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quinta-feira, 9 de novembro de 2017

Rapariga que Sonhava com Uma Lata de Gasolina e Um Fósforo - Stieg Larsson

Stieg Larsson foi um dos jornalistas mais influentes da Suécia das últimas décadas, sendo responsável por uma série de denuncias que mexeram com forças poderosas do seu país, o que lhe valeu várias ameaças de morte.

Pouco depois de ter escrito a trilogia Millenium, onde, de uma forma romanceada, aborda várias temáticas que ele próprio investigou, morreu supostamente de ataque cardíaco aos 50 anos e sem que tivesse visto a sua obra editada.

Depois de ter lido os dois primeiros volumes da trilogia e sem querer entrar em cenários de teorias de conspiração, fico convencido que muitos ficaram felizes com a sua morte e isso sem querer sugerir que essa morte não tenha sido natural. Desconheço se houve ou não investigação, mas e a meu ver, é no mínimo estranho que um jornalista, ainda jovem, tenha falecido de ataque cardíaco e sem testemunhas. Mas enfim!

Com a trilogia Millenium, Stieg criou todo um conjunto de personagens, cujo carácter transborda de força. Enquanto se por um lado temos o principal personagem, Mikael Blomkvist, claramente o alter-ego de Stieg, por outro temos uma das personagens que mais me encantaram nos últimos temos, nomeadamente Lisbeth Salander, jovem problemática mas de uma inteligência acima da média.

Se no primeiro volume o livro é particularmente centrado em Blomvist, aqui neste 2º volume, é Lisbeth que ocupa o lugar de destaque sendo que é um destaque algo omnipresente, ou seja, se até certa altura a sua presença é constante, a partir de certo momento ela desaparece para dar lugar a outros personagens a mãos com um crime cuja principal suspeita recai precisamente em Lisbeth. A partir do momento em que se dá o crime, nasce uma perseguição a Salander que vai terminar em extrema violência.

No entanto o trama no qual o livro se baseia é apenas o pretexto para algo muito mais profundo que Stieg quis abordar: tráfico de mulheres para exploração sexual e a violência sobre as mulheres. E é claro que o autor conta a história ficcional baseado em eventos e factos verídicos cuja realidade nós desconhecemos, mas estou certo que muitos conhecem na Suécia. Para mim isso é claríssimo, pois há vários alturas do livro que parece que estamos a ler uma reportagem de investigação, tal a minuciosidade de detalhes e cujos objectivos estão bem identificados. É um pouco como quando em Portugal se fala do Papa e do calor da noite. Todos sabemos a quem se destina, mas e obviamente que no estrangeiro desconhecem.

Porém, confesso que gostei mais do primeiro volume.

Este volume é completamente independente, ou seja, é daquelas trilogias que não é necessário ler-se o primeiro volume para se ler os seguintes, pois e embora existam factos de conexão, qualquer leitor irá compreender a história e até conseguir ligar eventos do passado, no entanto gostei mais da acção do primeiro volume, do trama em si e até da forma como Lisbeth e Mikael foram descritos e o que foram fazendo. Aqui neste volume, peca-se um pouco pela sua ausência e foram dezenas de páginas sem que qualquer um deles surgisse ou, quando o fizesse, o fizesse de uma forma algo passageira.

No entanto, gostei do livro e, uma vez mais, adorei o conjunto de personagens criado por Stieg Larsson.