homens, a maioria, pelo menos metade, aldeões analfabetos
que foram arrancados às suas aldeias e famílias e jogados nas trincheiras em
França para combater os alemães numa guerra que, quase todos, desconhecia as
razões.
Um
desses homens foi Aníbal Augusto Milhais que partiu
de Valongo, Minho, para a Flandres em 1917 para ser um dos soldados da pátria.
Na Batalha de La Lys, no dia 09 de Abril de 1918, na Grande Ofensiva alemã,
onde as saturadas e esfarrapadas tropas lusas foram dizimadas, Milhais virou
herói e posterior lenda. Sózinho, com a ajuda da “sua” metralhadora Lewis,
conseguiu atrasar o avanço das tropas alemãs, ceifando a vida a dezenas de
soldados do Reich, Posteriormente é condecorado com a Ordem de Torre e Espada.
No entanto só a partir de 1924 a sua história é conhecida pela opinião pública
e a partir daí inicia-se um movimento que será aproveitado pelos poderes
políticos e pelo próprio Milhais, pois o mesmo percebeu que poderia obter algum
proveito e isso é claro na forma até como se apresenta numa entrevista
efectuada em 1967 à RTP.
Este livro narra tudo isso. Desde a sua partida para a Guerra às
cerimónias que o consagram a partir de 1924, até ao seu falecimento em 1970.
Gostei bastante do livro e de ler a história pormenorizada da
acção em La Lys, sobretudo porque o que ficou para a História foi que as tropas
portuguesas foram simplesmente aniquiladas pelo avanço boche e de heróis pouco
ou nada ficou. No entanto, para além do soldado Milhais (ficou milhões porque
segundo a lenda, era milhais mas valia por milhões), é percetível que existiram
outros heróis que a História acabou por esquecer mas a quem a nação deve muito,
pois o seu papel foi importantíssimo para a manutenção da República e a
manutenção das colónias que viríamos a perder em 1974 e 1975.
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