Stieg Larsson foi um dos jornalistas mais
influentes da Suécia das últimas décadas, sendo responsável por uma série de
denuncias que mexeram com forças poderosas do seu país, o que lhe valeu várias
ameaças de morte.
Pouco depois de ter escrito a trilogia
Millenium, onde, de uma forma romanceada, aborda várias temáticas que ele
próprio investigou, morreu supostamente de ataque cardíaco aos 50 anos e sem
que tivesse visto a sua obra editada.
Depois de ter lido os dois primeiros volumes
da trilogia e sem querer entrar em cenários de teorias de conspiração, fico
convencido que muitos ficaram felizes com a sua morte e isso sem querer sugerir
que essa morte não tenha sido natural. Desconheço se houve ou não investigação,
mas e a meu ver, é no mínimo estranho que um jornalista, ainda jovem, tenha
falecido de ataque cardíaco e sem testemunhas. Mas enfim!
Com a trilogia Millenium, Stieg criou todo um
conjunto de personagens, cujo carácter transborda de força. Enquanto se por um
lado temos o principal personagem, Mikael Blomkvist, claramente o alter-ego de
Stieg, por outro temos uma das personagens que mais me encantaram nos últimos
temos, nomeadamente Lisbeth Salander, jovem problemática mas de uma
inteligência acima da média.
Se no primeiro volume o livro é
particularmente centrado em Blomvist, aqui neste 2º volume, é Lisbeth que ocupa
o lugar de destaque sendo que é um destaque algo omnipresente, ou seja, se até
certa altura a sua presença é constante, a partir de certo momento ela
desaparece para dar lugar a outros personagens a mãos com um crime cuja
principal suspeita recai precisamente em Lisbeth. A partir do momento em que se
dá o crime, nasce uma perseguição a Salander que vai terminar em extrema
violência.
No entanto o trama no qual o livro se baseia
é apenas o pretexto para algo muito mais profundo que Stieg quis abordar: tráfico
de mulheres para exploração sexual e a violência sobre as mulheres. E é claro
que o autor conta a história ficcional baseado em eventos e factos verídicos
cuja realidade nós desconhecemos, mas estou certo que muitos conhecem na
Suécia. Para mim isso é claríssimo, pois há vários alturas do livro que parece
que estamos a ler uma reportagem de investigação, tal a minuciosidade de
detalhes e cujos objectivos estão bem identificados. É um pouco como quando em
Portugal se fala do Papa e do calor da noite. Todos sabemos a quem se destina,
mas e obviamente que no estrangeiro desconhecem.
Porém, confesso que gostei mais do primeiro volume.
Este volume é completamente independente, ou seja, é daquelas trilogias que
não é necessário ler-se o primeiro volume para se ler os seguintes, pois e
embora existam factos de conexão, qualquer leitor irá compreender a história e
até conseguir ligar eventos do passado, no entanto gostei mais da acção do
primeiro volume, do trama em si e até da forma como Lisbeth e Mikael foram
descritos e o que foram fazendo. Aqui neste volume, peca-se um pouco pela sua
ausência e foram dezenas de páginas sem que qualquer um deles surgisse ou,
quando o fizesse, o fizesse de uma forma algo passageira.
No entanto, gostei do livro e, uma vez mais, adorei o conjunto de
personagens criado por Stieg Larsson.
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