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sábado, 25 de agosto de 2018

Segredo de Joe Gould (O) – Joseph Mitchell


Aclamado por inúmeros escritores contemporâneos, dos quais destaco António Lobo Antunes, que efectua o prefácio da obra, onde refere ser este um dos melhores livros que leu nos últimos anos, tendo-o lido por três vezes de seguida, “O Segredo de Joe Gould” é uma espécie de trabalho jornalístico de Joseph Mitchell que, separado por vinte anos, elabora dois capítulos distintos de Joe Gould: “O Professor Gaivota” e “O Segredo de Joe Gould”, capítulos esses onde efectua uma descrição de quem foi Joe Gould e o segredo que estava por detrás da grande obra literária que Gould dizia estar a escrever: História Oral do Nosso Tempo, uma obra monumental, diversas vezes maior que a Bíblia e onde se propunha escrever tudo o que ia ouvindo na cidade de Nova Iorque.

Enquanto no primeiro capítulo Joseph Mitchell descreve Joe Gould, um excêntrico boémio sem-abrigo, proveniente de família rica e ele próprio estudante em Hazard, o segundo capítulo, escrito e publicado cerca de vinte anos depois, aborda de uma forma frontal o seu relacionamento com Joe Gould e desvenda o mistério dessa obra misteriosa e nunca descoberta: História Oral do Nosso Tempo.

Agora a questão é: porque é que esta obra causou um fascínio tão grande em diversos escritores?

Muito longe de ser tão erudito como esses ilustres escritores, o certo é que gostei do livro e penso que pelas mesmas razões, ou seja, Mitchell consegue descrever Gould como se efectivamente estivéssemos na sua presença e sobretudo com um humor tocante que nos faz ir dando gargalhadas à medida que avançamos na leitura do livro.

Depois ele vai descrevendo a elite boémia da cidade, alguns deles amigos de Gould e conseguimos percepcionar como seria a vida boémia na década de 30 e 40, em simultâneo descreve alguém que teve dignidade, pese embora na minha óptica tivesse efectuado acções velhacas, mas que dada a sua loucura, terá sido compreensível.

Classifico-o como de facto sendo um clássico, por descrever a vida boémia, a cidade, num estilo preciso, muito vivido e onde narra somente o essencial, não se perdendo em considerações que Mitchell até poderia ter feito, mas que se recusou a tal, respeitando esse personagem excêntrico chamado Joe Gould.

Em suma, é uma obra não ficcional, sobre alguém que teve a coragem de viver como quis e fazer o que quis e embora o segredo seja revelado, o certo é que ficamos tentados a pensar que a obra de Gould existe escondida aí algures.


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