Aclamado
por inúmeros escritores contemporâneos, dos quais destaco António Lobo Antunes,
que efectua o prefácio da obra, onde refere ser este um dos melhores livros que
leu nos últimos anos, tendo-o lido por três vezes de seguida, “O Segredo de Joe
Gould” é uma espécie de trabalho jornalístico de Joseph Mitchell que, separado
por vinte anos, elabora dois capítulos distintos de Joe Gould: “O Professor
Gaivota” e “O Segredo de Joe Gould”, capítulos esses onde efectua uma descrição
de quem foi Joe Gould e o segredo que estava por detrás da grande obra
literária que Gould dizia estar a escrever: História Oral do Nosso Tempo, uma obra
monumental, diversas vezes maior que a Bíblia e onde se propunha escrever tudo
o que ia ouvindo na cidade de Nova Iorque.
Enquanto no primeiro capítulo
Joseph Mitchell descreve Joe Gould, um excêntrico boémio sem-abrigo, proveniente
de família rica e ele próprio estudante em Hazard, o segundo capítulo, escrito
e publicado cerca de vinte anos depois, aborda de uma forma frontal o seu
relacionamento com Joe Gould e desvenda o mistério dessa obra misteriosa e
nunca descoberta: História Oral do Nosso Tempo.
Agora a questão é: porque é que
esta obra causou um fascínio tão grande em diversos escritores?
Muito longe de ser tão erudito
como esses ilustres escritores, o certo é que gostei do livro e penso que pelas
mesmas razões, ou seja, Mitchell consegue descrever Gould como se efectivamente
estivéssemos na sua presença e sobretudo com um humor tocante que nos faz ir
dando gargalhadas à medida que avançamos na leitura do livro.
Depois ele vai descrevendo a elite
boémia da cidade, alguns deles amigos de Gould e conseguimos percepcionar como
seria a vida boémia na década de 30 e 40, em simultâneo descreve alguém que
teve dignidade, pese embora na minha óptica tivesse efectuado acções velhacas,
mas que dada a sua loucura, terá sido compreensível.
Classifico-o como de facto sendo
um clássico, por descrever a vida boémia, a cidade, num estilo preciso, muito
vivido e onde narra somente o essencial, não se perdendo em considerações que
Mitchell até poderia ter feito, mas que se recusou a tal, respeitando esse
personagem excêntrico chamado Joe Gould.
Em suma, é uma obra não ficcional,
sobre alguém que teve a coragem de viver como quis e fazer o que quis e embora
o segredo seja revelado, o certo é que ficamos tentados a pensar que a obra de
Gould existe escondida aí algures.